“Antônio Aguillar é um grande amigo e faz parte da minha história”. A frase foi dita pelo “rei” Roberto Carlos, durante entrevista à Rádio Capital, alguns anos atrás, num programa dominical, apresentado pelo próprio Aguillar. “Estivemos juntos no começo. Aguillar já estava com sua carreira em franca velocidade e sempre de tratou de forma carinhosa, quando cheguei em São Paulo. Meu deu oportunidade em seu programa de rádio e na televisão quando ele dizia juventude feliz e sadia”.
Essa história é também compartilha por Aguillar em seu livro “Histórias da Jovem Guarda”, lançado pela Editora Globo, em 2005. “O Roberto Carlos me foi apresentado pelo Chacrinha, no Hotel Lord, em São Paulo, me pedindo para dar uma força para aquele jovem que seria depois um grande líder da música popular brasileira”, recorda Aguillar, contando que Roberto Carlos se apresentou pela primeira num canal de televisão em seu programa “Ritmos para a Juventude”. “Daí ele começou a se a apresentar todos os domingos no nosso programa”.
Na entrevista Roberto Carlos disse que se lembrava com muita emoção desse tempo. “Essas coisas, essas lembranças são muito importantes para a gente”, observou. “Tenho certeza que o Aguillar também se lembra com emoção. As histórias verdadeiras são sempre interessantes e Antônio Aguillar é cara, todos sabem que tem um lugar muito especial dentro do cenário artístico. Eu participei várias vezes do programa dele no rádio e na televisão. Eu sei o quanto me prestigiou no começo da minha e não só a mim, mas a todos os artistas que precisavam de ajuda, eu isso, ele prestigiou e ajudou muitos artistas e eu sou um deles”.
Rio-pretense de nascimento, filho de Maria Dolores Finhana e de José Aguillar, de origem espanhola, começou a trabalhar por volta dos 14 anos num estúdio fotográfico, onde aprendeu a revelar e a fotografar. Ao completar 18 anos, mudou-se para a capital paulista. Comprou uma câmera Speed Graphic 6x9 com filme de rolo Parker, na época um equipamento de última geração, e ingressou no jornal O Estado de S.Paulo, onde trabalhou até 1960.
Além de fotografar muito bem, Aguillar, que sempre foi uma pessoa organizada, começou a organizar e arquivar os negativos das suas fotografias. Conseguiu reunir um acervo com mais de mil negativos históricos de suas reportagens, que já lhe renderam mais de meia dúzia de exposições fotográficas com imagens antigas de São Paulo, de São José do Rio Preto e de grandes artistas que fizeram sucesso no passado.
No final dos anos 50 ao fotografar a inauguração do estúdio da Rádio Eldorado AM, na rua Major Quedinho, em São Paulo, Aguillar se apaixonou pelo rádio. Chegou, logo no começo, a fazer teste de locutor. Mas foi considerado fora dos padrões da emissora. Não desistiu e meses mais tarde ficou sabendo que seu colega de redação no Estadão, Hélio Damante, tinha recusado convite da Diocese de São Paulo para dirigir o departamento de jornalismo a recém inaugurada Rádio 9 de Julho se apresentou ao cônego Olavo Braga Scardigno para a vaga. Iniciou suas funções redigindo boletins informativos que eram lidos, de hora em hora no ar, por Joelmir Betting.
Alguns meses surgiu a oportunidade para Antônio Aguillar dirigir o programa de auditório “Calouros da 8 de Julho”, onde se tornou popularmente conhecido. Paulo Rogério, da Organização Victor Costa da Editora Abril, contratou Aguillar para comandar o programa “Clube dos Garotos” na Rádio Excelsior. Ali também comandou o programa “Aí Vem o Pato”, com produção de Luciano Calegari, e “Ritmos para a Juventude”, que logo foi parar na TV Excelsior.
Para acompanhar os artistas que se apresentavam na televisão, Aguillar sentiu a necessidade de se criar um grupo musical. Naquela época tinha o Atílio e seu Regional, mas não tocava rock in rol, o ritmo que começa a tomar conta das paradas de sucesso. Convidou Joe Primo, que chamou Bobby de Carlo e assim formaram um grupo com o nome de The Vampires. O guitarrista José Provetti entrou para a banda quando o nome já havia mudado para The Jet Blacks. Gravaram disco e foram contratados pela famosa Boate Lancaster, localizada na rua Augusta.
