Cresce em 14% o número de cervejarias no Brasil
Lúpulo e cevada são ingredientes
essenciais para a fabricação da cerveja e a produção desses insumos no Brasil
tende a aumentar para atender a demanda interna, que também é
crescente. Em 2020, o Brasil chegou a um total de 1.383 cervejarias
registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um
aumento de 14,4% em relação ao ano anterior, segundo o Anuário da Cerveja 2020. O
Dia Internacional da Cerveja é comemorado desde 2007, toda primeira sexta-feira
do mês de agosto.
O lúpulo, planta da espécie humulus lupulus, utilizado
na produção de cervejas, é responsável pelo aroma e amargor da bebida. No
Brasil, o crescimento da produção de cervejas artesanais ampliou a procura
por lúpulo de qualidade, principalmente porque esse tipo de bebida
exige maior quantidade do produto na composição.
Para atender a essa demanda, nos últimos anos, produtores
brasileiros iniciaram o cultivo de lúpulo no país, já que a indústria
cervejeira importa quase 100% dessa matéria-prima. Dados extraídos da
plataforma Comex Stat, do
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), apontam que, em
2020, o Brasil importou 3.243 mil toneladas do insumo, o equivalente a US$ 57
milhões.
"A mudança no mercado cervejeiro do Brasil, com alteração
de consumo para produtos de maior valor agregado e maior uso de matérias
primas, tende a pressionar mais o consumo de malte e de lúpulo.
Proporcionalmente, essas cervejas utilizam muito mais lúpulo e com a ampliação
da quantidade de cervejarias, nota-se que estão entrando no mercado mais
cervejarias de menor porte e cervejarias artesanais que notoriamente
utilizam-se desses produtos mais especiais, com uma maior quantidade de malte e
lúpulo", explica o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Mapa, Carlos
Müller.
Incentivo
Com o objetivo de desenvolver subsídios para promover o
fortalecimento de uma cadeia produtiva para o lúpulo no Brasil, em outubro de
2020, o Mapa, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar, iniciou um projeto de cooperação técnica junto
ao Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para
identificar oportunidades, articular parcerias e elaborar um plano de
viabilidade técnica e econômica para produção de lúpulo no país.
“O cultivo de lúpulo brasileiro é hoje uma crescente realidade,
já existindo fazendas que estão produzindo com produtividade e qualidade
comercial competitiva com o lúpulo importado. A existência de uma produção
brasileira pode baratear os custos das cervejarias no futuro, que podem ter um
grande diferencial ao usar lúpulos frescos, recém colhidos, e até mesmo em
forma de produtos avançados como extratos e óleos essenciais”, destaca o
consultor do projeto Mapa/IICA, Stéfano Gomes Kretzer.
O lúpulo é uma cultura de alto valor agregado e não precisa de
grandes extensões territoriais para ser cultivado. “Em áreas de 0,5 ou 1
hectare, o produtor já possui um bom retorno financeiro se comparado a outras
culturas neste mesmo espaço de área. Diante disso, trata-se de uma cultura que
pode ser uma excelente oportunidade para agricultura familiar, gerando mais
renda, desenvolvimento e ajudando a manter as famílias no campo”, ressalta
Kretzer.
O coordenador-geral de Projetos de Fomento e Infraestrutura do
Mapa, Gabriel Assmann, explica que ao entender mais sobre esta nova cultura,
sua viabilidade financeira, o cenário atual e as demandas, será possível
promover ações de fomento e apoio à cadeia produtiva no país, através de planos
de ação específicos voltados para o desenvolvimento do cultivo de lúpulo no
Brasil. “Após a finalização do estudo, que acontece no âmbito da parceria entre
o Mapa e o IICA, será possível desenvolver programas de Estruturação Produtiva
para destinação de equipamentos para colheita e beneficiamento para
cooperativas de produtores”.
Produção
Levantamento da Associação Brasileira de Produtores
de Lúpulo (Aprolúpulo), que contou com a colaboração de 109
produtores de todo o país, mostra que o Brasil tem cerca de 42 hectares
cultivados, o que representa um crescimento de 110% com relação ao ano
anterior, e a produção total aproximada gira em torno de 24
toneladas. Santa Catarina é o estado que tem maior percentual de
produtores (27%), seguido por Rio Grande do Sul (22%), São Paulo (18%), Paraná
(7%), Minas Gerais (6%) e Rio de Janeiro (5%). Em relação à área cultivada,
Santa Catarina também ocupa o primeiro lugar, com um total de 12,105 hectares
de área plantada.
As variedades de lúpulo mais plantadas no país, em ordem, são: Cascade, Comet, Chinook, Columbus, Nugget, Saaz, Hallertau Mittelfrüeh, Hallertau, Magnum, Centennial e Zeus.
O Brasil é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, atrás apenas
de China e Estados Unidos, segundo pesquisa publicada em 2020
pela Barth-Haas Group. De acordo com a Associação
Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), a produção nacional é de
aproximadamente 14 bilhões de litros por ano e representa 1,6% do Produto
Interno Bruto (PIB), com faturamento de R$ 100 bilhões/ano e geração de 2,7
milhões de empregos.
Malte
Outro insumo que compõe cerveja é a cevada, matéria-prima do
malte, principal fonte de açúcares fermentáveis, que confere corpo, cor, aromas
e sabores para a bebida. Para que possa ser utilizado, o cereal passa por
processamento para produção do malte cervejeiro, que se dá em três etapas
distintas: maceração, germinação e secagem.
Segundo a Embrapa Trigo, a produção de cevada em 2019
(429,4 mil toneladas) foi recorde no Brasil. Em 2020, em função de problemas
climáticos no Rio Grande do Sul (déficit hídrico e geada tardia) e redução da
área plantada devido às incertezas trazidas pela pandemia da Covid-19, a
produção caiu para 374,4 mil toneladas. Em 2021, a expectativa é de
recuperação, com produção esperada de 424,1 mil toneladas.
A procura por cevada é cada vez maior, puxada pelo crescimento
do mercado cervejeiro. “A demanda tem aumentado em função da demanda por malte,
atualmente na ordem de 1,6 milhão de tonelada. Considerando que tenha sido
importado o mesmo volume de 2019 em 2020, o Brasil estaria importando em torno
de 68% desse volume demandado e produzindo cerca de 32% da demanda nacional”, destaca
o pesquisador em Genética e Melhoramento (culturas anuais) da Embrapa Trigo,
Aloísio Vilarinho.
Em 2019 foram comercializados no mundo 31 milhões de toneladas
de grãos de cevada e em torno de 8 milhões de toneladas de malte. No mesmo ano,
o Brasil importou 671 mil toneladas de grãos de cevada, ocupando o 11º lugar
entre os maiores importadores de cevada do mundo. Importou também 1,09 milhão
de tonelada de malte, ficando em primeiro lugar entre os maiores importadores
mundiais de malte.