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Aeroporto não chama mais Congonhas, mas a maioria não sabe

 

Aeroporto Freitas Nobre (Congonhas) é o segundo maior aeroporto do Brasil. Só perde em tamanho e em movimento no número de passageiros para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, que leva o nome do Governador André Franco Montoro

Nelson Gonçalves, para a Folha2

Quem percorre as ruas e avenidas de São Paulo já se acostumou a ver, por vários lugares, placas indicando o caminho para o Aeroporto de Congonhas. Entretanto a maioria desconhece a origem desse nome e poucos sabem que o aeroporto, desde 2012, mudou a nomenclatura e chama Freitas Nobre.

Inaugurado em meados dos anos 1930 em área descampada, após o antigo campo de marte ser encampado pela Aeronáutica, o aeroporto é o segundo do país em número de passageiros. Opera no limite de suas pistas, com 536 voos comerciais por dia, o que equivale a um pouso ou uma decolagem a cada 2 minutos. Possui 78 posições de check-in e 57 totens de autoatendimento. O Aeroporto Internacional de Guarulhos, que na verdade leva o nome do ex-governador André Franco Montoro, consolidou-se como a principal porta de entrada do Brasil. No ano passado registrou movimento expressivo de 41,3 milhões de passageiros, reforçando sua posição como maior aeroporto da América Latina.

 Em 19 de junho de 2017 o presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.450/17, de autoria do deputado João Bittar, que alterou o nome do Aeroporto de Congonhas para Deputado Freitas Nobre. A alteração do nome ocorreu para homenagear o ex-deputado, advogado e jornalista, falecido em 1990. Freitas Nobre foi professor da Universidade de São Paulo, presidente por três vezes do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e duas vezes da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Ficou exilado na França e ao retornar ao Brasil conquistou seis mandatos consecutivos de deputado federal. Sua atuação política foi dedicada à luta pela anistia e pelo movimento “Diretas Já”, sendo ferrenho crítico da ditadura militar.

 O complexo do aeroporto abrange uma área de aproximadamente 1,6 milhão de metros quadrados e um terminal de passageiros para atender cerca de 6.500 viajantes por hora. A característica mais marcante do terminal de passageiros é o piso xadrez, construído na década de 1960, formado por quadrados em placas de granito preto e mármore branco.

 História

Aeroporto de Congonhas em foto tirada no final dos anos de 1970


Desde 1920, a cidade de São Paulo era atendida pelo Campo de Marte, localizado nas margens do rio Tietê, onde as chuvas constantemente causavam alagamentos. Durante a Revolução de 1932, o local sofreu bombardeio e foi ocupado pelas tropas do governo de Getúlio Vargas que instalou ali a base da Aeronáutica. Em 1935, o governador Armando de Sales Oliveira resolveu reanexar o então município de Santo Amaro à capital paulista e a região passou a ser estudada para abrigar um novo aeroporto, por suas condições naturais de visibilidade e de drenagem, longe das áreas alagadiças. Na época São Paulo tinha cerca de 1 milhão de habitantes e a construção recebeu muitas críticas por estar numa área afastada de tudo.

O nome Congonhas foi uma homenagem ao Visconde de Congonhas do Campo, Lucas Antônio Monteiro de Barros (1767-1851), o primeiro governador de São Paulo, após a Independência do Brasil em 1822. Congonhas também é o nome de um tipo de erva-mate muito comum em Minas Gerais, na região onde se situa Congonhas do Campo, cidade natal de Monteiro de Barros.

Em 1957, o Aeroporto de Congonhas passa a ser o terceiro do mundo em movimento de carga aérea, depois de Londres e Paris. Em 1959, a ala internacional é inaugurada e a ponte aérea Rio-São Paulo é criada, após acordo entre as companhias Varig, Vasp e Cruzeiro do Sul.

