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Marchinhas carnavalescas que nunca saem de moda

 
As marchinhas de carnaval são inesquecíveis e agitam os salões quando tocadas

 Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

 Marchinha de carnaval é um gênero de música popular que foi predominante no Carnaval brasileiro, a partir dos anos de 1920. Durante muitos anos, até o final dos anos de 1960, as emissoras de rádio promoviam anualmente concursos para escolher as melhores marchinhas de carnaval. E eram concursos disputadíssimos com verdadeiras "obras de arte" que se tornaram grandes sucessos nos salões de baile. Logo abaixo, nesta matéria, os leitores poderão ver as fotografias e conhecer a história de alguns autores, bem como ouvir várias músicas que marcaram época nos carnavais passados. Boa leitura e uma boa viagem ao passado !

A primeira marchinha de Carnaval

Texto escrito por Mário de Andrade, em 1940, para o jornal O Estado de S.Paulo enaltecia a figura da compositora Chiquinha Gonzaga

A primeira marcha carnavalesca foi a composição de Chiquinha Gonzaga, intitulada “Ó, Abre Alas”, feita para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro em 1889. O Brasil ainda era uma monarquia e somente em 15 de novembro daquele ano se tornaria uma república federativa. Cidades centenárias como São José do Rio Preto sequer tinham sido emancipada. Entre os versos compostos por Chiquinha Gonzaga estavam: “Ó, abre alas, que eu quero passar / Eu sou da Lira, não posso negar...”

Com estilo musical importado, descendente das marchas populares portuguesas, partilhando com o compasso binário das marchas militares um pouco mais acelerado, as melodias eram simples e vivas, com letras picantes, cheias de duplo sentido. Inicialmente eram calmas e bucólicas, mas depois foram ficando mais agitadas e aceleradas.

As marchinhas carnavalescas atingiram o apogeu quando tiveram como interpretes gente famosa como Carmem Miranda, Emilinha Borba, Mário Reis, Dalva de Oliveira, Silvio Caldas e tantos outros famosos que gravaram composições de João de Barro, Ary Barroso, Lamartine Babo, Alberto Ribeiro e de João Roberto Kelly.

Depois dos anos de 1960 muito foi produzido, mas pouco aproveitado em termos de marchinhas carnavalescas. As escolas de samba, principalmente as do Rio de Janeiro, começaram a ditar quais eram os sucessos e o samba-enredo começou a tomar conta do repertório dos bailes de salão. Alguns compositores, como Chico Buarque com “Atrás da Banda”, arriscaram a escrever as suas marchinhas. Caetano Veloso também se arriscou, mas flertou com outro gênero, o frevo, que anima o carnaval em Pernambuco.

Anos 1980

Nos anos de 1980 algumas regravações chegaram a fazer sucesso, como Balancê, de João de Barro e Alberto Ribeiro, na voz de Gal Costa, e “Sassaricando”, de Luis Antônio, Jota Júnior e Oldemar Magalhães, gravada por Rita Lee para a trilha sonora da novela de mesmo nome. Mas era pouco para um país, que somente em 1952, produziu cerca de 400 músicas de carnaval, a maioria delas marchinhas alegres e divertidas.

A alegria contagiante das marchinhas faz parte da nossa cultura e tradição. Essas canções atemporais nos transportam para uma época de festa, diversão e, claro, muito samba no pé. É impossível ficar parado ao som de músicas como “Aurora”, “Mulata Bossa Nova”, “Turma do Funil”, “Cachaça”, “Balancê”, “Pegando Fogo” e tantas outras que nos fazem reviver o espírito do carnaval de outrora, onde a descontração e a simplicidade eram os elementos-chave.

Para relembrar de algumas marchinhas inesquecíveis, que fazem sucesso até hoje nos bailes e final de festas de casamentos, trazemos aqui, em vídeo, com a fotografia de seus autores o som e a história de algumas marchinhas de sucesso.

 João Kelly, o rei das marchinhas

João Roberto Kelly, o "rei das marchinhas" é autor de muitos sucessos carnavalescos

Considerado como “rei das marchinhas” de Carnaval, João Roberto Kelly, completa 86 anos em junho de 2024. Está em plena forma física e intelectual. E continua compondo músicas. Ele concedeu entrevista recentemente para Tania Morales, no programa CBN Noite Total, onde afirmou que sua maior alegria que ele tem é quando comparece em algum baile e escuta a banda tocar suas músicas.

