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O Brasil e o mundo devem muito à Albert Sabin, que descobriu a vacina da gotinha

Dr. Albert Sabin, considerado como o "pai da vaciina da gotinha" no Brasil

 
Nelson Gonçalves

Quando criança, o médico e professor universitário Moacir Alves Borges, 75 anos, foi uma das vítimas da poliomielite. Sua família morava, nos anos de 1950, em Américo de Campos, pequena cidade do interior paulista na região de São José do Rio Preto. E naquele tempo ainda não haviam descoberto as vacinas contra a doença, quando 58 mil casos foram relatados. Mais de 21 mil crianças ficaram com paralisia leve e mais de 3.000 morreram.

Nessa época, a doença gerava grande medo pelas graves consequências causadas. Paralisava pernas e braços e era muito comum encontrar nas famílias numerosas pelo menos uma criança se arrastando pelo chão porque não conseguia andar.

Com o aumento do número de surtos da pólio crescendo, as famílias viviam assustadas com a doença. Uma vacina desenvolvida por Jonas Salk (1914-1995), testada e liberada para uso em 1955, em Pittsburgh, era eficaz na prevenção da maioria das complicações da pólio, mas não prevenia a infecção inicial. A pólio se multiplica no intestino, invade o sistema nervoso e causa deformações no corpo, podendo levar à morte.

O médico e cientista polonês Albert Bruce Sabin (1906-1993), que morou no Brasil e casou-se com uma brasileira, iniciou na Fundação Oswaldo Cruz os estudos para o desenvolvimento da vacina oral para poliomielite, conhecida como “gotinha”. Ele acreditava tanto em sua descoberta que primeiro testou nele mesmo e depois aplicou a vacina em suas próprias filhas. 

A vacina contra a pólio desenvolvida por Sabin precisava de grandes testes clínicos para atestar a sua eficácia e segurança. No entanto ficou praticamente impossível realizar amplos testes clínicos no Brasil e nos Estados Unidos após o sucesso atingido pela vacina de Jonas Salk. Ele sofreu resistências. Mas não desanimou. No começo dos anos 1960 conseguiu apoio do recém empossado governo revolucionário de Cuba. Por ser uma ilha e um país de dimensões pequenas em um único dia, num domingo, foram vacinadas todas as crianças cubanas.

E aí, pelo fato de a vacina ter sido testada num país do regime comunista, as resistências contra a vacina aumentaram ainda mais no Brasil, que adentrava ao regime da ditadura militar. “Se não fosse o Rotary e os rotarianos bancar e também saírem nas ruas e nas estradas para aplicar a vacina da gotinha não haveria a imunização das crianças”, afirma Luís Claudio Macierinha, rotariano que realizou intensa pesquisa sobre o papel do Rotary na produção de vacinas e desenvolvimento de campanhas para combater a pólio. 

Albert Sabin se casou em 1972 com a brasileira Heloisa Dunshee de Abranches. Sabin renunciou aos direitos de patente da vacina que criou. Doou para a Fundação Rotária Internacional, facilitando a difusão da vacina e permitindo que crianças no mundo inteiro fossem imunizadas contra a poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil. 

Doenças erradicadas 

Segundo o Rotary, durante um período de mais de 34 anos não se registrou nenhum caso da vacina no Brasil. No entanto em razão das fakes News propagadas pelos negacionistas das vacinas, algumas doenças, como a poliomielite, a rubéola, o tétano e a varíola voltaram a preocupar as autoridades sanitárias. Doenças que já tinham sido erradicadas voltaram a assustar a população, dado as baixas taxas de coberturas vacinais.

Não é à toa que no Brasil existem centenas de escolas, hospitais, clínicas e instituições voltadas para crianças que levam o nome de Albert Sabin. O cientista recebeu do governo brasileiro, em 1967, a medalha Grão-Cruz do Mérito Nacional.  

Naturalizado norte-americano Albert Sabin faleceu de ataque cardíaco, aos 86 anos, em sua casa em Washington, em 1993. No mesmo ano, foi fundado naquela cidade o Instituto Sabin de Vacinas, a fim de dar prosseguimento às pesquisas sobre vacinas e perpetuar o legado construído por ele. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Nacional de Arlington, na Virginia nos Estados Unidos.

Exemplo de superação

O médico Carlos Alberto Seixas, o Doutor Beto Seixas, como é mais conhecido pelos pacientes e amigos, é exemplo de superação e de sucesso de vida após a poliomielite. Em 1952 quando tinha um ano e meio de idade foi acometido por um surto da doença. “Não havia vacinas e meus pais me levaram para fazer tratamento em São Paulo”, lembra. “Dormi em estado febril e acordei sem movimentos. Fui levado, de trem, no colo da minha mãe para São Paulo. Devia estar cuspindo vírus.  Fiquei vários meses internado em isolamento no Hospital das Clínicas em São Paulo”.

Os anos se passaram e Beto cursava Medicina na USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto quando se deparou com um caso de poliomielite numa criança. “Estava de plantão no Hospital Pediátrico Santa Lídia e os meus colegas de faculdade tiveram de me segurar para eu não dar um soco no pai daquela criança, que tendo todos os recursos disponíveis não levou aquela criança para ser vacinada contra a pólio”, lembra.

Para o Doutor Beto, que foi presidente da Unimed, um dos fundadores do Sindicato dos Médicos e integrante da diretoria da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São José do Rio Preto, o negacionismo contra as vacinas é um problema mundial que em pleno século 21 não deveria nem existir. “Na minha opinião os pais não poderiam ter a opção de não vacinar seus filhos”, analisa. “Tinha que ser obrigatória a vacinação e ponto final”.

Os médicos Dr. Moacir Alves Borges e Dr.Beto Seixas, vítimas da falta de vacina e exemplos de superação na vida, são ferrenhos defensores da vacinação em crianças

Alebrt Sabin aplica a vacina da gotinha em uma criança

Para provar que a vacina era boa, o próprio Sabin tomou ela

Sabin doou a patente da sua vacina para o Rotary Internacional


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