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No tempo em que se vendia balas a granel em baleiros com potes de vidro, a Ailiram se consolidou como a maior fábrica de balas da América Latina |
A Ailiram foi uma empresa alimentícia fundada na
cidade de Marília que consolidou seu nome como marca líder na produção de
balas, doces, caramelos, confeitos e biscoitos nos anos de 1970 e 1980. Ailiram é um
anagrama (nome da cidade de Marília, lido de trás para a frente). A fábrica,
que chegou a ser considerada como a maior e mais importante indústria de balas
da América Latina, foi vendida para a americana Beatrice Foods em 1981, que
seria adquirida depois pela suíça Nestlé. Em 2001 a Nestlé se desfez da
produção de balas e passou as marcas para a empresa argentina Arcor.
A Ailiram foi um nome que fez história em todo o país e até no exterior com seus produtos. Foi pioneira no Brasil ao colocar para funcionar uma máquina, trazida da Alemanha, para embalar seus produtos. A máquina era capaz de embalar entre 30 a 60 unidades por segundo, um recorde impossível de se fazer manualmente.
As balas 7 Belo, Xaxá e Pipper de Hortelã,
o drops Banda, os pirulitos Campeão, de amendoim, Madrid, de abacaxi, 7 Belo,
de morango, e os delicados drops de aniz eram produtos para o deleite das
crianças e adultos. Nas matinês das sessões de cinema das maiorias das cidades
interioranas se formavam enormes filas nas docerias para comprar as guloseimas
da Ailiram. Nessas docerias e nos bares havia o celebre baleiro com potes de
vidro, que giravam sobre uma base de metal.
História da Ailiram
A história da Ailiram começou quando Santo Barion
viajou em 1945 para visitar o amigo Francisco Potenza, o Ciccillo, em Bocaina,
na região de Jaú. Lá, ele se interessou pelo crescente mercado para as
bananas-passa que ali se produzia. Santo se tornou sócio da Fábrica de Doces
Cristal e estimulou o amigo a expandir o negócio e mudar o empreendimento à Marília para produzir volumes maiores e diversificar a linha de produtos.
Antes de se empreender no ramo de guloseimas, Santo Barion foi dono de hotel, de barbearia, tabacaria e de um bar. Com pouca conversa e muita ação, ele costumava afirmar que “é melhor fazer o bom agora do que o perfeito nunca”. Assim, com pouca conversa e muita ação, nascia a Ailiram, que marcou época no mercado brasileiro de alimentos, contribuindo para tornar a cidade de Marília reputada como a “capital brasileira da alimentação”. Com dois anos de funcionamento Santo adquiriu a parte do sócio no negócio.
Em pouco tempo novas indústrias do setor foram se instalando na cidade, como Doces São José, Pastifício Marília, Macarrões Raineri, Marilan e algumas marcas e confeitarias, até então pequenas, constituídas geralmente por ex-funcionários dessas empresas. As padarias Scombatti, Seleta e Tartaruga se especializaram na produção de tortas e doces caseiros. Não é a toa que ao chegar na cidade os visitantes sentem na atmosfera um aroma indescritível de doces e bolachas.
As primeiras instalações da Ailiram funcionaram na
rua São Luiz, 1270. Em poucos meses o local se tornou pequeno e a fábrica foi
mudada para a rua 15 de Novembro, 1043, com um depósito na rua Arco Verde, 372.
Em 1961 a empresa anunciava a aquisição de um prédio de 2.000 metros quadrados
na rua Dr. Joaquim de Abreu Sampaio Vidal, 215. Nessa época a empresa já
contava com 10 vendedores e uma frota de 12 caminhões para a entrega.
Os negócios expandiam com lançamentos de novos
produtos e aquisição de maquinários importados da Alemanha. Antes do final da
década de 1960 eram adquiridas novas áreas e dava-se início à construção dos
primeiros barracões para a instalação do parque industrial no final da avenida
Castro Alves. Um show-room instalado defronte a fábrica atraia moradores e visitantes
de diversas cidades da região, em busca dos produtos Ailiram.
