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Cásper Libero, criador da primeira faculdade de Jornalismo do Brasil |
Cásper Libero é praticamente sinônimo de jornalismo no Brasil. É o nome da primeira faculdade de Jornalismo no país e da Fundação, cujo imponente prédio na avenida Paulista, em São Paulo, abriga a sede das emissoras de rádio Gazeta e Trianom, a TV Gazeta, jornal, teatro e a faculdade. Em cima do prédio está instalada a conhecida antena da Globo, que fica iluminada todas as noites e é um dos pontos de referência da capital paulista.
Cásper
Libero nasceu em Bragança Paulista no ano em que foi proclamada a República no
Brasil, em 1889. Era filho do médico Honório Libero e da dona Zerbina de Toledo
Libero, professora muito respeitada na cidade. Aos 19 anos se formou na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e atuou, por dois anos, como
procurador de Estado no Mato Grosso.
Aos
23 anos se enveredou por diversas redações de jornais. Atuou junto com Raul
Pederneiras e Olegário Mariano no jornal “Última Hora”. Trabalhou na Agência
Americana, entre 1913 e 1914. Essa agência de notícias fundada por ele, Olavo
Bilac e Martins Fontes lhe abriu as portas para conhecer muita gente importante
em São Paulo e Rio de Janeiro. Também foi correspondente do jornal “O Estado de
S.Paulo” no Rio de Janeiro.
Sonho do próprio jornal
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Prédio Palácio da Imprensa, construído por Cásper Libero |
Ele sempre teve o sonho de ter o seu próprio jornal. Quando tinha 29 anos, em 14 de julho 1918, Antônio Augusto de Covello, terceiro dono do jornal “A Gazeta” resolve vendê-lo à Cásper Libero. Este tornou-se diretor e proprietário, transformando-o no maior veículo esportivo da América do Sul.
Modernizou o jornal, importando máquinas rotativas da Alemanha. Substituiu o telegrafo pelo teletipo. O primeiro aparelho utilizava-se de códigos complicados para transmitir mensagens e o segundo tinha teclado semelhante ao de uma máquina de escrever. Implementou novas e modernas técnicas de impressão gráfica, que possibilitou a primeira edição de jornal em cores no Brasil.
Paralelamente a tudo isso,
implantou, uma nova dinâmica no transporte e distribuição do jornal, possibilitando
que os exemplares chegassem às mãos dos leitores em tempo recorde. Em 1922, ano
em que surgiu o rádio no Brasil, a cidade de São Paulo ouviu pela primeira vez
a transmissão de um jogo de futebol. Cásper Libero mandou instalar
alto-falantes no Vale do Anhangabaú e a transmissão foi feita por telefone.
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A Corrida de São Silvestre em 2024 teve quase 38 mil participantes |
Idealizou a Corrida de São Silvestre
Cásper
Libero era um jornalista que estava, para a sua época, além do seu tempo. Inspirado
numa corrida noturna com tochas que presenciou em Paris ele foi o idealizador
da Corrida de São Silvestre, que ocorre anualmente no dia 31 dezembro na
capital paulista. A São Silvestre segue quebrando barreiras e vem ganhando
forças com o passar dos anos, tornando-se, sem dúvida, o principal evento do
gênero no país. Desde a primeira edição em 1925 ela só foi interrompida em
2020, devido à pandemia da Covid-19. No ano passado contou com mais de 38 mil participantes. Em 31 de dezembro deste ano comemora-se 100 anos
da Corrida São Silvestre.
Além
de ser apaixonado por esportes, Cásper Libero foi grande entusiasta da Revolução
Constitucionalista de 1932. Com o fim da revolução e derrota dos paulistas,
teve de se exilar temporariamente na Europa para não ser preso pelo exército de
Getúlio Vargas. Após o perdão do governo, regressou ao Brasil. Ao retornar, em
25 de julho de 1934, teve, num luxuoso salão de São Paulo, um banquete oferecido pelos magnatas da época para ele, a maior homenagem
feita a um jornalista brasileiro.
