Folha2

Com as bençãos de São Sebastião é inaugurada a Rota do Cacau em Mendonça

Prefeito Juliano Oliveira com um exemplar do cacau em mãos ao lado da imagem de São Sebastião, padroeiro de Ilhés (BA), cidade considerada na Bahia como a capital do cacau

 

Nelson Gonçalves

Ao lado da capela de São Sebastião, localizada no meio da estrada rural do bairro da Airuoca, que liga as cidades de Mendonça e Adolfo, foram plantadas, no último sábado, as primeiras mudas de cacau para o Projeto Rota do Cacau. São Sebastião, o santo padroeiro contra a fome e a guerra, é o mesmo cuja imagem viu serem plantadas em 1752 as primeiras sementes de cacau na cidade baiana de Ilhéus, no sul da Bahia.

O termo cacau deriva da palavra cacahualt no idioma falado pela civilização maia. “O termo científico dessa fruta é Theobroma, que significa alimento dos deuses (Theo = Deus; Broma = Alimento)”, lembrou o engenheiro agrônomo Ricardo Domingos Pereira, diretor regional da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, enquanto observava o prefeito de Mendonça, Juliano Oliveira (PSDB), plantar um dos pés de cacau ao lado da capela de São Sebastião.

As plantações na Bahia se aclimataram bem à região. Foram se disseminando pelas fazendas na medida que aumentava o consumo de chocolate na Europa e Estados Unidos. Durante mais de 100 anos o cacau foi o principal produto de exportação da Bahia, colocando o Brasil como principal produtor mundial, com exportação de mais de 320 mil toneladas ao ano. Hoje ocupa a sexta posição, atrás de países africanos.

O prefeito de Mendonça,  Juliano Oliveira, com as bençãos de São Sebastião, espera repetir na região o sucesso do cacau no sul da Bahia. A saga do cacau faz parte da história econômica e cultural brasileira. Inspirou Jorge Amado a escrever a obra “Gabriela, Cravo e Canela”, exibida em livros, filmes e novelas pelo mundo inteiro em diversos idiomas. "Se Deus quiser e São Sebastião ajudar, Mendonça também ficará famosa com as plantações de cacau".

Chocolate na merenda 

André Seixas, diretor de agronegócios da ACIRP (Associação Comercial e Industrial de Rio Preto), lembrou que sua entidade é parceira nesse projeto porque uma das suas missões é ajudar a desenvolver negócios e oportunidades para a região. “O prefeito de Mendonça vai conseguir colocar chocolate na merenda escolar das crianças”, destacou.

O diretor regional da CATI afirmou que esse projeto vai servir de exemplo para todo o Estado e que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já demonstrou interesse ao secretário estadual de Agricultura, Antônio Junqueira, de vir conhecer a plantação de cacau e o chocolate que será produzido em Mendonça. “Vivemos um momento histórico e importante”, acrescentou.

O engenheiro agrônomo Fioravante Stucchi Neto, da CATI de Rio Preto, informou que desde 2014 técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura estudam e trabalham com plantações experimentais para o desenvolvimento do cacau na região, para poder dar assistência aos produtores. O plantio do cacau na região será feito por meio do consórcio das culturas com seringueira e banana. “A região de Rio Preto já é a maior produtora de borracha natural do Brasil”, observa, acrescentando que também poderá gerar riquezas com a produção do cacau. “São Paulo é o estado que possui o maior número de fábricas de chocolate artesanal”.

Neto revelou que já existem plantações de cacau em propriedades de Adolfo, Nova Granada, Tabapuã, Alvares Florence e Monte Aprazível. Ao longo da bucólica estrada de 15 quilômetros, que liga Mendonça à Adolfo, existem 90 pequenas propriedades agrícolas. E pelo menos 40 produtores já manifestaram interesse na plantação de cacau. Ao longo da estrada a prefeitura de Mendonça estará plantando mudas, para servir como atração turística para a Rota do Cacau.