 Ele nasceu no bairro Gamboa, no centro do Rio de Janeiro, em 1938. Filho do jornalista Celso Octávio do Prado Kelly e da professora Luzia Kelly, começou a aprender piano aos 11 anos com sua mãe. Em 1961, quando tinha 23 anos, Elza Soares gravou em 78 rpm (rotações por minuto) pela Gravadora Odeon a sua composição “Boato” e viria incluir essa música depois em vários outros discos. No ano seguinte, Elizeth Cardoso, gravou “Esmola”. E assim suas músicas estouraram nas paradas de sucesso. No ano seguinte foi convidado por Chico Anísio e Carlos Manga a musicar os quadros humorísticos do programa “Times Square”, na TV Excelsior. Mais tarde, foi convidado também a fazer as músicas do programa “My fair show”, com direção de Maurício Sherman.

 Em 1963, Jorge Goulart gravou a música “Cabeleireira do Zezé”, de sua autoria, que alcançou sucesso estrondoso em todo o Brasil e é cantada até hoje nos bailes carnavalescos. Em 1966, Emilinha Borba gravou a marchinha “Mulata Iê-Iê-Iê” cuja letra traz em suas primeiras estrofes “mulata bossa-nova, caiu no rali, rali...”

 No ano seguinte, em parceria com David Nasser, compôs “Colombina”. Em 1981, o apresentador Chacrinha gravou outras duas músicas de sua autoria: “Maria Sapatão”, “Bota Camisinha” e “Pacotão”.

 Durante a entrevista para Tânia Morales, Kelly contou detalhes sobre a composição de algumas músicas. A composição “Cabeleira de Zezé” fez, junto com Roberto Faiçal, em tom de brincadeira em homenagem a um garçom de um restaurante. "Mas ele não era gay não", ressaltou. Revelou também que teve problemas com a censura, que era muito rigorosa, e tinha de usar de criatividade para driblar os censores. “Faço aniversário do dia de São João e por isso me chamo João”, explicou a razão do seu primeiro nome.

 Outra música de João Kelly bastante executada nos carnavais é “Mulata Bossa Nova”. Mas poucos sabem que por trás desse sucesso musical há uma musa e uma história. Vera Lúcia Couto, atualmente uma pacata moradora de Niterói, foi eleita Miss Estado da Guanabara em 1964. A vitória garantiu a ela o direito de ser a primeira mulher negra a concorrer ao título de Miss Brasil. Ficou em segundo lugar na eleição da mulher mais bonita do país e foi a terceira no concurso Miss Beleza Internacional, realizado nos Estados Unidos. Ela ficou imortalizada nos versos compostos por João Kelly na música “Mulata Bossa Nova”.

 João Kelly disse que pretende lançar um livro para contar sua biografia. O livro disse que já tem título “Cabeleireira do Zezé e outros sucessos”. Confira abaixo, a música "Cabeleireira do Zezé": "Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que é...". Observe o arranjo musical da melodia.


 “Cidade Maravilhosa”, o hino do Rio 

Aurora Miranda desistiu cedo da carreira de cantora. Mas gravou "Cidade Maravilhosa"

A música “Cidade Maravilhosa” foi escrita por Antônio André de Sá Filho, em 1934, um jovem compositor de 28 anos que já havia trabalhado com diversos grandes artistas da época. Inspirado pela beleza da cidade do Rio de Janeiro, abraçada por um Cristo Redentor recém construído, ele compôs a marcha com os versos: “Cidade maravilhosa, cheias de encantos mil; cidade maravilhosa, coração do meu Brasil”.

 A cantora Aurora Miranda, irmão de Carmem Miranda, foi convidada para dar voz à melodia. Juntos lançaram a música gravadora Odeon. No seguinte, a cantora se apresentou no concurso de músicas de Carnaval, promovido pela Prefeitura do Rio, fiando em segundo lugar na competição. Apesar do resultado, a marchinha caiu no gosto do público e foi uma das mais tocadas nos salões carnavalescos. Com enorme sucesso, na década de 60 foi adotada como o hino oficial da cidade, mas somente reconhecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro mais de 40 anos depois, através da Lei 3.611, de 12 de agosto de 2003. Ouça clicando no vídeo abaixo a música que se tornou o Hino Oficial da Cidade do Rio de Janeiro: "Cidade Maravilhosa".

 


“Mamãe Eu Quero”, lançada em 1937 

Jararaca (a esquerda) e Ratinho. O primeiro foi autor da música "Mamãe Eu Quero"

Em janeiro de 1937 foi lançada, pela gravadora Odeon, a famosa marchinha “Mamãe Eu Quero”, de Jararaca e Vicente Paiva. Jararaca era o nome artístico adotado por José Luís Rodrigues Calazans que fazia dupla de cantores humoristas com Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho.

