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Elizabeti (à direita) com o primo José Ismael em obras no Jardim Tarraf |
No bairro Itapema em São
José do Rio Preto mora, junto com a mãe, Elizabeti de Jesus Justino, de 52
anos, solteira e sim filhos. Ela é professora de formação. Mas há um ano e meio
trabalha na construção civil, exercendo a função de pedreiro e pega no pesado: assenta
pisos, tijolos, carrega o carrinho de mão, reboca, carrega saco de cimento,
mistura a massa para preparar o concreto, enfim faz tudo que um pedreiro do
sexo masculino faz.
Elizabeti trabalha junto
com o primo, o também pedreiro José Ismael Justino, de 54 anos, que assim como
ela nasceu em Fernandópolis e morou na zona rural. “Ela é delicada, trabalha
bem, faz o serviço bem feito e trabalha melhor que muito homem por aí”, afirma
a secretária Mila Sosa Gonçalves, que contratou os dois para executar uma pequena reforma
que realiza na área de lazer de sua residência no bairro Jardim Tarraf 2. “Pelo
menos o piso dos fundos do meu quintal está sendo bem assentado”.
Elizabeti antes de atuar
como pedreiro, profissão que aprendeu com o irmão Ailton Manoel Justino, conta
que trabalhou na lavoura de café e em plantações de arroz. Se formou professora
na escola estadual Libero Almeida Silvares, em Fernandópolis, frequentou um ano
no cursinho Alternativo, prestou vestibular e foi aprovada no curso de
Matemática da Unesp (Universidade Paulista). Já está no segundo ano do curso.
Mora em São José do Rio
Preto desde 1993, quando chegou para trabalhar na Shoei Bratac, indústria de
seda que encerrou atividades logo em seguida. Depois ela trabalhou quatro anos
na indústria de um laboratório farmacêutico que também encerrou atividades.
Depois tentou montar seu próprio negócio atuando como revendedora da Hoken,
empresa centrada na produção de purificadores e filtros de água.
Dizendo que não rejeita
serviço, Elizabeti conta com ajuda do primo para todas as obras. “Alias é ela
quem os clientes procuram para dar orçamento do serviço”, explica José Ismael,
acrescentando que é melhor trabalhar com a prima do que com homens. “Mulher é
sempre mais cuidadosa, nos acabamentos e nos detalhes das obras”.
Quebrando tabus
De acordo com dados do
antigo Ministério do Trabalho, estima-se que nas últimas duas décadas cresceu
em quase 50% a mão de obra feminina nas obras. As mulheres descobriram um mercado
de trabalho no setor da construção civil, antes restrito para os homens.
Segundo dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
em 2007 eram 109 trabalhadoras registradas no setor. Em 2018, somavam 239 mil
trabalhadoras.
Dados do Ministério da
Educação mostram que 30% dos acadêmicos de Engenharia Civil são mulheres. Existem
vários programas que estimulam a capacitação das mulheres. No Rio Grande do Sul,
por exemplo, a ONG (Organização Não Governamental) Mulheres na Construção
formou e colocou no mercado de trabalho no ano de 2019 mais de 4 mil
profissionais para atuar em funções como pedreiras, azulejistas, pintoras,
eletricistas e ceramistas.
A justificativa de quem
contrata é que as mulheres são mais precisas e têm mais foco nos detalhes,
principalmente nas operações de acabamento.