Cozinha experimental

Na Casa da Agricultura de Mendonça já está em funcionamento uma cozinha industrial para ministração de cursos aos interessados na fabricação de chocolate. As primeiras barras de chocolate, com cacau produzido em propriedades agrícolas da região, foram produzidas em Mendonça pelo chocolatier Du Barbosa, experiente chefe de cozinha com trabalhos nos restaurantes de São Paulo, Florianópolis, Fernando de Noronha e em Portugal. 

Cooperativa do Cacau

A plantação de cacau e produção de chocolate despertou o interesse dos moradores do bairro da Airuoca. Cerca de 20 mulheres se reuniram para formar uma cooperativa voltada para o desenvolvimento de produtos artesanais, naturais e derivados de cacau. O principal produto do cacaueiro é a semente, da qual podem se produzir, além do chocolate, manteiga, massas, sabonetes, perfumes, licores, sucos, geleias e até cachaça. Há também estudos para o aproveitamento das folhas e da polpa para produção de sucos, farinha e produtos artesanais.

.

Primeiras mudas foram plantadas ao lado da capela de São Sebastião, na Airuoca

O agrônomo Ricardo Domingos, André Seixas, prefeito Juliano, Arlindo Cardoso, Neto e mulheres do bairro da Airuoca, durante o plantio das mudas de cacau

Prefeito Juliano pede ajuda da esposa e do filho Arthur para ajudar no plantio

Prefeito Juliano coloca literalmente as mãos na terra para plantar muda de cacau

O chef chocolatier Du Barbosa concede entrevista para a Imprensa


O cacau em diversas formas ficaram expostas para quem quisesse conhecer

São as sementes do cacau que produzem o chocolate

Pequenas barras de chocolate, produzidas em Mendonça com o cacau da fazenda de Paulo Sader, foram distribuídas ao público presente no plantio das mudas no bairro da Airuoca

Jucely Aldino Correia, a Jô da Airuoca, confecciona peças de artesanato

Celeste Oliveira Jones, moradora da Airuoca, produz pães, roscas e abobrinha com pimenta

Essa outra moradora da Airuoca tem como especialidade a produção de geleias e pimentas caseiras

Mulheres empreendedoras do bairro Airuoca se organizam para montar a cooperativa do cacau

Com visão empreendedora, as mulheres do bairro Airuoca já pensam nos resultados que a Rota do Cacau proporcionará ao turismo local e se prepararam para fundar uma cooperativa 

Grupo de ciclistas que já pedalam semanalmente pela Rota do Cacau, entre Mendonça e Adolfo

Mulheres empreendedoras de Airuoca se juntaram para formar cooperativa

Prefeito Juliano anuncia a intenção de implementar a distribuição de chocolate na merenda escolar

Vereadores de Mendonça e de José Bonifácio participaram da solenidade de lançamento da Rota

Vereador de José Bonifácio, Cássio Gallo, se fez presente no lançamento da Rota do Cacau

Presidente da Câmara, Rafael Farinazzo, prefeito Juliano, o diretor da CATI Ricardo Domingos e o diretor de agronegócios da ACIRP, André Seixas, durante a cerimônia

Diversos produtores e proprietários agrícolas da região assistiram palestra sobre o cacau

Durante a palestra muitos produtores manifestaram interesse no plantio do cacau

André Seixas, diretor de agronegócios da ACIRP, prefeito Juliano Oliveira e o diretor regional da CATI, Ricardo Domingos, no lançamento da Rota do Cacau em Mendonça

André Seixas, a vereadora Regiane Vieira (vice-presidente da Câmara), prefeito Juliano Oliveira e o diretor regional da CATI, Ricardo Domingos, no lançamento da Rota do Cacau em Mendonça

Prefeito Juliano e o vereador Cássio Gallo, de José Bonifácio, confiantes no sucesso e desenvolvimento que a Rota do Cacau trará para toda a região

O gerente comercial da Folha2, Toninho Gonçalves, foi conhecer de perto o cacau e a nova rota do turismo da região Noroeste paulista

Prefeito Juliano afirma que se São Sebastião deu sorte para Ilhéus se tornar a maior produtora de cacau do Brasil, vai dar sorte para Mendonça se tornar a maior produtora. O santo é o mesmo!

