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Reverendo Assir Pereira, ícone da Igreja Presbiteriana Independente (IPI) no Brasil |
Nascido em Ubarana, na região de São José do Rio Preto, o reverendo Assir Pereira é considerado como um dos principais ícones da Igreja Presbiteriana Independente (IPI), considerada com uma das maiores e mais tradicionais igrejas evangélicas no mundo. Atuando há 54 anos como pastor ele foi, por 12 anos consecutivos, presidente nacional da IPI. Quando ele nasceu, em 1942, num sitio nas margens do córrego do Pinto, Ubarana ainda era distrito de José Bonifácio. "Na minha certidão de nascimento consta Ubarana como meu local de nascimento", informa.
Assir presidiu, por seis
anos, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), que mantém em Barueri a maior indústria
produtora de bíblias da América Latina, e atualmente é o seu presidente de
honra. Foi presidente da FEBEM (Fundação do Bem Estar do Menor), um dos fundadores
do PSDB, vereador em São Paulo e também atuou como censor e delegado na Polícia
Federal.
Formado em Teologia pelo
Instituto José Manoel da Conceição (IJMC), graduado em Geografia pela
Universidade de São Paulo (USP), Filosofia, História, Estudos Sociais e Pedagogia,
Assir conta que já nasceu predestinado a ser pregador da Palavra de Deus. Numa
entrevista para Júlio César e Guilherme Damasceno, num canal do Youtube, Assir
contou que logo nos primeiros meses de nascimento ficou gravemente enfermo e já
estava desenganado pelos médicos, quando seus pais, que eram oriundos de
família evangélica, procuraram o pastor João Trote para que pudesse interceder
em orações pela cura do filho. “Fiquei sabendo anos depois que o pastor João Trote
passou noites em claros ao lado dos meus pais e do meu berço, fazendo orações e
clamando a Deus pela minha cura”.
“Desde criança sempre
manifestei o desejo de ser pastor”, lembra. “Meus colegas de escola até faziam
gozações de mim”. Após ler um livro biográfico contando a história de David Livingstone,
um missionário e explorador britânico que se tornou famoso por ter sido um dos
primeiros europeus a explorar o interior da África, Assir afirma que não teve
dúvidas para se matricular no curso de Teologia. “Da minha turma inicial de 14
alunos, somente três se formaram”. Como sempre gostou de estudar, simultaneamente
também cursava Geografia na USP. Vivenciou nessa época, na escola, o chamado
período de “chumbo da ditadura militar”.
Primeira pregação
Quando ainda estava no
seminário e foi lhe dado a oportunidade para fazer sua primeira pregação numa
igreja quase desistiu. Ele conta ter sido desestimulado por um pastor. “Me disse que eu não
levava jeito”. Numa segunda oportunidade vieram outras duas pessoas e disseram
a mesma coisa. “Até eu já estava achando que não levaria jeito para pregar, mas
pedi ajuda a Deus”, brinca.
Ao ser ordenado pastor foi
designado para assumir uma igreja na cidade de Oswaldo Cruz. Conciliava suas
atividades na igreja com a de professor em escolas estaduais. Um dia, quando
passava defronte da estação rodoviária, foi apartar uma briga de crianças e
ficou indignado quando soube que nenhuma delas tinham pais ou responsáveis para
tomar conta delas. “Fui até a prefeitura pedir providências ao prefeito e ele
me levou para falar com o juiz. Nos reunimos, além do prefeito e juiz, com o
promotor e com mais algumas pessoas e fui escolhido, para minha surpresa, para
o ser presidente de uma entidade para tomar conta dessas crianças, com uma
série de atividades, no contraturno escolar”.