 Não se sabe muitos detalhes sobre o início da composição. Mas sabe-se a primeira gravação foi feita pelo próprio compositor Jararaca. Depois de gravada por Carmem Miranda se tornou um dos maiores sucessos de todos os tempos. Traduzida para o inglês (“I Whant My Mama”) foio um dos primeiros sucessos de composição brasileira nos Estados Unidos.

 A música também foi incluída em filmes de Hollywood e no repertório de diversos artistas como Silvio Caldas, Pixinguinha e outros famosos. De acordo com o Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais), nos últimos cinco anos se posicionou entre as três músicas mais tocadas nos bailes carnavalescos. Em 1943 a música apareceu num dos episódios da série de desenho animado Tom e Jerry. Em 2011, ficou em segundo lugar no concurso das 10 melhores marchinhas de Carnaval, organizado pela Revista Veja. Em 2016, a canção foi executada na festa de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio.

  “A jardineira” lançada em 1938 

Orlando Silva, o cantor das multidões, gravou a marcha rancho "A Jardineira"

“A Jardineira”, primeira música carnavalesca a fazer sucesso evidente, antes mesmo do carnaval, foi uma marcha rancho, lançada originalmente em 1938 para o festejo do ano seguinte. Tinha letra do compositor baiano Humberto Porto, música de Benedito Lacerda e a primeira gravação feita por Orlando Silva.

 A autoria da música foi contestada. Porto e Lacerda sofreram várias acusações de plágio. Ao mesmo duas pessoas reivindicaram para si, na Justiça, a autoria da canção. Paulino Alves, tenente da banda do Regimento de Infantaria do Exército, em Ponta Grossa (PR), e Maria das Dores Correa Xavier, da cidade de Pinranhas (AL).

O compositor pernambucano Oswaldo Santiago saiu, na época, em defesa da dupla de compositores. “A imprensa de norte a sul tem lançado as maiores injúrias a Benedito Lacerda e Humberto Porto. Ainda que algo de mau houvesse, nenhuma eles teriam no caso”. O próprio letrista Humberto Porto afirmou se inspirar num refrão de cantigas infantis quando visitara a Ilha de Itaparica, na Bahia. Ouça clicando no vídeo abaixo a música "A Jardineira". Preste atenção nos metais que dão um toque especial à melodia.

 


“Allah La Oh”, 1941

Considera como um dos sucessos eternos de marchinhas de Carnaval a música “Allah La Oh” há mais de 75 anos embala bailes carnavalescos por todo o Brasil. De norte a sul do país, ela é conhecida pela letra que cita “Allah, calor, Egito, deserto e “água para Ioiô e pra Iaiá”.

A música começou a ser composta Haroldo Lobo que pediu a Antônio Nássara para completar os versos, com contribuição de David Nasser, filho de imigrantes libaneses. Nássara ressalta também a atuação de Pixinguinha, como arranjador, na gravação inicial. “Era um sábado de verão e o maestro, cheio de serviço, estava trabalhando sem camisa, encharcado de suor”, lembra Nássara. “Mesmo assim, ele teve a boa vontade de dar prioridade à nossa música, começando a fazer imediatamente o arranjo, que ficou uma beleza, com uns três ou quatro enxertos de sua autoria”. Passados alguns anos, na década de 80, um brasileiro mulçumano moveu processo contra os autores, que foi indeferido pela Justiça fluminense. O autor da ação alegava que a melodia fomentava a islamofobia contra os mulçumanos. Ouça clicando abaixo no vídeo para conferir os arranjos feito pelo maestro Pixinguinha, feito num sábado com muito calor:

 


“Nós os carecas”, 1952

Arlindo Marques e Roberto Roberti eram tão parecidos que pareciam até irmãos

“Nós, os carecas, com a mulheres somos maiorais. Pois na hora do aperto. É dos carecas que elas gostam mais”. Esse refrão já um dos mais cantados nos bailes carnavalescos. A música foi lançada para o carnaval de 1952 e fez enorme sucesso na voz dos autores Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti. Entre as décadas de 1930 e 1940, eles eram os favoritos nos concursos de samba e de marchinhas.

 Eles pareciam até irmãos, mas eram apenas amigos inseparáveis que criaram a dupla Anjos do Inferno. E o curioso era de que os dois, embora tivessem algumas entradas bem avantajadas nos cabelos, não eram carecas de fato. Roberto Roberti também assinou, quase 10 anos antes, ao lado do ator e poeta Mário Lago, outro sucesso musical denominado “Aurora”, no Carnaval de 1941.