Bala 7 Belo
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A marca 7 Belo foi um dos produtos patenteados pela Ailiram |
É inegável que a famosa bala 7 Belo, até hoje no
mercado, foi um dos carro-chefe dos produtos da Ailiram. Mas pouco se sabe
sobre essa bala quase septuagenária. O jornalista Marcelo Duarte,
ex-redator-chefe da “Playboy”, ex-editor das revistas “Veja S. Paulo” e
“Placar” e dono do blog “Guia dos Curiosos” (www.guiadoscuriosos.com.br) informa que escreve desde 2001 para
a assessoria da Arcor, detentora hoje da marca, pedindo para contar a história da
bala. Nunca obteve resposta.
A bala é um doce que possui vasta diversidade. Tem
bala mole, dura, com sabor de frutas, de menta, hortelã, com recheio, com
chicle, com sabor cola, de goma e tantas outras. Não há registros precisos
sobre a história das balas no Brasil. Mas sabe-se que as primeiras eram
produções bastante caseiras ou feitas em fábricas de fundo de quintal. Eram
vendidas a granel, dispostas em baleiros com potes de vidro que giravam sobre
uma base de metal.
Alguns ex-funcionários da Ailiram acreditam que a
escolha de uma carta de baralho para batizar a bala 7 Belo tenha surgido porque
Santo Barion, entre inúmeros negócios que teve, foi também sócio de um salão de
carteado que funcionava ao lado do Hotel Marília. Ele era sócio de Alcides
Fassoni, que tinha o bar e restaurante Bambu, defronte a Praça Saturnino Brito,
e que se tornou ponto de encontro de boêmios e jogadores de baralho.
Sucessão
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Negócio começou de pai para filho e hoje já se encontra na terceira e quarta gerações |
João Batista Barion, um dos três filhos de Santo
Barion, iniciou na Ailiram quando tinha 13 anos de idade. Entregava produtos a
bordo de uma bicicleta. Passou por diversos pontos e setores da empresa. Tornou-se
funcionário administrativo no banco Bradesco, onde esteve atuando próximo do
célebre fundador do banco, Amador Aguiar. Mas já tinha seu coração voltado para
a indústria criada pelo seu pai, a quem sucedeu nos negócios.
Em uma entrevista para uma revista, João Barion
afirmou que Jesus Cristo nasceu numa manjedoura e que ele “nasceu dentro de um
tacho de doce”. Depois da venda da Ailiram ele montou diversos empreendimentos,
entre eles a empresa de ônibus Circular de Marília e uma mineradora de calcário.
Com a aquisição da Dori, uma fábrica de doces, na década de 1980, deu o pontapé inicial para o principal empreendimento de sua vida. Hoje a Dori gera mais de 2000 empregos diretos, está presente em todo o território nacional e exporta seus produtos para mais de 60 países. Em 2008, o grupo que já está em sua terceira geração da família Barion adquiriu a linha Hércules de laticínios e incorporou a marca Diatt de linha diet. E também adquiriu uma linha de produtos da Danone.
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Os caminhões da Ailiram, na década de 1960, saiam carregados da fábrica em Marília. Naquele tempo podiam levar até sobrecarga extra fora da carroceira |
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A bala 7 Belo foi o "carro-chefe" dos produtos Ailiram |
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Início da construção do parque fabril na avenida Castro Alves. Repare que não existe nada construído ao redor da fábrica |
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Ampliação da área de goma no parque industrial da Ailiram em Marília |
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Anúncio da Ailiram publicado na década de 1960 no jornal "Correio de Marília" |
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Primeiro barracão construído por Santo Barion para abrigar a Ailiram |
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Os caminhões saiam em filas carregados de produtos para viajar para todo o Brasil |
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Porta de entrada da fábrica da Nestlé em Marília. Local onde por muitos anos funcionou a fábrica da Ailiram, considerada como a maior indústria de balas da América Latina |