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São Francisco de Assis, o santo protetor das aves e dos animais |
Por Nelson Gonçalves
Algumas orações são tão famosas e disseminadas
que mesmo quem não segue nenhuma religião sabe as palavras de cor. Assim é com
o “Pai Nosso”, talvez a oração mais conhecida de todas. Mas existe outra, que é
bastante conhecida e repetida, que começa assim: “Senhor, fazei de mim um instrumento
de vossa paz”. È uma oração conhecida praticamente pelo mundo inteiro e entoada em diversos idiomas e religiões.
É a chamada Oração de São Francisco de Assis,
um pequeno texto cheio de boas ideais. Sugere que o amor seja levado onde
houver ódio, e que a alegria seja levada onde houver tristeza. É fácil de
compreender e de gostar. Dá mesmo vontade de repetir essas palavras por aí porque é uma oração que traz, no fundo, uma profunda paz de espírito.
O que pouca gente sabe, no entanto, é que essa
oração não tem nada a ver com São Francisco de Assis. O historiador Christian
Renous pesquisou as origens do texto, e descobriu que o primeiro registro é de
1012. Foi publicado em uma revista francesa chamada La Clochette, sem assinatura
de autoria, e com o título de Oração Bonita para Fazer durante a Missa. A revista
Claudia publicou matéria da jornalista Ligia Helena abordando sobre a autoria
desconhecida dessa oração.
Em 1916 foi impressa em Roma numa folha, em que
numa parte estava a oração e no verso foi impressa uma estampa com a imagem de
São Francisco de Assis. Por essa associação e pelo fato de que o texto reflete
muito bem o pensamento franciscano essa oração começou ser propagada como se
fosse de autoria do próprio santo.
Também conhecida como “Oração pela Paz”, essas
palavras são entoadas não somente pelos fiéis da Igreja Católica, mas também
por espiritas, evangélicos de diversas denominações e até por seguidores de
Buda e outras religiões orientais. No Brasil, a partir do sincretismo
religioso, São Francisco de Assis foi incorporado pela Umbanda e Candomblé e
por isso a oração e a música também podem ser vistas sendo entoada em seus rituais.
No espiritismo, Francisco de Assis tendo sido
João Evangelista, é considerado como um dos excelsos benfeitores espirituais da
humanidade na doutrina sistematizada por Allan Kardec. Deixou psicografadas
algumas mensagens bem profundas, como a publicada na Revista Espírita de dezembro
de 1864 em sessão comemorativa ao aniversário da cidade de Paris.
A mensagem de paz e segurança ganhou força durante
a Primeira Guerra Mundial, quando em 1916 foi publicada pelo jornal “L’Osservatore
Romano”, praticamente semioficial da Santa Fé. De acordo com o historiador
Renoux, a oração foi associada a São Francisco, santo padroeiro dos animais
porque foi impressa algumas vezes junto à imagem de São Francisco.
Seja qual for a real autoria da oração, até
hoje não muito bem esclarecida, a linda mensagem do texto resiste e se mostra
cada vez mais atualizada e importante para os dias de hoje.
Tão famosa como a oração a música também
conhecida como Oração de São Francisco ou intitulada como Oração pela Paz tem
também autoria desconhecida. Sabe-se que ela foi gravada, pela primeira vez, em 1968 pelo padre
jesuíta paraguaio Casimiro Abdon Irala Arguello, mais conhecido como Padre Irala. Há
divergências entre pesquisadores sobre a nacionalidade desse padre.
A primeira, intitulada Oração de São Francisco,
foi composta em 1968 pelo padre jesuíta paraguaio Casimiro
Abdon Irala Arguello, mais conhecido como Padre Irala, SJ, e lançada
num compacto duplo em 1968 chamado Irala Canta. É a mais fiel à letra em
português e a mais popular no Brasil. O professor e ex-clérigo Leomar Brigagão
que o conheceu em Sacramento (MG) garante que o padre paraguaio era um diferencial para aquela época. “Foi com ele (padre Irala) que eu aprendi as primeiras notas e escalas musicais”, enfatiza.
Seja qual for a nacionalidade do padre Irala, o
certo é que foi ele quem gravou a canção pela primeira vez num compacto duplo,
em 1968, chamado “Irala Canta”. É a mais fiel letra em português e muito
provavelmente a melodia tenha sido realmente composta pelo padre músico. O
compacto vendeu bastante na época e tornou a música como uma das mais populares
do Brasil.
Em 1975, a oração foi regravada para o compacto
simples com o nome “Oração de São Francisco”, interpretada por Francisco Sérgio
de Oliveira. Tal gravação ganhou um novo arranjo, construído pelo maestro
Eduardo Assad, em um ritmo um pouco mais acelerado e dançante, possivelmente
para chamar a atenção do público mais jovem.
Em 1981, a cantora Vanusa fez uma versão,
gravada em seu álbum homônimo lançado no mesmo ano. A cantora Joana fez, em
2002, uma gravação desta música no álbum “Joana em Oração”.
Ao longo dos anos a música também foi gravada
por vários interpretes diferentes, desde padres como Zezinho, Fábio de Melo,
Marcelo Rossi, como cantoras e cantores famosos tais como Roberto Carlos,
Fagner, Adriana Arydes, Eliana Ribeiro, Guilherme Sá, Lulu Santos e Irmã Kelly
Patrícia, além de ter sido gravada e interpretada por diversos corais brasileiros.
Em 2013, uma versão foi gravada por Luan Santana por ocasião da JMJ 2013.
Francisco de Assis, filho de um rico
comerciante de tecidos, depois de uma juventude inquieta e mundana, voltou-se
para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos
Frades Menores, mais conhecida como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo
de seu tempo.
