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O Brasil e o mundo precisam de uma vacina contra a ignorância, afirma cientista

 


Em entrevista ao jornalista Harlen Felix, para a revista Vida&Arte do jornal “Diário da Região”, o chefe do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp (Faculdade de Medicina de Rio Preto), Maurício Lacerda Nogueira, afirmou ser necessário uma “vacina para a ignorância”. Ele é médico e como pesquisador acompanha estudos em torno de doenças como a dengue, a zika e o coronavírus.

“Nós estamos aqui anos e anos trabalhando numa vacina, gastando milhões de dólares, aí eu abro a internet e vejo alguém dizer que vacina faz mal para a saúde”, desabafo, entristecido o médico pesquisador. “Para isso, tolerância zero. Nós estamos tolerando a ignorância, e nós não podemos tolerar a ignorância”.

Segundo Nogueira, o movimento contra vacinas ganhou voz nas redes sociais. “E isso não só no Brasil”, enfatiza. “Esse movimento está fazendo com que países desenvolvidos registrem epidemias de doenças que estavam praticamente superadas como o sarampo e a meningite”.

Nogueira que vem de uma família de médicos, com pai e irmão médico, se formou em Belo Horizonte e fez doutorado sobre virologia nos Estados Unidos. É um dos principais especialistas no assunto no país. Já fez importantes pesquisas em torno de doenças como a dengue e zika. Está há 15 anos na área.

Ele trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra a dengue, que já foi testada em mais de 15 mil pessoas na região. “A gente sabe que a vacina realmente é boa, foi testada em pequena escala e funcionou bem”. Ele criticou a falta de investimentos do governo federal nos últimos anos em torno das pesquisas. “Foi basicamente irrisório nos últimos anos”, afirmou.

Para o médico e cientista o Facebook e outras mídias da internet deram voz aos idiotas. “A rede social deu voz aos idiotas”, afirma, criticando quem, sem nenhum conhecimento técnico, usa as redes sociais para propagar desinformações. “Recebi uma mensagem via Facebook e quase joguei o telefone na parede de raiva. Uma mãe, num grupo anti- vacinas, dizendo o seguinte: ‘olha. Está tendo uma epidemia de sarampo aqui na minha região, minha filha tem 3 anos e não é vacina. O que eu posso fazer para protege-la que seja barato?’ O que ela pode fazer? Vacinar. Entendeu?”

Nogueira também cita em sua entrevista que o Rotary tem uma história linda com a vacina contra a poliomielite. “Nós estivemos muito perto para acabar com a pólio no mundo. Muito mesmo. Recentemente eu conversei com uma das pessoas responsáveis por isso na Organização Mundial da Saúde (OMS). Teve um evento em Genebra, discutindo uma série de doenças, e a pólio foi uma delas. Eu perguntei isso para ele. Quase chorou. Porque nós andamos 15 anos para trás, ou talvez até mais, 20 anos. E por que? Ignorância das pessoas. O conhecimento científico está aí. Nós estamos trabalhando com o desenvolvimento de vacinas há mais de 300 anos. Vacinas é barato, vacina salva vidas. Aí você abre a internet e tem gente, sem nenhum conhecimento, dizendo um monte de bobagens. E todo esse conhecimento adquirido por anos na ciência tem que ser discutido com alguém que ‘ouvir falar’, porque ‘disseram para ele’, porque ‘viu 400 vezes na internet’, não sabendo que aquilo é uma retroalimentação que os algoritmos das redes sociais te trazem. É uma loucura”.

Para o médico e cientista talvez a solução fossem os cientistas trabalhar na descoberta de uma vacina contra a ignorância. “A vacina para a ignorância é a educação”, afirma. “Educação básica, educação média e ensino superior. Agora para isso, precisamos de um país que remunere o professor. Remuneração da educação básica o ensino superior, que é muito ruim neste país”.   

Médico e cientista Maurício Lacerda Nogueira (foto: Jonny Torres;DR reprodução)



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