Aguillar se viu obrigado a criar um novo grupo, porque essa banda viajava muito para shows e não podia mais estar aos domingos no programa. Mingo e Neto tocavam no grupo Jordans e procuraram Aguillar para uma oportunidade em seu programa. Foi quando surgiu a ideia de se montar um grupo para tocar permanentemente no programa.
Para não perder o grupo, Aguillar combinou com os rapazes que ele seria o dono da patente do grupo que passaria a se chamar The Clevers. Aceita a proposta, Neto apresentou Luiz Franco Thomaz, de Itariri, que tinha ganho uma bateria do avô e por isso foi apelidado de Netinho.
Waldemar Mozena, que era guitarrista de uma orquestra do interior e chegava em São Paulo em busca de emprego, foi incorporado ao grupo. Como ele sorria muito, Aguillar deu a ele o apelido de Risonho. Assim nascia o The Clevers formado por Mingo (guitarra base), Neno (contrabaixo), Netinho (bateria), Manito (saxofone) e Risonho (guitarra). Essa banda gravou a música “El Relicário” e foi um dos maiores sucesso em todo o Brasil.
Contratado pela TV Record, Aguillar levou The Clevers junto para se apresentar no programa “Reino da Juventude”. A banda acompanhou a cantora italiana Rita Pavone e ganhou dela uma guitarra especial. E não só isso. Ela se encantou com o grupo e o convidou para uma turnê por diversos países da Europa. Numa jogada de marketing. Para dar projeção ao grupo e à cantora, Aguillar bolou um “falso romance” entre Rita Pavone e Netinho. E deu certo a imprensa não parava de falar desse enlace.
Aguillar não gosta muto de falar sobre o assunto, mas o fato é que o grupo acabou sendo ludibriado por um então amigo, a quem tinha pedido para acompanhar a turnê como seu representante. “Pela imaturidade dos garotos, eles acabaram rompendo as relações comerciais comigo”, conta, acrescentando que anos depois todos do grupo, que teve de mudar o nome para Os Incríveis, reconheceram o erro e reataram amizade com o seu criador.
Além de ter lançado Os Incríveis e Roberto Carlos na televisão, Aguillar também lançou e ajudou a propagar os grupos musicais The Flyers, The Jordans, Os Vips, Os Caçulas, os cantores Sérgio Reis, Antônio Marcos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Marcos Roberto, Dori Edson, Nilton César, Jean Carlo, Ary sanches, Jerry Adriani, Leno e Lilian, Deny e Dino e tantos outros artistas.
Volta à terra natal
Em 1981, após se aposentar Aguillar resolveu voltar com a família para sua terra natal. Mas não parou. Logo estava de novo na frente dos microfones nas rádios Onda Nova, Independência e Centro América apresentando, ao vivo, programas musicais e de calouros. Em 1990, Aguillar foi contratado pela nova direção do jornal “A Notícia” para ser o jornalista responsável pelo arquivo.
“Em todos os meus anos de experiência no jornalismo eu nunca encontrei um profissional tão capacitado e organizado para cuidar de um arquivo como o Aguillar”, afirmou o experiente jornalista Brandino Gomes. “Se você quisesse, por exemplo, fazer uma matéria sobre café, ele aparecia com o clipping de dezenas de matérias publicadas pelas grandes revistas e jornais falando tudo, desde a produção, área plantada, os tipos, sabores diferentes e uma centena de negativos de fotos de café de tudo quanto era jeito”. A redação de “A Notícia” era composta por grandes nomes do jornalismo nacional. O editor chefe era Audálio Gomes, que tinha como editores assistentes Adalberto Pini, Nelson Gonçalves, Reinaldo Vasconcellos, Carlos Eduardo de Oliveira, com a supervisão de Paulo Grobe.
Em 1985, Aguillar transferiu residência para Santos, onde trabalhou nas rádios Tribuna, Clube (que era do Pelé) e Cultura, onde dividia os microfones com o santista Luiz Lombardi Netto, famoso locutor que se tornou famoso por anunciar produtos e quadros no Programa Silvio Santos.
Durante 15 anos, de 2005 a 2020, comandou o programa “Jovens Tardes de Domingos”, voltado para as musicas da Bossa Nova. Atualmente os 92 anos ainda continua no ar, todos os domingos, com um programa das 12 às 14 horas na rádio Calhambeque, que pode ser sintonizada clicando aqui
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Aguillar e a esposa Célia com Roberto Carlos |
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Aguillar entrevistando Demétrio que fez sucesso com a música "Ritmos da Chuva" |
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Aguillar entrevistando Roberto Carlos no início dos anos 70 |
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Antônio Aguillar com o então vereador Emanoel Tauyr, também médico, advogado e jornalista |
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