Dia 16 de fevereiro, Dia do Repórter e muitas histórias para contar |
Dezesseis de fevereiro é o Dia do Repórter. O
repórter é aquele jornalista que bota a mão na massa, mas não é cozinheiro. É o
jornalista que saia às ruas, que apura as informações no local onde o fato
ocorreu, investiga, toma chuva, sol, mete o pé na lama para dar notícia na TV,
no rádio e também na revista ou jornal.
Podemos dizer que repórter é soldado do
jornalismo, aquele que exerce a profissão em seu estado puro. Seja na
televisão, com microfone e ajuda do cinegrafista e demais auxiliares, seja no
rádio com gravador e telefone celular ou nos jornais e revistas. Em comum, o
tradicional bloco de anotações.
Euclides da Cunha é considerado por muitos como o
primeiro repórter do Brasil, devido à cobertura da Guerra de Canudos para o
jornal “O Estado de São Paulo”, em 1896. Na época, o autor do livro “Os Sertões”,
entrevistou presos, pesquisou arquivos, sobre os personagens da guerra, como
Antônio Conselheiro, e narrou para o jornal o que acontecia no arraial.
Para a professora de Jornalismo Maria Cecília
Guirado, Pero Vaz de Caminha é considerado como o primeiro repórter do Brasil.
Ela defende que a Carta do Descobrimento, escrita em 1500, foi a primeira
grande reportagem na história do país, com narrativa perfeita de tudo que os portugueses
descobriram e encontraram em terras brasileiras.
Quando a Imprensa surgiu no Brasil em 1808 os
jornais continham apenas opiniões dos editores e críticas aos adversários. Foi
somente a partir de 1880 quando a tipografia artesanal deu lugar às oficinais
empresariais e os jornais se tornaram indústrias que o caráter opinativo foi
abandonado para abrir espaço ao conteúdo noticioso.
Na cidade de Marília, Luiz Carlos Lopes, que
faleceu no ano passado, vítima de enfarte fulminante, foi considerado como um
dos melhores repórteres investigativos do interior paulista. Por vários anos
ele atuou como correspondente e repórter especial da Agência Estado e do jornal
“O Estado de São Paulo”. Foi Luiz Carlos que na década de 80 descobriu uma rede
de tráfego de crianças, que envolvia até agentes do Poder Judiciário para a “venda”
de crianças para famílias norte-americanas.
Euclides da Cunha é considerado com um dos primeiros grandes repórteres |
Luiz Carlos Lopes desvendou, na década de 80, a "máfia" que realizava "venda" de crianças brasileiras para países do Exterior |
Eugênia Brandão foi a primeira mulher que trabalhou como repórter no Brasil, produzindo séries com grandes reportagens |
A primeira mulher que exerceu a função de repórter
no Brasil foi a mineira Eugênia Brandão. Nascida em Juiz de Fora (MG), após a
morte do pai, foi tentar, junto com a mãe, a vida no Rio de Janeiro. Aos 16
anos foi contratada para ser repórter no vespertino “Última Hora”, dirigido pelo
jornalista Samuel Wainer.
Eugênia não foi só a primeira entre as mulheres
repórteres, escreveu a professora e pesquisadora Lara Monique Oliveira Almeida.
“Ela foi também uma expoente nos movimentos do seu tempo, além de enfrentar o
preconceito da sociedade carioca por exercer um ofício exclusivamente
masculino, lutou contra o nazismo e contra a ditadura de Getúlio Vargas,
colaborou para a divulgação da cultura carioca, fundando o Teatro de Brinquedo
e foi uma das defensoras do voto das mulheres e de melhores condições de
trabalho feminino”.
Em 1914, Eugênia realiza o maior trabalho de sua
carreira quando disfarçada interna-se em um convento para fazer a investigação jornalística
de um crime que resultou na série de reportagens intitulada como “O caso da Rua
Januzzi, nº 13”, que choca sociedade do período. Ela sabia que entre as internas
estava uma moça, Albertina do Nascimento Silva, asilada pela família para fugir
do assédio da imprensa. A moça, irmã da vítima, tinha suposta relação amorosa
com o cunhado, Tenente Paulo, suspeito de ter assassinado a mulher por estrangulamento.
Eugênia conseguiu conversar com várias internas, e ao sair do convento publica
uma série de matérias que geram tanta polêmica quanto a tragédia da rua Januzzi.
Daí em diante ela ganha fama com suas reportagens,
que despertam curiosidade junto à sociedade, tais como as matérias “Como se
amanhece no Asylo Bom Pastor”, “A loucura de uma noiva”, “A fuga da asilada Isabel”,
“A carta misteriosa”, “Flagrantes aos apagar das luzes”, “O gato brabo que foge”,
“Da capela ao dormitório”, entre outras que se tornaram líderes de leituras no
jornal.
Ao longo da história, os repórteres conviveram e
convivem até hoje com a censura e perseguição política, militar, policial e de
criminosos. Segundo o relatório de 2020 da organização internacional Repórteres
sem Fronteiras (RSF), 50 jornalistas foram mortos no ano em decorrência da
profissão. Muitas vezes o repórter se arrisca para levar a informação até a
sociedade.
Em 2021, o número de agressões a jornalistas e a
veículos de comunicação registrou o recorde de 430 casos, dois a mais que os
428 registrados em 2020. Os dados foram divulgados pela Comissão de Defesa da
Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos da ABI (Associação Brasileira de
Imprensa) e constam no Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de
Imprensa no Brasil.
Segundo o documento, o presidente Jair Bolsonaro,
assim como no ano anterior, foi o principal agressor. Sozinho ele foi responsável
por 147 casos (34,19% do total), sendo 129 episódios de descrebilização da
imprensa e 18 de agressões verbais a jornalistas.
O relatório, que está disponível no site da ABI e da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) apresenta, em detalhes, os números gerais das violações à liberdade de imprensa e aas análises feitas pelas entidades, além da apresentação das agressões.
Relatório mostra casos de violência contra jornalistas nos últimos 10 anos |
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