Nesse tempo ainda era
solteiro e numa pregação na cidade de Marília conheceu a Dayse, filha do contador
Josino, regente do coral da igreja, que viria a ser sua esposa e mãe dos seus filhos. Dayse
é irmã de Neusa, que é casada com o contador Daniel Gonçalves Neto, bancário bastante conhecido que atua como diretor do Clube Banespinha em Marília. Assir disse que só fez um
pedido para a futura esposa: que antes de amá-lo que amasse primeiro a Igreja a
qual iriam servir pela vida toda. Durante os 10 anos em que permaneceu em
Oswaldo Cruz também foi professor de Antropologia e Cultura Brasileira na
Universidade de Adamantina.
Convite para ser prefeito
Em Oswaldo Cruz, no final
dos anos de 1970, recebeu uma romaria de políticos em sua casa para que fosse
candidato único a prefeito. “Veio o pessoal da Arena, do MDB, o prefeito, vereadores,
enfim se uniu situação e oposição, e até o padre da cidade, que era muito meu
amigo, todos pedindo para eu ser o candidato único a prefeito. Mas eu não
aceitei. Disse que não era essa a minha missão”.
Com o propósito de melhorar seus
rendimentos financeiros, tinha decidido que iria prestar o primeiro concurso
público que surgisse. “Comprei um exemplar do jornal ‘Estadão’ e lá tinha
anúncio de um concurso para ser censor na Polícia Federal”. Lembra. “Eu nem
sabia direito o que fazia essa função, mas exigiam que tivesse curso superior
nas áreas de História, Geografia, Filosofia ou Estudos Sociais. E eu tinha
formação nessas quatro áreas. As inscrições encerrariam no dia seguinte e tinha
que ser feita em São Paulo. Corri para a rodoviária e, por sorte, só tinha uma única
passagem e rumei para lá”.
Ao chegar no local da
inscrição, Assir ficou sabendo que o concurso não aceitava inscrições acima dos
36 anos. “Para minha sorte eu ainda tinha 35 anos e somente iria completar os
36 anos no dia seguinte. Passei em primeiro lugar para uma das três vagas
oferecidas. Esse mérito não era porque eu era suprassumo de inteligência, mas
se deve ao fato de lecionarmos todas aquelas matérias e, por isso, tínhamos obrigação
de saber. E assim iniciei meu trabalho no Departamento de Censura que em 1988 foi extinto
e nós, por termos curso superior, fomos alocados como delegado na Polícia
Federal. Tanto é que me aposentei como corregedor da Polícia Federal”. Assir conta que nunca gostou dessa palavra "censura" e que preferia denominar seu trabalho como "classificador" de idades para exibição de filmes e novelas.
Assir conta que somente
anos depois de ter se aposentado na PF é que veio entender o porquê foi trabalhar
nesse local. “Logo que assumi fui designado para ser o capelão e assim fiz ali
muitas orações para os colegas. Muitos deles, para nossa alegria, se converteram
a passaram a frequentar as igrejas”.
Ingresso na política
A ideia de ingressar na
política, Assir Pereira conta que surgiu durante uma viagem de 28 dias que fez
para a Europa em companhia da esposa e do casal de amigos, Ivani e José Carlos
Vaz de Lima, de São José do Rio Preto. Na época Assir era o presidente da IPI no Brasil e viajara à
Europa a convite da IPI na Ilha da Madeira, em Portugal, que comemorava os seus
150 anos de fundação naquele país. Vaz de Lima era presidrnte do Sindicato dos Agentes Fiscais no Estado de São Paulo. “Foi uma viagem muito proveitosa em todos os
sentidos. Passamos antes por Toronto, no Canadá, e depois visitamos cidades em
10 países diferentes”, lembra. “E durante a viagem o José Carlos Vaz de Lima
nos convenceu de que era preciso nós da Igreja também ingressarmos na política
para estarmos mais perto do poder de decisões”.
