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Brasil tem 33 partidos na ativa e outros 67 na fila de espera


 

O Brasil não possui partidos com mais de 100 anos com atividades ininterruptas

 

A história do Brasil, principalmente a dos últimos séculos, esteve sempre ligada as instituições políticas. Os partidos políticos vêm desde o início do século 19. Claro, não nos moldes como conhecemos hoje.

Por várias razões históricas não existem partidos centenários no Brasil, como é comum em outros países. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Popular Socialista (PPS), posteriormente designado como Cidadania, reivindicam ser o partido mais antigo do Brasil e comemoram terem sido fundado em 1922, ano da fundação do Partido Comunista.

Apesar de alguns intelectuais Como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Maurício Grabois e Armênio Guedes terem feito parte do chamado “partidão” os movimentos comunistas nunca foram muito expressivos, e tampouco o país foi comunista alguma vez. A ameaça comunista, segundo alguns historiadores, sempre foi exagerada para a elite dominante se manter no poder.

Império

Na época do império havia alguns partidos, mas apenas duas agremiações se destacaram, o Partido Conservador e o Partido Liberal. O historiador José Honório Rodrigues considera que o Brasil sempre foi dominado por um só partido, o das classes proprietárias ou o chamado “Partido do Patriarcado”, o único realmente governante da história nacional nos tempos remotos da política brasileira nas épocas coloniais e do império. Tudo era monopolizado nas mãos de uns pouco. Desde o acesso às terras, à mão de obra escrava e aos principais cargos públicos, adaptando-se a forma e a feição necessária mais conveniente ao momento. Ora conservadora, monarquista, republicana ou libertária.

 O historiador acentua que foi sempre a mesma casta política e seus descendentes, que preferem a conciliação aos conflitos, que dominaram a política brasileira. Essa hegemonia poucas vezes foi quebrada.

Um caso que ilustra bem essa tese é o de Afonso Arinos de Melo Franco, que participou da redação da Constituição de 1967. Seu avô, o Conselheiro Cesário Alvim foi homem forte do Império e participou da elaboração da Constituição republicana de 1891. O pai dele, Afrânio de Melo Franco (cuja esposa era da família do ex-presidente Rodrigues Alves), participou da redação da redação da Constituição de 1934. Gustavo Franco, seu sobrinho, foi presidente do Banco Central, entre 1997 e 1999.

Dinastia de José Bonifácio

A dinastia de José Bonifácio está a quase 200 anos na política


Em se tratando de poder nenhuma outra família superou o clã da família de José Bonifácio, considerado como o “patriarca da Independência”. Nos últimos 190 anos, a família, que já está na sexta geração de políticos, produziu 15 deputados e senadores, quatro presidentes da Câmara, oito ministros de Estado e dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além de governadores, prefeitos e vereadores.

 Nascido em Santos (SP), numa família abastada, José Bonifácio mudou-se ainda jovem para estudar em Portugal. Lá serviu por mais de 30 anos a Coroa Portuguesa, sempre ocupando altos e importantes cargos de governo. Viajou, durante 10 anos, por toda a Europa, às expensas da Coroa, para realizar pesquisas minerais, tendo descoberto quatro pedras preciosas, entre elas a andradita, batizada em sua homenagem.

Chegou ao Brasil com a Família Real. Foi ferrenho defensor da monarquia e se posicionou, por diversas vezes, contra a independência. Somente embarcou na luta em prol da proclamação da independência quando o assunto já tinha tomado conta da opinião popular. Espertamente se tornou líder do movimento e continuou ocupando cargos importantes no ministério de Dom Pedro 1º. Não só ele, como também empregou seus irmãos Martins Francisco Ribeiro de Andrada e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, respectivamente como ministros da Fazenda e de Armas. Até uma de suas irmãs foi empregada como camareira no Palácio Imperial e outro irmão que era padre ficou como capelão.

O liberalismo de José Bonifácio limitava-se, porém ao discurso e alguns artigos que produziu. Na prática foi um assumido defensor dos escravocratas. Era legítimo representante das elites rurais e foi um político conservador que odiava a democracia e, como ministro, não hesitava em lançar tropas contra as massas. Era extremamente conservador e até reacionário, já que quase tudo nele, girava em torno dos interesses da aristocracia rural escravista.

José Bonifácio entrou em divergências com Gonçalves Ledo e também com Dom Pedro 1º. Ele defendia a ideia de manter a união com Portugal dentro de um sistema de reino unido. Viu-se afrontado e indignado quando Dom Pedro 1º outorgou à sua amante Domitila de Castro e Canto Melo o título de Viscondessa de Santa, justamente sua terra natal. Considerava isso como um insulto. Por se insurgir contra o imperador ficou preso na Ilha de Paquetá. Somente se reaproximou de Dom Pedro após este se abdicar ao trono e nomeá-lo como tutor de seus filhos.

