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Rota do Cacau chega em Mendonça para desenvolvimento regional

 

Cacau pode se tornar atração turística no bairro da Airuoca

Está marcado para o dia 18 de março o lançamento da Rota do Cacau no bairro da Airuoca, em Mendonça. Está previsto uma solenidade, às 9 horas, defronte a capela de São Sebastião, cuja obra data de 1931.

De acordo com o coordenador da Casa da Agricultura de Mendonça, Nilson Junior, a ideia surgiu e coincidiu com o trabalho que já vem sendo realizado na região pela Divisão Regional da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento. Serão plantadas mudas de cacau em 40 propriedades agrícolas na beira da estrada do bairro rural da Airuoca. São 15 quilômetros de estrada asfaltada, entre os municípios de Mendonça e Adolfo. O bairro, cuja fundação é mais antiga do que a dois municípios e por si só já é uma atração turística para a região.

Projeto turístico

Mudas de cacau serão plantadas em propriedades ao longo da estrada da Aiuroca


A proposta do plantio do cacau no bairro da Airuoca faz parte de um projeto turístico desenvolvido pela Prefeitura de Mendonça para o local. Um lugar bucólico, com muitas áreas rurais que não foram tomadas pela cana-de-açúcar, tornando o passeio pela estrada da Airuoca mais precioso para quem quer aproveitar o turismo rural e conhecer a vida no campo. Esse é o cenário idealizado para a rota do cacau, fruto que origina uma guloseima muito apreciada no mundo inteiro: o chocolate.

As primeiras barras de chocolate, produzidas com cacau originário da região, já foram produzidas, a título experimental, na cozinha industrial montada na Casa da Agricultura de Mendonça. O trajeto turístico faz parte de um projeto que vem sendo desenvolvido para a produção de cacau na região de São José do Rio Preto.

“Teremos 40 pontos da rota com o plantio do cacau para que o turista conheça a árvore que produz a amêndoa do chocolate”, informa o agrônomo Fioravante Stucchi Neto, da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.

Escolha estratégica

A escolha do local foi estratégica por aliar os turistas que visitam as prainhas de Mendonça e Adolfo. A bancária aposentada Magna Rossi e Ivani Bonfanti, participantes de um grupo que reúne 15 mulheres empreendedoras no bairro da Airuoca, estão superanimadas com o projeto. “A ideia é proporcionar geração de renda aos produtores, que poderão também oferecer queijos, pães caseiros e outros produtos artesanais feitos por elas para comercializar aos turistas”, prevê Magna.

Para o prefeito de Mendonça, Juliano Oliveira (PSDB), a Rota do Cacau vai proporcionar um novo alento aos moradores do bairro da Auiruoca, além de atrair mais visitantes para o município de Mendonça. O plantio, segundo o prefeito, deverá se expandir depois para outros cantos do município.

Além de impulsionar o plantio de cacau na região, as parcerias entre órgãos públicos e privados que fazem parte do projeto enxergam várias oportunidades de negócios. Uma série de equipamentos já foram comprados para a montagem de uma cozinha piloto na Casa da Agricultura de Mendonça, onde será produzido o chocolate.

Parceria formada entre a Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, e a Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp) já possibilitou o plantio do cacau em várias propriedades da região. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento trabalha para viabilizar as técnicas do cultivo do cacau para colocar São Paulo como um importante produtor de cacau em nível nacional.

Cacau pode ser aliado a outras culturas

A região de São José do Rio Preto já é conhecida por ser a maior produtora de borracha natural há décadas. São mais de 132.000 hectares cultivados em cerca de 1.900 das 7.200 propriedades agrícolas da região. Essa condição, segundo os técnicos do setor, além das questões climáticas favoráveis, oferece grande potencial para o plantio integrado entre a seringueira e o cacau.

A rentabilidade da seringueira começa a partir do sétimo ano. E com o cacau é possível colher a fruta a partir do terceiro ano de plantio. Outra opção seria também introduzir o plantio da banana, junto com o cacau. A banana pode ser colhida a partir de um ano e meio.


Cacau é originário da região amazônica

É da amêndoa do cacau que se produz o chocolate, produto apreciado no mundo inteiro


 Diferentemente do que se imagina, o cacau teve sua origem na região amazônica e não no Nordeste brasileiro. Pesquisas realizadas por vários arqueólogos franceses constatou que a cultura do cacau já era desenvolvida há mais de 5 mil anos no sudeste do Equador. A Venezuela também foi um dos primeiros países a introduzir o cultivo cacueiro. Quando Cristovão Colombo desembarcou na Venezuela encontrou, entre os índios, uma canoa com amêndoas do cacau.

O cacau chegou na Bahia por volta de 1752 quando foram plantadas as primeiras sementes em Ilhéus, cidade que se tornou a maior produtora brasileira. As plantas se aclimataram bem à região. E o cacau, nas primeiras décadas do século 20, era o principal produto de exportação da Bahia. O Brasil já foi o maior exportador de cacau do mundo, ocupando hoje a sexta posição, perdendo para alguns países da África.

A produção de cacau deu um grande salto para a economia no sul da Bahia. A riqueza auferida pelos grandes fazendeiros magnatas, conhecidos como os coronéis “reis do cacau”, povoou o imaginário popular durante décadas, inspirou livros, filmes e novelas. Jorge Amado escreveu diversas obras em torno do tema. Muitas vezes denunciando a violência das disputas por terras de plantio e poder político na região, tais obras marcaram a literatura e indústria cultural brasileira.

A suntuosidade gerada pelo cacau pode ser verificada com um passeio a pé pelo centro velho de Ilhéus. Bem defronte a igreja matriz de São Sebastião está o famoso Bar Vesúvio, fundado em 1915 por dois italianos. Ficou bastante conhecido por fazer parte da obra “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado.

Magnatas do cacau

Bar do Vesúvio e a Igreja de São Sebastião em Ilhéus, na Bahia


Contam os antigos que os magnatas do cacau eram muitos poderosos. E foram eles que mandaram construir um túnel secreto, que existe até hoje e pode ser visitado pelos turistas, que liga o Vesúvio ao Bataclan, famoso cabaré que apresentava shows de tango e cancã com bailarinas francesas e argentinas e ainda era um lugar par encontros amorosos às escondidas.

Os “coronéis” do cacau, todos com famílias numerosas constituídas, não podiam ser vistos entrando no cabaré. Dizem que eles deixavam as mulheres para assistir as missas na igreja e que chegavam a pagar o padre para prolongar a rezaria por longas horas, justificando que estariam tomando chope no Vesúvio. Na verdade, assim as esposas entravam na igreja eles ingressavam no túnel secreto que desembocava no Bataclan.

Contam ainda que a grana era tão farta, devido à riqueza do cacau, que os coronéis, rodeados de mulheres, acendiam charutos com notas de 500 réis.

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Fachada do cabaré Bataclan, por onde os coronéis ficavam constrangidos para entrar. Por isso eles mandaram construir uma passagem secreta e subterrânea ligando o cabaré com o Bar Vesúvio

O cacau que trouxe riqueza e desenvolvimento para Ilhéus, sob as bençãos do padroeiro de São Sebastião, poderá levar desenvolvimento para o bairro rural da Airuoca, que coincidentemente tem o mês santo como padroeiro da vila


Estátua do Jorge Amado, em tamanho real, descansa numa mesa defronte ao Bar Vesúvio. A menos de 100 metros dali ficava a casa onde ele morava, transformada hoje em museu


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https://www.folha2.com.br/2022/12/bairro-da-airuoca-e-mais-antigo-do-que.html



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