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Técnicas de maquiagem em mortos é ensinada em curso

 

Curso em Rio Preto ensina como preparar, maquiar e embelezar defuntos


 

Maquiagem é uma coisa que quase todos gostam, principalmente as mulheres, que se sentem mais seguras quando estão maquiadas. Pode parecer estranho, mas há um tipo de maquiagem cada vez mais sendo requisitada por homens e mulheres. Trata-se da maquiagem de defuntos. Isso mesmo:  maquiagem em cadáveres.

 Prova disso é que pelo menos 10 pessoas, de diversas cidades da região, se matricularam para o primeiro Curso de Tanatopraxia e Necromaquiagem promovido em São José do Rio Preto pelo mestre Danilo Soares, 35 anos de idade e há mais de 10 anos na profissão. O curso é composto por cerca de 80 horas-aulas e ensina todo o conjunto de procedimentos, técnicas e métodos utilizados para conservar, embalsamar, higienizar, restaurar e cuidar da aparência de um cadáver, de modo a prepará-lo decentemente e com o melhor visual possível para o velório, funeral ou cerimônia fúnebre, respeitando sempre os preceitos religiosos e legais.

 A maquiagem do cadáver é algo comum e muito requisitado pelas famílias. E vem aumentando ano a ano o interesse. De cada 10 pessoas que morrem, pelo menos seis famílias pedem que o seu ente querido passe pelas mãos de um maquiador profissional. “Geralmente as famílias possuem o desejo de preservar uma boa e última imagem da pessoa na hora do sepultamento”, explica Danilo, que desde os seus 19 anos de idade trabalha no ramo funerário.

 Danilo se especializou em tanatopraxia, necromaquiagem e restauração facial fazendo cursos em universidades e escolas de Belo Horizonte. Também estudou ciências forenses e criminologia em universidades de São Paulo para se tornar perito judicial nessa área.

 Técnica e experiência

Danilo Soares possui técnica e experiência na área e agora ensina o que sabe para os outros


“A preparação do cadáver para o funeral requer muita técnica e precisa ser feita por especialista”, afirma Danilo, acrescentando que não é qualquer um que possui o dom para lidar com esse tipo de serviço. Carolina Sampaio, de 37 anos, era criança quando se encantou com a profissão do avô, que era preparador de corpos para o museu de anatomia na USP (Universidade de São Paulo). Queria ser legista, mas a gravidez do primeiro filho, aos 17 anos, pôs fim ao sonho de fazer Medicina. Hoje mãe de outros três, filhos ela é mulher de um médico naturopata e trabalha com necromaquiagem e recuperação facial.

 “Devido ao estado do corpo, alguns por acidente acabam perdendo a aparência natural e a própria família pede para que seja feita a restauração do rosto e das partes que ficam visíveis no caixão”, explicou Carolina para um jornal na capital gaúcha.

 Higienização

Antes do processo de necromaquiagem começar é feita a higienização do cadáver. Os agentes funerários limpam todo o corpo da pessoa falecida e injetam um fluido corporal à base de formol e outros componentes. A solução expulsa o sangue vermelho das artérias, impedindo que o cadáver fique muito pálido. Por fim, o corpo é vestido com roupas trazidas pela família.

 Após estar devidamente vestido e higienizado, o cadáver está pronto para receber a arte na pele. Os produtos usados são os mesmos utilizados pelas mulheres em suas maquiagens no dia-a-dia. “A única diferença é que a pele do cadáver é pálida e gelada”, contou a necromaquiadora Lismária Farias, em entrevista a um site de notícias.

Necromaquiagem

“A única diferença é que a pele é pálida e gelada”, contou Lismária Farias (foto: Fernando Brito/G1)

 A maquiagem de defunto prepara as partes do corpo, como o rosto, pescoço e mãos, que ficam expostas durante o velório. Danilo conta que já teve casos de a família pedir para que o cabelo da pessoa morta, que era muito vaidosa, fosse tingido. A maquiagem cobre qualquer ferida ou outros problemas visíveis que a pessoa possa ter na pele. Além disso, a técnica também traz uma coloração mais próxima ao natural, respeitando a cor da pessoa em vida.

Em geral, no caso das mulheres, utiliza-se bastante rímel, blush, base e batom. Quase todas pedem que as unhas estejam aparadas e pintadas. Algumas famílias até pedem que o corpo seja baforado com o perfume predileto da pessoa que faleceu. Para os homens, a maquiagem é sempre mais suave e simples. Mas não deixa de ter alguns caprichos, como a barba aparada e cabelo e bigodes, se for o caso, pintados.

 O desejo da família é sempre respeitado. Carolina conta que já pintou o rosto de um homem de palhaço, porque esse era um pedido expresso que ele tinha deixado à família, pois trabalhara a vida toda nessa profissão.

 Danilo afirma que nessas horas o necromaquiador tem também que atuar como uma espécie de psicólogo para acolher os familiares que chegam bastante abalados. O necromaquiador tem o trabalho de fazer com o último momento dos parentes, amigos e conhecidos daquele ente querido possam se despedir de uma maneira em que a última imagem se dê o aspecto de “vivo”. “Tem que dar o apoio aos familiares para que esse momento eles não precisem se preocupar com detalhes minuciosos, que fragilizados pelo momento não conseguiriam executar”.

