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Maestro busca recursos para manter orquestra sinfônica em Rio Preto

 

Maestro Gilmar de Assis, regente da Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto

 Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

O maestro Gilmar de Assis tem se dedicado com afinco ao desenvolvimento da música erudita, buscando alternativas para garantir a continuidade e o crescimento da Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto. Através de sua visão estratégica e paixão pela arte, ele tem procurado se valer dos benefícios da Lei Rouanet, um dos principais instrumentos de fomento à cultura no país, para viabilizar novos projetos e ampliar as possibilidades para os músicos. A orquestra que ele dirige desde 2012 foi fundada em 1942 pelo maestro Arthur Ranzini. E nesses 83 anos, ela passou por altos e baixos, chegando, nos momentos mais críticos, quase a desaparecer de cena.

A Lei Rouanet, criada em 1991 no Governo de Collor de Melo, permite que pessoas físicas e jurídicas direcionem parte de seus impostos para patrocinar iniciativas culturais. Com isso, o maestro tem como objetivo garantir não só a realização de concertos, mas também o desenvolvimento de programas educacionais, workshops, e parcerias com escolas e universidades. Segundo ele, a arte clássica, especialmente a música de concerto, tem o poder de transformar a sociedade, mas, muitas vezes, enfrenta dificuldades financeiras para alcançar sua plena realização.

 Em um momento de profunda emoção, o maestro Gilmar ficou com os olhos marejados ao falar da realidade difícil enfrentada por ele e pelos cerca de 50 músicos da orquestra. Durante a conversa com a reportagem da Folha2 ele lembrou dos desafios enfrentados no dia-a-dia pelos músicos. E não escondeu a tristeza ao falar da situação penosa vivida por aqueles artistas que dedicam suas vidas à música. “Muitas vezes aquele músico que toca de forma deslumbrante no palco trabalha, o dia todo, como repositor num supermercado ou como moto-táxi para poder ter o que comer em casa”. No momento da entrevista ele recebeu ligação de José Antônio Vilela, assessor do deputado Valdomiro Lopes (PSB), informando que foi incluído no orçamento emenda parlamentar no valor de R$ 50 mil para a manutenção da orquestra. O maestro informou que fez a mesma solicitação para o deputado estadual Danilo Campetti (Republicanos)

 Ver o esforço, a dedicação e o talento de cada um dos músicos, enquanto enfrentam dificuldades tão grandes para garantir o mínimo necessário para suas famílias é algo que dói profundamente ao maestro Gilmar. Com a voz embargada, ele disse que precisa de ajuda da sociedade, não só de São José do Rio Preto, mas de todas as cidades da região. “Nossa orquestra está toda regularizada, com CNPJ e declarada de utilidade pública para poder receber recursos municipais, estadual e federal. Graças a Deus não devemos nada para ninguém”, revelou Gilmar, que também teve uma vida bastante sacrificada.

“Vim de família simples. Meu pai foi carpinteiro e depois verdureiro”, lembra Gilmar, contando ter comprado seu primeiro violino quando trabalhava ajudando o pai e o irmão como servente de pedreiro. O instrumento ele aprendeu a tocar na igreja que a família frequenta até os dias atuais: a Congregação Cristã do Brasil (CCB). Ele estudou música em Tatuí e no conservatório Villa Lobos. Cursou Pedagogia na Universidade Metodista de São Paulo e é pós-graduado em Regência pelo Instituto Alfa de Campinas. Também aprimorou seus conhecimentos de regência na Itália com o maestro Claudio Comanetti.

Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto em apresentação realizada no ano passado

Maestro busca apoio para manter a orquestra 

O maestro Gilmar de Assis tem se empenhado em buscar alternativas para solucionar a situação da orquestra que nem local próprio possui para realizar seus ensaios. “Quando olho para os músicos da orquestra, vejo mais do que artistas. Vejo pessoas esforçadas que, com todo talento e esforço, merecem respeito e condições dignas de trabalho”.

 Em sua trajetória à frente da orquestra, o maestro Gilmar tem se tornado um defensor incansável do reconhecimento da valorização dos músicos. Informa que já tem recolhido R$ 51 mil, por meio da Lei Rouanet junto a uma revendedora de tratores, a John Deer, dos R$ 700 mil previstos. Ele faz questão de explicar que o dinheiro é proveniente de parte do imposto a ser pago pela empresa ao Governo Federal. “Precisamos da doação das usinas, dos shoppings e das grandes empresas da região para viabilizar nossa orquestra”.

 Para o maestro, o maior sofrimento não está apenas nas dificuldades financeiras, mas na falta de reconhecimento do valor cultural e social do trabalho de cada músico. Ele sabe que, atrás de cada nota tocada, há histórias de dedicação, de superação e de amor à música. No entanto, a falta de apoio, dos poderes públicos e da iniciativa privada, com o baixo orçamento e a instabilidade financeira afetam diretamente a qualidade da vida dos músicos, que se vem obrigados a dividir seu tempo entre a paixão pela música e a necessidade de sustentar suas famílias.

O próprio maestro revela que para sobrevir chega a se desdobrar em múltiplas funções, tocando diferentes instrumentos em casamentos, festas de aniversários e até em velórios. Ele também dá aulas particulares de música para diversos alunos. Para ele é muito triste ver que aqueles que mais se dedicam à arte são os que mais sofrem com a falta de condições para continuar produzindo aquilo que mais ama. O maestro disponibiliza seu telefone –(17) 99115-3574 --  para que empresários e autoridades da região possam procura-lo para ajudar a encontrar soluções para a continuidade da Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto.

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Foto da primeira apresentação da Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto em 12 de janeiro de 1942. O maestro Arthur Ranzini aparece ao centro entre as cantoras. A professora Etelvina também aparece na foto de vestido preto, logo atrás de uma das cantoras. A foto saiu no jornal A Folha e foi reproduzia pelo site RM Rio Preto, do historiador Lelé Arantes

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