Assir e Vaz de Lima foram
uns dos fundadores do PSDB na capital paulista. “Minha ficha de filiação foi
abandonada pelo José Serra e endossada pelo Mário Covas”, ressalta. Assir e Vaz fizeram uma dobradinha política, sendo o primeiro candidato a deputado federal e o outro como estadual. “Na
primeira tentativa faltaram 200 votos para sermos eleitos como deputado
federal. Fiquei como primeiro suplente do partido. E fomos convidados para presidir
a Febem”.
Assir foi eleito vereador
pelo PSDB na Câmara de São Paulo, na legislatura 1996-2000. Era oposição ao
então prefeito Celso Pitta, segundo negro a governar a cidade. O primeiro foi o
advogado Paulo Lauro, que ocupou o cargo entre 1947 e 1948. Apadrinhado
político de Paulo Maluf, com quem depois romperia, Pitta foi eleito no segundo
turno ao derrotar Luiza Erundina, do PT. “O Pitta tinha tudo para ser um bom
prefeito”, lamenta. O mandato de Pitta foi marcado por corrupção, tendo
estourado denuncias relatadas principalmente por sua ex-esposa Nicéia Pitta. “Naquele
tempo foi muito difícil para nós porque tínhamos gente que vendia a mãe e a alma
para estar no poder. É um jogo político muito sujo, muito nojento. Também tive
ofertas, mas sempre as recusei. É muito triste ver essa política do
toma-lá-dá-cá. E os políticos de hoje não servem mais ao país e sim servem-se
dele o mais que podem sugar”.
Futuro da igreja
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Reverendo Assir durante entrevista para Júlio César e Guilherme Damasceno para o canal do Youtube |
Durante a conversa de
quase duas horas com os entrevistadores Júlio César e Guilherme Damasceno,
Assir Pereira não se absteve e nem deixou de falar de nenhum assunto ao qual
lhe fora perguntado. Indagado qual seria o futuro da Igreja, ele afirmou que
sempre se preocupou com a descontinuidade dos projetos. “Sou contra o continuísmo”,
frisou. “Acho que tem sempre que haver renovação de lideranças, mas não podemos
parar projetos que estão indo bem. Tem minhas posições muito claras e
definidas, mas nunca parti para o radicalismo, para o extremismo. Não é verdadeiro
que tudo que está para a esquerda não presta ou que tudo que está para a
direita não presta. É que preciso que tenhamos o meio termo. Polarização não é
boa. Tenho me policiado para não chamar a igreja de ‘minha igreja’, pois a
igreja não é minha, ela é de Jesus”.
“Já vivi em todos meus
anos de pastoreio altos e baixos na igreja”, afirma. “Sempre respeitamos e
oramos por todas as correntes da igreja. Existe uma diversidade na IPI, mas ela
é uma igreja conservadora. Quando fui presidente viajei e visitei 90% das IPIs.
A gente vê de tudo em nossas igrejas. Cheguei em algumas que pensei que tivesse entrado em igreja errada (risos...) O que falta para nós é identificarmos as
cores que estão fora do mosaico. Se for necessário podemos até extirpa-la. Em nossas igreja há
muito mais semelhanças do que diferenças. E essas diferenças é o que, as vezes,
nos distanciam uns dos outros”.
Assir recebeu o título de Cidadão Benemérito das cidades de Oswaldo Ctuz, Adamantina e Buritama, além do título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo. Foi, por mais de uma vez, homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Em Acaraju, durante as comemorações dos 135 anos da chegada da igreja evangélica no Sergipe, também foi agraciado com o título de Cidadão Acarajuano.
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Assir Pereira com André Mendonça, quando era ministro da Justiça, e o reverendo Erní Walter Seibert, durante visita na Sociedade Bíblica do Brasil (SSB) |
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Reverendo Assir Pereira recebe homenagem na Assembléia Legislativa de São Paulo |
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Reverendo Assir Pereira quando recebia o título de Cidadão Paulistano |
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Gilberto Nascimento, Vaz de Lima e Assir, durante homenagem à SBB na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) |