Decidiu abandonar toda a riqueza de sua família
e viver, sem a glória dos ricos. Indagava sempre: “Como pode haver tanta injustiça,
tanto luxo, ao lado de tanta pobreza”.
Desde o início, a Ordem Franciscana, houve o
ingresso de alguns sacerdotes já formados, que desejavam ser franciscanos, mas
não tinha como objetivo de ordenar seus seguidores como padres para as
celebrações eucarísticas. Algum tempo depois, sobretudo quando Santo Antônio, professor
de Teologia, ingressou na Ordem, passou a ensinar Teologia aos frades e alguns
deles, principalmente pela necessidade da Igreja, passaram a se ordenar
sacerdotes.
Até hoje, dentro da Ordem Franciscana, os frades convivem como irmãos, em condições de igualdade e são chamados de frei. Com o passar dos anos, a Ordem dos Frades Menores (OFM), se dividiu em outros dois ramos: os Capuchinhos (OFMCap) e os Conventuais (OFMConv).
Igreja São Francisco de Assis em Rio Preto
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Vista aérea da Igreja de São Francisco de Assis em São José do Rio Preto |
A paróquia de São Francisco de Assis, no bairro
com o mesmo nome em São José do Rio Preto, tem uma história peculiar. O padre
Márcio Tadeu, que apresenta programa na Rede Vida de Televisão, foi quem a construiu. E boa parte das obras foi bancada com
recursos da sua própria família.
Padre Márcio, que hoje cuida de uma paróquia em Votuporanga, é bastante reservado nesse
aspecto. Não gosta de vangloriar-se. Ele é uma sumidade em pessoa. Desde jovem
sempre se destacou nos estudos. Prestou vestibular para cursar Medicina numa universidade
federal. Mas logo no primeiro ano já descobriu que ser médico não seria a sua
vocação. O pai insistiu para que seguisse a sua profissão de advogado. Passou
entre os primeiros lugares para cursar Direito na famosa Faculdade do Largo de
São Francisco, em São Paulo.
A quantidade imensa de livros, principalmente
os ligados à criminalidade, o fez também desistir dessa profissão. Não queria,
no futuro defender e nem julgar bandidos. Incentivado por alguns primos da
mesma faixa etária resolveu cursar Engenharia. “Meu pai me avisou que se eu quisesse
cursar faculdade teria que estudar bastante para ingressar numa universidade
pública, porque ele não iria pagar faculdade”, afirmou, durante uma palestra em que falou um pouco sobre sua vida profissional e dos conselhos recebidos pelo pai.
Assim Márcio ingressou na faculdade de
Engenharia da Universidade Federal de São Carlos (UFScar). Se formou engenheiro
civil, estava noivo, se preparando para casar quando repentinamente a noiva o
deixou. “Eu avisei que se não casasse que eu entraria para o seminário para ser
padre”. Seis anos se passaram e após ser ordenado padre um dos primos que tinha
se formado também engenheiro, na mesma turma que ele, iria se casar na capital
paulista. E o convidou para celebrar o casamento.
Lá foi padre Márcio para celebrar um dos
primeiros casamentos dos muitos que já celebrou ao longo de sua vida
sacerdotal. Desta vez foi mais emocionante porque o noivo era primo e um amigo
de longa data. Após a celebração, durante a festa num badalado clube, o noivo e
outros primos, todos muito bem de vida, chegaram na mesa onde Márcio estava
sentado e perguntaram o que ele gostaria de ganhar de presente por ter
celebrado aquele casamento. Na hora, de prontidão, ele disse, em tom de
brincadeira: dinheiro suficiente para construir uma igreja.
O noivo e os primos disseram para o padre
Márcio escrever num guardanapo de papel, que estava sobre a mesa, o número da
conta e da agência bancária. Prometeram que iriam lhe enviar o dinheiro
necessário para construir a sonhada igreja em homenagem à São Francisco de
Assis. Padre Márcio obviamente pensou tratar-se de brincadeira dos primos. Não
acreditou que eles enviaram recursos para se construir uma igreja. Estavam
todos naquele momento bastante alcoolizados e em clima de fim de festa.
Passados alguns dias, Márcio já estava de volta
em suas atividades em São José do Rio Preto, quando recebeu uma ligação
telefônica de um dos primos de São Paulo. Perguntou se ele tinha conferido naquele
dia o saldo de sua conta bancária. Diante da reposta negativa, o primo pediu
para conferir o saldo, informando, para a surpresa do padre, como se um
milagre, o valor do montante, bastante elevado para a época. “E tem mais. Dentro
de trinta dias será depositado outra parte e daqui sessenta dias outra parte”,
informava o seu interlocutor.
Para surpresa do padre Márcio o dinheiro estava mesmo na conta bancária. E assim, ele como engenheiro, começou a traçar o projeto para a construção do Santuário de São Francisco de Assis. O traçado é totalmente diferente de uma igreja comum. O desenho, visto de cima, é uma estrela de oito pontas. Além da igreja, os recursos, completados com auxílio da comunidade, deu também para se erguer um prédio de dois andares onde são ministrados cursos desde corte e costura e informática para famílias carentes da comunidade. Um pouco mais adiante o próprio padre Márcio lançou a campanha do piso, onde cada fiel contribuía com a doação de um pedaço, em metros quadrados, para o assentamento do porcelanato.
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A construção da Igreja de São Francisco de Assis tem projeto diferenciado |
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Padre Márcio Tadeu tem programa na Rede Vida de Televisão e é autor do projeto de construção da Igreja São Francisco de Assis em São José do Rio Preto |
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