 Acidentes

Em 31 de outubro de 1996, o Fokker 100, da TAM, decolou do Aeroporto de Congonhas com destino ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Problemas técnicos fizeram com que o avião perdesse sustentação, levando a queda da aeronave que atingiu 8 casas no bairro Jabaquara, matando três pessoas em solo. Todos os 96 ocupantes do avião, passageiros e tripulantes, morreram no acidente.

Passados 11 anos, em 17 de julho de 2007, ocorreu o maior acidente da história de Congonhas e da aviação brasileira. Um Airbus A320, da TAM, vindo do Aeroporto Internacional de Porto Alegre, teve problemas de frenagem ao pousar na pista principal do aeroporto de Congonhas, fazendo com que o avião não conseguisse parar. No final da pista a aeronave fez uma curva, passando por cima da avenida Washington Luís e colidindo com um prédio da própria TAM, do outro lado da avenida. Todos os 187 ocupantes do avião morreram, juntamente com outras 12 vítimas em solo. Outras 13 pessoas em solo ficaram feridas. Na época, o Aeroporto de Congonhas era o mais movimentado do país, recebendo mais de 18,8 milhões de passageiros naquele ano, 50% acima de sua capacidade operacional.

Em 4 de janeiro de 2003, um avião particular que transportava o deputado Valdemar Costa Neto caiu no barranco da cabeceira da pista do aeroporto de Congonhas, quando o piloto perdeu o controle da aeronave por causa do asfalto molhado. Valdemar e sua então namorada Maria Cristina Mendes Caldeira saíram ilesos, pegando um táxi na rua em que caíram para irem para casa.

 Freitas Nobre empresta nome para o aeroporto

Ex-deputado, jornalista e advogado José Freitas Nobre, durante discurso na Câmara Federal

Cearense de nascimento, José de Freitas Nobre chegou em São Paulo ainda jovem e trabalhou nos jornais Diários Associados, Última Hora, Folha da Manhã e na revista O Cruzeiro. Por três vezes foi presidente do Sindicato dos Jornalistas e em duas ocasiões presidente da Federação Nacional dos Jornalistas. Foi vice-prefeito de São Paulo, na gestão de Prestes Maia.

Na década de 1970 foi eleito deputado federal pelo antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), por seis mandatos consecutivos. Tornou-se líder do partido na Câmara e foi um dos políticos que, da tribuna, mais se opôs à ditadura militar.

Na época em que foi vice-prefeito conheceu Chico Xavier, com quem manteve longa amizade por toda a vida. Foi fundador e durante 16 anos editou a Folha Espirita, o primeiro jornal doutrinário a ganhar as bancas de jornais do país para propagar o espiritismo.

Durante as reuniões n Comunidade Espírita Cristã, em Uberaba, Chico Xavier recebeu uma mensagem de Emmanuel destinada à Freitas Nobre. Nela, Emmanuel falava de sua longa tarefa de pacificação no Brasil. Chico transmitiu a mensagem para Freitas Nobre: “Emmanuel está dizendo que o senhor será chamado a atuar em época muito difícil para o nosso país, quando haverá, inclusive perigo de derramamento de sangue. Haverá turbulência nesses períodos de mudança e o senhor atuará como pacificador, evitando confronto e radicalizações”. A profecia começou a se concretizar, quando Freitas Nobre foi eleito deputado federal. Ele atuou, muitas vezes, como pacificador, evitando derramamento de sangue.

Como advogado e jornalista escreveu 22 livros, entre os quais “Imprensa e Liberdade” e “Anchieta, o Apóstolo do Novo Mundo”. Entre os projetos de lei na Câmara o que criava a Ordem Nacional dos Jornalistas (ONJ), que acabou sendo arquivado.

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O piso preto e branco no hall de entrada e do salão dos guichês do aeroporto ...

... é uma das marcadas registradas do aeroporto de São Paulo

Aeroporto de Congonhas em foto tirada no final da década de 1970



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