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Livros e educação, antídotos contra a violência

 


*Beth Sahão

 

Duas datas próximas se unem em um convite à reflexão neste momento em que a violência escancara uma de suas piores faces, aquela que envolve crianças. O Dia do Desarmamento Infantil, neste 15 de abril, embora tenha como premissa o afastamento dos menores de armas de brinquedo, permite que reflitamos sobre o ponto a que chegamos hoje, em que o risco real não são mais simulacros, mas armas reais que chegam com facilidade cada vez maior às mãos de crianças e adolescentes.

Um fenômeno alarmante, produzido por um tipo de violência extrema que saltou os muros dos ambientes escolares e que está intrinsecamente ligado à radicalização de jovens, conectados por redes de incitação ao ódio e à violência alimentados essencialmente por movimentos da extrema direita.

Não há dúvida de que esta combinação de acesso facilitado a armas e o poder de atratividade gerado pelo universo digital, recheado de conteúdo com todo espectro de sordidez – massacres, apologia ao nazismo, discursos impregnados de ódio e de preconceito, misoginia, etc. – forma um campo minado que não raro coopta os mais jovens.

Algo que ficou muito patente após ataque promovido por um aluno de 13 anos em uma escola da capital paulista, mês passado, que invadiu o próprio lugar onde estudava, matou uma professora e feriu outras três.

Evidente que a criança não é o causador desta violência, mas um joguete nas mãos de quem, às custas de sustentar sua tese de poder e de supremacia amparada na força e no domínio do outro, dissemina seu discurso pela internet, como se ali coubessem estados paralelos ao arrepio da lei.

E essa violência se espraia, em um fenômeno coletivo quase irrefreável contaminado pelas fake news. E daí, entre o fake e o fato, sobra o pânico entre pais atônitos sem saber como lidar com esta onda inominável de violência.

E o poder público também se vê envolto pelo desafio de como lidar com esse tipo de situação absolutamente insólita. Há municípios que estão colocando vigilância nas escolas, investindo em monitoramento e até detectores de metal. Mas tudo muito movido pela tensão produzida pelo momento. É necessário coordenação, planejamento, políticas efetivais que não precarizem a educação como ocorreu até o governo anterior.

Como enfatizou o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, após o ataque que vitimou quatro pequenos em uma creche de Blumenau-SC, é preciso que se busquem soluções urgentes. Ou, como disse ele, “vamos esperar chegar em 300 ataques por ano em escolas? Com essa gente cultuando armas? Com essa gente querendo dar golpe de Estado no Brasil? Querendo mais é que as pessoas morram de fome?"

A realidade clama por ações imediatas, pois este é um tema que diz respeito a todos, a partir do entendimento de que educação não é só questão da escola, mas da família e de toda sociedade.

E daí entra em cena a outra data fundamental nesta reflexão. Neste dia 18 de abril comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil. E aí está um dos caminhos a se trilhar. Educação, cultura, incentivo massivo à leitura. Um país que foca em livros e em conhecimento é um país naturalmente livre e desarmado.

Por mais, e muito mais livros. E por menos, muito menos armas. Eu, enquanto parlamentar atuante na defesa dos direitos humanos, me colocarei sempre em defesa da vida. Pois precisamos é de futuro. Precisamos de esperança. Precisamos de paz.


 * Beth Sahão é Deputada Estadual (PT)

Deputada estadual Beth Sahão


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