Presidente da Câmara, Rafael Farinazzo, que atuou como mestre de cerimônia na cerimônia do lançamento da Rota do Cacau, também confia na proteção de São Sebastião para o sucesso do cacau na região


Alguns dos participantes da cerimônia. Ao centro o prefeito Juliano, Marta Solange da Acirp (camisa verde), no canto esquerdo o ex-prefeito João Buzzo e o ex-vereador José Pedro e a jornalista Thaís Rizzato que representou o deputado e ex-secretário da Agricultura Itamar Borges

Cacau produzido em Mendonça foi encaminhado para autoridades governamentais em São Paulo

O chef de cozinha Du Barbosa e o empresário Paulo Sader, dono da fazenda de onde saíram produzidos os primeiros cacaus na região Noroeste paulista


Um forno com temperatura elevada, chamado de melange, é quem tritura as sementes para a produção do chocolate. Todo esse processo demoram três dias



Reis do cacau construíram túnel secreto e acendiam charuto com notas de 500 !

.

O chocolate é uma iguaria apreciada em todos os lugares do mundo. É produzido com a fermentação das sementes do cacau, fruta nativa da região amazônica e que já foi um dos principais produtos de exportações do Brasil, tornando a centenária cidade de Ilhéus, na Bahia, conhecida por ser a maior produtora.

Ao contrário de algumas outras frutas, o cacau nasce diretamente do tronco da árvore. A cultura do cacau já era desenvolvida há mais de 5 mil anos no sudeste do Equador, descobriram as pesquisas realizadas recentemente por arqueólogos franceses. Quando Cristovão Colombo desembarcou na Venezuela, em 6 de agosto de 1498, encontrou, entre os índios, uma canoa com amêndoas de cacau, o que comprova o seu cultivo.

A plantação do cacau proporcionou um grande salto para a economia no sul da Bahia. A riqueza auferida pelos grandes fazendeiros magnatas, conhecidos como os coronéis “reis do cacau”, povoou o imaginário popular durante décadas, inspirou livros, filmes e novelas. Jorge Amado escreveu diversas obras em torno do tema. Muitas vezes denunciando a violência das disputas por terras de plantio e poder político.

A suntuosidade gerada pelo cacau pode ser verificada com um passeio a pé pelo centro velho de Ilhéus. Bem defronte a igreja matriz de São Sebastião está o famoso Vesúvio, bar fundado em 1915 por dois italianos. Dois quarteirões abaixo fica o Bataclan, cabaré, cassino e casa de prostituição de luxo. Ficaram bastante conhecidos por fazer parte da obra “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado. 

Túnel secreto
Contam os antigos moradores que os magnatas do cacau eram tão poderosos que, no século 18, mandaram construir um túnel secreto ligando o Vesúvio com o Bataclan. Os “coronéis”, todos fazendeiros e políticos bem sucedidos, com famílias numerosas, não poderiam jamais serem vistos entrando numa casa de prostituição. Acabaria naquele tempo com a reputação de qualquer um. 

Charuto aceso com notas de 500!
Diz a lenda que os barões do cacau deixavam suas esposas nas missas, pagando obviamente para o padre alongar a duração das missas por quatro ou cinco horas. Justificavam que estariam tomando chope no Vesúvio. Mas quando as esposas viravam as costas, eles corriam para o túnel secreto e, em poucos minutos, estavam dentro do cabaré, sem que ninguém os vissem entrando pela porta da frente.

Contam ainda os antigos que nesses tempos o dinheiro era tão farto entre esses magnatas, devido à riqueza proporcionada pelo cacau, que os coronéis, rodeados por belas mulheres, acendiam charutos com notas de 500 réis.

.
A extravagância era tanta que os "reis do cacau" acendiam charutos com notas de dólares

Fachada do Bar Vesúvio, em Ilhéus, com a estátua de Jorge Amado na frente

Fachada do cabaré Bataclan, onde os líderes políticos da época não entravam pela porta da frente. Eles tinha entrada própria pelo subsolo



Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

vários

Folha2
Folha2