Quintino Bocaiuva funda o PRP

Quintino Bocaiuva foi jornalista e fundou o PRP em São Paulo


Durante os quase 60 anos de governo de Dom Pedro 2º o Brasil viveu períodos de calmaria em termos políticos. Naquela época, poucos votavam, e a elite continuava ocupando os principais cargos de governo, se beneficiando com doações de terras, equipamentos e da escravidão. Em 3 de dezembro de 1870 Quintino Bocaiuva assinava o Manifesto Republicano e fundava, em Itu (SP), o Partido Republicano Paulista (PRP). Os cafeicultores, principalmente os paulistas e mineiros, somente se colocaram contra a monarquia após a libertação dos escravos.

 República

Marechal Deodoro foi o primeiro presidente da República, mas não chegou a cumprir seu mandato até o final. Foi deposto do cargo e o vice Floriano Peixoto assumiu a presidência

A proclamação da República em 15 de novembro de 1889 foi um golpe militar. Obra de generais e contou com escassa presença de republicanos autênticos. A maior parte dos partidos republicanos regionais dirigiu governos estaduais sem muito se envolver com a disputa na esfera federal.

A implantação da República sepultou os partidos monarquistas e a Revolução de 1930 desativou os partidos republicanos. Em 1937 e até 1945, o chamado Estado Novo vetou a existência de partidos. Getúlio Vargas governou o Brasil com sistema ditatorial de “mão de ferro”. Foi destituído do governo, mas depois voltou pelos braços do povo e criou o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Era Getúlio Vargas

Getúlio Vargas governou o Brasil por 16 anos seguidos


A vida política brasileira entre 1945 e 1964 foi polarizada entre os partidos getulistas como o PTB e o Partido Social Democrático (PSD), pelo qual Juscelino Kubitscheck chegou à presidência da República, e o principal partido antigetulista a União Democrática Nacional (UDN).

O regime militar impôs uma série de medidas restritivas, entre elas extinguiu todos os partidos. O país ficou restrito a apenas duas associações, proibidas inclusive de usarem o nome “partido”: Aliança Renovadora Nacional (Arena) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de “oposição consentida”. Mesmo com a proibição, alguns partidos como o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Ação Popular (AP) continuaram suas atividades na clandestinidade.

Por quase 20 anos a ditadura militar abusou do poder e utilizava-se das cassações de mandatos para descartar dos seus adversários. Ao todo segundo levantamento do site Congresso Em Foco foram 4.682 pessoas que perderam seus direitos políticos durante o regime militar. Muitos foram presos, torturados e tiveram seus mandatos cassados, sem nem saber o porquê do motivo.

Redemocratização

A redemocratização começou com João Figueiredo quando ele assinou a lei da anistia política para os asilados


Somente em 1978, no final do governo do general Ernesto Geisel, foi que se decidiu iniciar uma política gradual para redemocratização do país. Se restabeleceu o sistema pluripartidário e cinco partidos começaram a se organizar. Em 1982 aconteceram eleições gerais para vereador, prefeito, senador, deputados e governador. Em 1985, o então governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, foi eleito ainda de maneira indireta presidente pelo colégio eleitoral. Mas não chegou a tomar posse e foi substituído pelo vice José Sarney.

A partir da promulgação da Constituição de 1988 a redemocratização se consolidou. Com regras bastante flexíveis onde para registro de novos partidos exigiam apenas 100 pessoas filiadas em nove Estados brasileiros, criaram-se dezenas de novos partidos. Atualmente são 33 partidos existentes.

Apesar de fazerem parte de momentos simbólicos da história do país, representando variadas e distintas ideologias, os partidos de hoje são uma das instituições mais desacreditadas pela população brasileira. A frente do comando de muitos deles estão homens, que já foram condenados pela Justiça por corrupção.

Na fila de espera

O TSE mantém uma listagem dos chamados “partidos em processo de formação”. Em agosto de 2016 eram 34 organizações nessa etapa, 68 em setembro de 2017, 73 em dezembro de 2018, 75 em dezembro de 2019 e agora, em 2022, 67 partidos na fila da espera para serem legalizados. Entre eles estão o Aliança Brasil, que o presidente Jair Bolsonaro tentou montar ao deixar o PSL, e alguns com nomes bem curiosos, como o Animais, Piratas, Anticorrupção, Artigo Um e o Partido Militar Brasileiro, que tem no comando uma mulher.

Fato interessante é que Josehp Gomiero Faria, cujo nome figura na frente da organização do Partido Anti-Corrupção, tem também o nome envolvido em uma série de ações na Justiça. Desde ação de cobrança de alimentos, condomínio e execução fiscal por dívidas de tributos junto ao Governo de Goiás.

 

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