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Antes da internet, enciclopédias eram onde se faziam as buscas sobre tudo que desejassamos saber

 

Alberto Gabriel Bianchi, vice-presidente da Academia Rio-pretense de Letras, com dois volumes da Barsa em mãos, relembra seus bons tempos de estudo

Para quem nasceu e cresceu antes da chegada dos computadores e da popularização da internet, era sinônimo de conhecimento e status social quem possuía na estante da sala, em casa, uma robusta coleção de livros vermelhos de capa durante. Eram as famosas enciclopédias. As mais conhecidas eram a Delta Larousse, importada da França, a Britannia, da Inglaterra, a Mirador Internacional e a famosa Barsa.

O que talvez poucos sabem é que a Barsa foi uma enciclopédia produzida totalmente no Brasil. O pontapé inicial desse trabalho foi dado pela empresária e editora Dorita Barret (1914-1973), americana nascida na Califórnia, mas que se naturalizou brasileira e vivia no Rio de Janeiro. Seu pai era editor-executivo da Encyclopaedia Britannica, que apesar das origens escancaradas em seu nome, era produzida e publicada nos Estados Unidos desde o início do século 20. Até então, no mercado brasileiro só era possível encontrar enciclopédias traduzidas do inglês, alemão ou francês para o português.

 A Barsa, cujo nome é a junção dos sobrenomes de Dorita Barret (Bar) com o sobrenome de seu marido, o diplomata brasileiro Alfredo de Almeida Sá (Sa). Foi lançada poucos dias antes do golpe militar de 1964. A leva inicial, de 45 mil exemplares, esgotou-se em apenas 8 meses.

Na década de 80 o peruano Eiobardo Sosa Viera se destacou em Brasília com a venda da Barsa, composta por 16 pesados volumes. Em tese, tudo que havia de importante estava ali. Em suas lombadas caprichadas, lia-se o nome que impunha respeito e pompa: Enciclopédia Barsa. “A gente vendia em Brasília para ministros, deputados e muitos funcionários públicos”, lembra Eiobardo, destacando que tinha fila de espera para poder adquirir as coleções. A produção não conseguia vencer a demanda pela procura dos livros.

No auge das vendas, em 1990, foram mais de 120 mil coleções vendidas. Em 2010, em um mundo já habituado a usar buscadores na internet, foram apenas 8 mil. Teve sua última edição impressa em 2014, com 4 mil unidades do conjunto, exatamente 50 anos depois do seu lançamento em 1964.

Preço de um carro 

Entretanto a compra de uma enciclopédia era um verdadeiro artigo de luxo para as famílias da alta e classe média, principalmente se fosse a Barsa, a mais completa enciclopédia brasileira. Foi com a Barsa que surgiu no Brasil o parcelamento de uma compra, que depois tornou-se praxe para a aquisição de outros produtos.

O economista José Frederico recorda que o velho Fiat 147 que habitava a garagem dos seus pais quando criança desapareceu do seu lugar quando surgiu na estante da sala a coleção com os 16 volumes da Barsa. A enciclopédia custava o preço de rum carro. E não era qualquer família que poderia compra-la.

O advogado Alberto Gabriel Bianchi, vice-presidente da Academia Rio-pretense de Letras, Cultura e Artes, recorda com saudosismo os tempos em que estudava, buscando verbetes na Barsa, na biblioteca de Pirangi (SP), sua terra natal. “Passava horas pesquisando e vendo as figuras e fotografias dessa enciclopédia”, lembra. "Foi um dos grandes instrumentos para estudos e pesquisas. Facilitava os trabalhos escolares, bem como científicos e literários".

Conteúdo brasileiro

Criada no Brasil, a Barsa foi posteriormente comprada pela editora espanhola Planeta, que a traduziu para o espanhol e a vendeu em quase todos os países da América Latina. Ao ser lançada, a Barsa tinha 30% de conteúdo inédito, totalmente produzido no Brasil. O restante foi feito com tradução de verbetes da Brytannica. O diferencial era a participação de determinados figurões da literatura brasileira para escrever determinados verbetes, que acabou se tornando tradição e marca da Barsa.

Havia uma rede de colaboradores que chegou a 257 nomes – 221 homens e 36 mulheres. Coube, por exemplo, ao arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) escrever sobre Brasília. O historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) fez o texto sobre São Paulo. Jorge Amado (1912-2001), escritor já consagrado, incumbiu-se do verbete sobre o cacau. O sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) redigiu texto sobre Pernambuco e o verbete sobre o Ceará foi escrito Rachel de Queiroz (1910-2003).

 A Barsa ainda é vendida pela Editora Planeta. Agora com 18 volumes o preço dela custa R$ 2.695, que pode ser parcelado em até 10 vezes iguais sem juros. Outra opção é a Barsa em Rede, que possibilita acesso por aplicativo por um ano pelo preço de R$ 269,50, podendo também ser pago em 10 pagamentos de R$ 29,90.

Antiga coleção da enciclopédia Barsa com seus 16 volumes de capa dura vermelha


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