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Abner tem mais votos do que oito dos eleitos, mas ficará fora da Câmara

 

Jovem de 21 anos teve votação histórica em Rio Preto, mas não se elege por causa do fraco desempenho do PDT nas urnas.

 Terminada a eleição ocorrem situações difíceis de serem entendidas por eleitores e também por candidatos. Em São José do Rio Preto o jovem Abner Tofanelli, de 21 anos, conhecido músico que toca no Calçadão o seu violoncelo, aquele instrumento que parece um violino gigante, foi o 10º mais votado numa lista de 400 candidatos. Ele obteve 3.467 votos, mas não foi eleito por causa do quociente partidário. Ou seja ganhou, mas não levou !

 E comum a gente escutar, nas rodas das esquinas da cidade. os comentários, as queixas dos eleitores e políticos: “Tem alguma falcatrua aí! Só pode ser corrupção! Fraudaram a urna eletrônica! Foi um dos mais votados e não se elegeu? Aí tem coisa!”. As queixas são comuns entre os que não conhecem o processo eleitoral para as câmaras municipais. O processo é o mesmo para as Assembléias Legislativas e Câmara dos Deputados.

 Mas por que um vereador bem votado não se elege e outro com muito menos votos ocupa a vaga?  Isso ocorre porque deputados e vereadores são eleitos pelo sistema proporcional, explica Pedro Luiz Barros Palma da Rocha, analista do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo.

 “Para conhecer os vereadores que vão compor o Poder Legislativo, deve-se antes, saber quais foram os partidos políticos vitoriosos para, depois, dentro de cada agremiação partidária saber quem foram os mais votados. Aí então encontram-se os eleitos. Os mandatos são dos partidos”, explica o analista.

 Trata-se de um sistema relativamente complexo e, com frequência, gera dúvidas e provoca debates calorosos. Para se chegar ao resultado final, aplicam-se os chamados quocientes eleitoral (QE) e quociente partidário.

Apenas nove dos 33 partidos existentes conseguiram cadeiras na Câmara de Rio Preto


 Quociente Eleitoral

Cerca de 27 mil pessoas deixaram de votar para vereador e preferiram anular ou votar em branco, pensando que estavam protestando

O quociente eleitoral é definido pela soma dos votos válidos, que são aqueles (excluindo-se os brancos e nulos) dados aos candidatos e legendas, dividido pelo número de cadeiras em disputa. No caso de São José do Rio Preto 228.368 eleitores compareceram às urnas, no último dia 15, para votar. Destes 13.812 (6,04%) votaram em branco e 13.921 (6,10%) votaram nulo. Esses 27.733 votos (12,14%) nulos e brancos são descartados e não são computados para o quociente eleitoral.

 Em São José do Rio Preto foram 200.635 (87,86%) votos dados a candidatos ou a legendas. Esses votos válidos são divididos então por 17, que é o número de cadeiras na Câmara Municipal de São José do Rio Preto. O resultado dessa divisão é de 11.802 votos. Esse foi o quociente eleitoral desta eleição neste ano.

 O MDB, na somatória de votos de todos os seus 25 candidatos a vereador, foi o partido que mais conseguiu votos: 24.455. Esse total é dividido pelo quociente eleitoral. Logo de cara constata-se que o MDB conseguiu fazer duas cadeiras na Câmara. O Republicanos somou 19.887 votos. Nem mesmo o vereador mais votado da cidade, o jornalista Robson Ricci, com 6.947 votos, conseguiu votação para atingir sozinho os 11.802 do quociente eleitoral. O restante veio dos votos dos outros 24 candidatos que disputaram a vereança pela sigla.

 Geralmente não se consegue preencher todas as cadeiras com a primeira operação da somatória de votos de cada partido, dividido pelo quociente eleitoral. Havendo sobra de vagas, repete-se a operação, desprezando-se sempre a fração.

Ao todo 129,2 mil eleitores, ou seja, mais de um terço do total de eleitores rio-presentes deixaram de escolher candidatos a vereador 

Cláusula de barreira

 

Pela primeira vez nas eleições municipais ocorreu a chamada cláusula de barreira, para impedir que candidatos incialmente com menos de 10% do quociente partidário sejam eleitos. No caso das eleições deste ano em Rio Peto, os candidatos com menos de 1.180 votos ficariam impedidos de assumir.

 A cláusula de barreira foi criada para impedir o chamado “efeito Enéas”, candidato que teve a maior votação histórica do País, com mais de 1 milhão de votos em 1996, e conseguiu arrastar outros cinco deputados, com pífias votações, para tomar posse na Câmara Federal.

 Abner Tofanelli

 

Abner teve mais votos do que oito dos vereadores eleitos e até do candidato a prefeito pelo seu partido

 Abner ficou frustrado com a baixa votação de seu partido, o PDT. Ele conquistou 3.467 votos. A votação dele foi superior a de outros oito vereadores eleitos: Jorge Menezes (3.164 votos), Coronel Jean Charles (2.954 votos), Claudia de Giuli (2.922), Júnior (2.764), Bruno das Bombas (2.712), Cabo Donizete (2.535), Anderson Branco (2.494) e Odélio Chaves (2.269).

 Ele não foi eleito porque os outros 20 candidatos do PDT somaram, juntos, 2.552 votos. Juntando isso com os votos obtidos por Abner a somatória (6.019 votos de todos candidatos do partido) chegou a pouco mais da metade do quociente eleitoral deste ano, que foi de 11.802 votos. Ou seja, o PDT, não conseguiu angariar votos para eleger nenhum vereador.

 Depois de Abner o candidato a vereador que obteve mais votos no PDT foi Marcelo Pimenta, com 405 votos, seguido por Daniel Dedo com 236 e a Advogada Luciana com 215 votos. Nove dos 21 candidatos do PDT não conseguiram nem ao menos 100 votos para ajudar o partido a atingir o quociente eleitoral. Abner teve quase que o dobro da votação do candidato a prefeito pelo partido, Carlos Arnaldo, que amargou o oitavo lugar na disputa à prefeitura com 2.552 votos.

 Entristecido com a situação, Abner lamentou a falta de apoio financeiro para sua campanha. Recebeu R$ 6 mil do partido, mais R$ 1,3 mil de Carlos Arnaldo e outros 1,4 mil arrecadados por uma vaquinha virtual pela internet. “É difícil fazer campanha sem dinheiro numa cidade do porte de Rio Preto”, reclama. Para piorar sua situação financeira teve que paralisar, por causa da campanha e da pandemia, as suas apresentações como músico. “Acabei gastando o que não tinha para confeccionar material de campanha”.

 Descontente com a baixa votação do PDT, Abner afirma que já pensa até em mudar de partido. “Se tivesse em outro partido mais consolidado, teria sido eleito”. Contente com seu bom desempenho nas urnas, mas ao mesmo tempo, frustrado com o resultado ele revela que pensa em buscar ajuda fora. “O prefeito eleito em Santa Fé do Sul, minha terra natal, é meu amigo e penso em falar com ele para que eu possa desenvolver alguns projetos na área cultural”.

 


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