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Banquete de gala oferecido à Gásper Libero em 1934 pela sociedade paulistana |
O
jornal não era o bastante para Cásper Libero. Ele sonhava com um conglomerado
de imprensa. Em 1934 criou a versão sonora de “A Gazeta”, o jornal falado, que
passava inicialmente na Rádio Cruzeiro do Sul até criar oficialmente a Rádio
Gazeta. Apelidada de “emissora de elite” por causa da sua programação refinada
com músicas eruditas e clássicas, a Rádio Gazeta se tornou verdadeira escola
para músicos, cantores e descoberta de novos talentos.
Também
criou a Prova Ciclística 9 de Julho, com a qual homenageava a Revolução
Constitucionalista de 1932. Além de outros eventos esportivos como a Travessia
de São Paulo a Nado, que acontecia no rio Tietê, e os famosos Jogos
Universitários Brasileiros.
Em
1939, inaugurou o Palácio da Imprensa, como viria a ser chamada a sede do
jornal “A Gazeta”, na antiga rua da Conceição, atual Avenida Cásper Libero. Foi
o protótipo do primeiro edifício erguido no país com as características
apropriadas para redação, gravura, composição, impressão e distribuição de um
jornal. No topo do edifício, de oito andares, um restaurante e um salão de
festas contiguo se tornou famoso por receber diplomatas, executivos de
multinacionais, jornalistas de todo o mundo e por seus disputados réveillons.
Antes
de sua morte, que parecia estar prevendo, Cásper Libero deixou escrito em testamento (clique aqui para ler o testamento), registrado em cartório no dia 2 de setembro de 1943, que todos os
seus bens deveriam ser destinados à criação de uma fundação com os fins de
serem utilizados na educação e nos meios de comunicação para poder construir
uma sociedade mais justa e desenvolvida. Assim, no seguinte, em 1944, foi
criada a Fundação Cásper Liberto que administra seus bens, e atendendo sua vontade,
criou a primeira escola de Jornalismo do país, a Faculdade Gásper Libero. A TV
Gazeta, que já fazia parte dos seus planos, foi fundada em 1970 e foi um dos
legados deixados por Cásper Libero.
Cásper
não tinha herdeiros. Não era casado e nunca teve filhos. E seus dois irmãos não
necessitavam dos recursos de sua fortuna para sobreviver. Visionário, ele cuidou
e deixou em testamento para que suas obras tivessem continuidade, determinando a
criação de uma fundação que administrasse todo o seu patrimônio, tendo como
principal objetivo a criação de uma escola de Jornalismo.
A
Fundação Cásper Libero é uma instituição sem fins lucrativos que administra o principal
patrimônio deixado por seu fundador, o Edifício Gazeta, com 68 mil metros
quadrados e 14 andares, onde estão centralizadas todas as unidades da entidade. Além da TV Gazeta, das
emissoras de rádio Gazeta e Trianon, a faculdade que somados os cursos de graduação
e pós-graduação tem, hoje, cerca de 3.000 alunos e 124 professores, um teatro
com capacidade para 900 pessoas e abriga no alto uma torre de 85 metros de
altura, o prédio se tornou referência e um dos principais cartões postais da
cidade de São Paulo. A torre, a primeira iluminada de São Paulo, serve de
antena, desde 1983, para duas emissoras de tv: a Gazeta e a Globo. Clique aqui e confira vários vídeos sobre Cásper Libero.
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Jornalistas de renome formados pela Faculdade Cásper Libero |
Jornalistas famosos formados pela Gásper Libero
Diversos
jornalistas que atuaram e ainda atuam nos principais veículos de comunicação do
país passaram pelos bancos escolares da Faculdade Cásper Libero. Entre eles
estão Carlos Nascimento, Maria Júlia Coutinho, César Tralli, Clóvis de Barros
Filho, Ellen Nogueira, Carlos Eduardo Lins da Silva, Clóvis Rossi, Gilberto
Dimenstein, Heródoto Barbeiro, Sônia Abrão, Mônica Bergamo, Genilson Senche e
Douglas Tavolaro.
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Prédio da Gazeta, recém inaugurado na Avenida Paulista, em São Paulo |
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O imponente prédio da Gazeta onde está instalada a antena da Rede Globo que fica iluminada a noite |