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Nizão, um cadeirante que ajuda outros cadeirantes em Ida Iolanda |
Nelson Gonçalves
O serralheiro Valdenir da
Silva, 53 anos, o popular Nizão, é exemplo de força de vontade e amor pela
vida. Montou, faz dois anos, nos fundos da sua casa, uma oficina de recuperação
de cadeiras de rodas, de banho e inúmeros, andadores, muletas e bengalas. O
detalhe é que Nizão, há 16 anos, também é cadeirante.
Ele tinha 37 anos quando
sofreu acidente na rodovia. A motocicleta CG, que ele pilotava, colidiu com um
carro e o acidente provocou a perda de sua perna esquerda. Era 11 de dezembro
de 2006 e nesse dia Nizão iria de Ida Iolanda, distrito de Nhandeara, onde
nasceu e morava, para comprar presentes para crianças em São José do Rio Preto.
Todos anos ele colocava a vestimenta de Papai Noel para entregar, na véspera do
Natal, presentes às crianças carentes.
“Quando comprei minha moto
escolhi a cor vermelha porque é a cor do manto de Bom Jesus dos Castores, do
qual sou devoto. Coincidentemente o acidente aconteceu com um carro vermelho às
7h45 e o sol estava todo vermelho no horizonte. Quando vi o asfalto todo
vermelho de sangue na hora fiz uma promessa uma promessa ao santo para salvar
minha vida”, lembra Nizão. “Na hora passava um médico pelo local, que me ajudou
a socorrer. Às 8h20 eu já estava dentro do Hospital de Base”.
Sem a perna esquerda,
passou a utilizar-se de uma cadeira de rodas. Adaptou um veículo Ford Belina
para se deslocar e levar os filhos para a escola. Muita gente imagina que a
cadeira de rodas é sinônimo de dependência. Ao contrário: para o cadeirante, a
cadeira de rodas é sinônimo de liberdade. É esse equipamento que garante à
pessoa com deficiência física um dos direitos mais importantes de qualquer ser
humano: o direito de ir e vir.
Consciente de que graças a
cadeira de rodas, que lhe possibilitou se locomover e continuar trabalhando, pode
formar seus dois filhos, Gabriel, engenheiro agrônomo, Gabriela, esteticista,
Nizão não imaginava que a sua oficina de recuperação de cadeiras iria tomar
proporções gigantescas em tão pouco tempo. Em 2020 ele resolveu se candidatar a
vereador para Câmara de Nhandeara com a promessa de que investiria todo dinheiro
que recebesse na função na produção e recuperação de cadeiras de rodas.
Foi o vereador mais votado
do Podemos, com 263 votos. Conforme a promessa investe tudo o que recebe na oficina.
Nos últimos dois anos ajudou na produção e recuperação de 107 cadeiras de
rodas, 87 cadeiras de banho e uma quantidade incalculável de muletas, andadores
e até câmaras hospitalares. “Inicialmente nossa intenção era para servir apenas
os moradores de Nhandeara”, conta. Mas a fama do seu trabalho se espalhou por
toda a região. E segundo ele, não tem como falar não para os pedidos de ajuda
que vem de diversas cidades, como Votuporanga, Floreal, Magda, Macaubal, Monte
Aprazível, entre outras.
Faz 36 anos que no dia 6
de agosto ele participa da romaria em louvor ao Bom Jesus dos Castores. “Já fiz
o percurso de oito quilômetros com muletas e cadeira de rodas”, revela. A
tradição dessa romaria, que leva milhares de pessoas para o vilarejo, pertencente
ao município de Onda Verde, onde está erguida a capelinha em homenagem ao
santo, vem desde o começo do século passado quando foi encontrada a imagem por
moradores. Em homenagem os primeiros moradores daquele lugar, que tinha como
sobrenome Castor, denominou-se o local e a capela como Senhor Bom Jesus dos
Castores
Alto custo
Uma cadeira de rodas nova
e simples custa, em média, de R$ 450 a R$ 1.500. Já as adaptadas ficam entre R$
7 mil a R$ 10 mil. O mercado de trabalho para as pessoas deficientes é, no
mínimo, cruel.
Esses equipamentos
permitem que muitos deficientes sejam totalmente independentes, não
necessitando de ajuda de terceiros para se locomover. O equipamento funciona também
como um importante auxiliar em atividades de lazer, a exemplo das coreografias
de companhias de dança, nas quais a cadeira atua como uma extensão corporal e
permite a execução dos movimentos.
Os materiais como tecidos,
parafusos, rolamentos, espumas, freios e rodas são comprados pelo próprio
vereador Nizão, mesmo com a verba limitada. Ele presta contas de tudo, de forma
bastante transparente, pelas redes sociais. “Tudo o que eu recebo da Câmara vai
para esse projeto”, explica, acrescentando que “não fica com nenhum centavo” do
que recebe como salário da Câmara dos Vereadores.
Braço direito
Nizão faz questão de fazer
referência à esposa Liza Helena Doroteia Silva. Ela trabalha no Centro de Saúde
como agente comunitária e sempre esteve ao lado do marido nos momentos mais difíceis.
Ele também destaca a ajuda
do amigo Zézinho Cândido, irmão do famoso diagramador Joãozinho Cândido e do cinegrafista
Pikika, da Rede Record de Televisão. É o Zezinho quem o ajuda na oficina, com
os acabamentos das peças, e no transporte dos equipamentos mais pesados.
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Nizão e Lisa Helena, esposa e companheira para todas as horas |