 Ele explica que os produtos utilizados para limpeza e preparação do corpo são tão eficientes que garantem a durabilidade de dias seguidos, e até semanas, sem que ocorra nenhum tipo de vazamentos de líquidos ou mau cheiro.

 O necromaquiador tem o trabalho de fazer com o último momentos dos parentes, amigos e conhecidos daquele ente querido possam se despedir de uma maneira em que a última imagem se dê o aspecto de “vivo”.

 Duração

O processo de limpeza, higienização e de necromaquiagem dura, em média, de uma a quatro horas. Tudo vai depender do tempo do velório. Caso este seja muito extenso, é necessária uma preparação do corpo ainda mais rigorosa. Ou seja, o procedimento tende a demorar mais.

 A maquiagem de defunto é fundamental para trazer mais conforto à família do falecido durante o velório. Ela permite que a aparência do cadáver fique o mais próximo possível ao que ele era em vida. Para isso, esses profissionais trabalham com todo cuidado e profissionalismo, respeitando as características da pessoa morta. Assim, a última memória da pessoa falecida será lembrada com um semblante tranquilo, como se estivesse apenas dormindo.

 História

O corpo de Santa Cecília após ser desenterrado quase 770 depois estava intacto


 A tanatopraxia é um procedimento que já existia desde a pré-história, porém, não com o mesmo nome. A técnica milenar que era feita anteriormente, chamada de embalsamento, era adotada pelos egípcios. Estima-se que desde 3.300 anos antes de Cristo, os egípcios utilizavam este método para preservar múmias.

 O corpo de Santa Cecília, a padroeira da música e dos músicos, ficou muito tempo escondido, sem que lhe soubessem o jazigo. Uma aparição da santa, em sonho, ao Papa Pascoal, revelou o local exato onde ela estava enterrada e seu corpo foi encontrado intacto e na mesma posição em que tinha sido enterrado cerca de 770 anos antes.

 O embalsamento é obrigatório quando o corpo precisa ser transladado por via terrestre por mais de 500 quilômetros ou por vias aéreas ou marítimas dentro do território nacional.

 Anúbis

Anúbis, o deus dos mortos


 Anúbis é um deus de fundamental importância na mitologia egípcia. Foi o deus dos mortos e da mumificação no antigo Egito. Ele é, segundo a lenda, o responsável por guiar os mortos para se encontrarem com Osíris, o deus do julgamento final. Por esse motivo é tido como uma espécie de guardião e protetor no fim da vida.

Anúbis permaneceu como o protetor dos túmulos e dos cemitérios. Guiava os mortos na vida após morte e participava do Tribunal de Osíris. O nome Anúbis tem origem grega e significa “abridor de caminhos”.

 Curso

 O curso ministrado por Danilo Soares pelo Anúbis Cursos ensina as técnicas de tanatopraxia, higienização, limpeza e preparação dos cadáveres para serem maquiados. Ao todo são cerca de 80 horas-aulas, das quais as duas primeiras são de teoria e o restante é ensinado tudo de forma prática. O retorno financeiro para quem exerce essa atividade é bastante promissor. Cada maquiagem e preparação de corpos custa entre R$ 800 a R$ 1.600, dependendo do estado do rosto a ser reconstituído e da demora do serviço.

Neste primeiro curso, além dos participantes da região, vieram duas alunas da cidade de Franca. Regina Casirolli afirma que sempre se interessou por essa área. Informou que por duas vezes prestou concurso para trabalhar como perita legisla. “É uma área que amo de paixão e entendo que é um ato de amor. Nós ajudamos a salvar memórias para as pessoas guardarem para sempre o último momento de seus entes queridos”, afirma Regina.

 Silvana Borrachela, outra aluna do curso, afirma que além de gostar essa é uma atividade bastante promissora. “Não podemos ter medo de nada e temos que enfrentar tudo nessa vida”, garante.

 Um dos ensinamentos ministrados no curso é sobre a questão do vilipêndio, que é o crime de expor fotos e vídeos com imagens aviltantes de cadáver. “O vilipêndio de cadáveres é considerado crime contra o respeito aos mortos e está previsto no artigo 212 do Código Penal Brasileiro”, avisa Danilo para seus alunos.

 Danilo alerta sobre as gravidades impostas pelo artigo 212 do Código Penal que impõe pena de detenção de três meses a dois anos. Ele cita como exemplo o caso de dois funcionários do necrotério que foram demitidos por justa causas e ainda respondem pelo crime de vilipêndio na Justiça por fotografar, filmar e expor nas redes sociais fotos do corpo do cantor Cristiano Araújo, morto em junho de 2015 em acidente numa rodovia.

 O advogado Gustavo Fonseca, especialista em Direito Criminal, afirma que “é indispensável, enquanto sociedade, nos colocarmos no lugar da família e amigos dos vitimados, que sofrem com a situação”. E reforça o alerta: “divulgar imagens aviltantes de cadáver é crime e pode dar cadeia”.

 Interessados em participar das próximas turmas do curso de necromaquiagem podem ligar ou manter contato pelo aplicativo Whatsapp com o professor Danilo Soares. O telefone de contato é o (17) 99662-3236.

 

Danilo durante as aulas em seu primeiro curso ministrado em Rio Preto

Entre as alunas, duas vieram de Franca (SP) porque lá não existe esse tipo de curso

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