  “Cachaça”, lançada em 1953

 “Se você pensa que cachaça é água; cachaça não é água não. Cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão”. Cremos que todo brasileiro ao longo de sua vida já cantalorou esses versos e improvisou outros parecidos para cantar uma das marchinhas de Carnaval mais famosa do Brasil: a marcha da Cachaça.

No carnaval de 1953 e nos anos seguintes não houve música mais cantada do que “Cachaça”. A marchinha foi lançada pela gravadora Copacabana pela performance de um dueto inusitado, mas muito bem timbrado, formado pelo comediante Colé (apelido de Petrônio Rosa de Santana) com a cantora Carmem Costa, cujo rosto era conhecido pelo público carioca e que imortalizou com a sua voz o samba “Está Chegando a Hora”, sucesso muito cantado nas festas de despedidas, de autoria dos compositores Henricão e Rubens de Campos.

“Cachaça” teve autoria assinada pelo trio Mirabeau Pinheiro, Heber Lobato e Lúcio de Castro e ganhou amplo espaço em todos os jornais e emissoras de rádio. Muitos não sabiam a segunda parte, mas bastava a primeira para fazer dela um sucesso. No ano seguinte aportou no Rio de Janeiro, Marinósio Trigueiro Filho, jornalista atuante em Londrina (PR) dizendo ser autor da primeira parte da marchinha. Disse ter ficado surpreso com o lançamento da música, onde três rapazes desconhecidos diziam ser seus autores.  Marinósio não só contestava a autoria dos três rapazes, como trouxe como prova um disco gravado oito anos em Montevideu, no Uruguai. Apesar da contestação, a música acabou sendo gravada depois por diversos artistas e sempre mantiveram os três rapazes como compositores da melodia.

 


“Saca-rolha”, 1954

Zé e Zilda, autores da música "Saca-rolhas", lançada para o carnaval de 1954

Música conhecidíssima cantada até hoje nos bailes carnavalescos é marchinha “Saca-rolhas”, lançada em 1954, pela dupla Zé e Zilda. A cantora e compositora cariosa Zilda formava com o marido José Gonçalves, desde os anos 40, uma das duplas mais famosas do rádio. Se apresentavam nas rádios Tamoio, Mayrink Veiga, Tupi e Cruzeiro do Sul sempre com enorme sucesso. Os dois foram responsáveis por sambas e marchas que fizeram muito sucesso, tais como “Aos pés da Santa Cruz”, “Império do Samba”, “Ressaca”, “Mentirosa” e a famosíssima “Saca-rolhas”, que imortalizou a letra: “as águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar...”.

José Gonçalves faleceu em outubro de 1954, Zilda passou a se apresentar sozinha e adotou o pseudônimo de Zilda do Zé. Nessa nova fase, lançou em disco algumas composições que o marido tinha deixado. Em homenagem ao marido, em parceria com Ricardo Galeno, lançou em 1956, o samba-canção “Vai, que depois eu vou”, no qual lamentava a morte do marido, destacando os instrumentos da bateria da escola de samba.

 


“Quem sabe, sabe”, sucesso em 1956 

Joel de Almeida, o "magrinho elétrico", autor de "Quem Sabe, Sabe" e "Madureira Chorou" 

Marchinha campeã do carnaval de 1956, a música “Quem Sabe, Sabe” foi êxito absoluto, baseada em um jingle publicitário do achocolatado em pó Toddy. Essa música foi gravada por Joel de Almeida, que a compôs em parceria com o humorista Rodolfo da Rocha Carvalho, o Carvalhinho, falecido em 2007 no Rio de Janeiro.

Joel de Almeida, conhecido como “magrinho elétrico” também teve outros sucessos como “Madureira Chorou”, gravada em homenagem à vedete de teatro de revista Zaquia Joge, mulher de Júlio Monteiro, o samba “Leonor”, gravado por Aracy de Almeida.

Depois ele se tornou diretor artístico da gravadora Polydor, contribuindo para lançar a carreira de um jovem talentoso chamado Roberto Carlos, com a intenção de competir com João Gilberto. Trabalhou anos depois como locutor na Rádio Tupi e faleceu em 1993 em São Paulo.



“Pegando Fogo”, relançada em 1982

Francisco Mattoso e José Maria de Abreu, autores de músicas magnificas

“Meu coração amanheceu pegando fogo / Fooogo / Foi uma morena que passou perto de mim e que me deixou assim...”. Esses versos, cantado e repetido inúmeras vezes nos salões de baile fez muito sucesso por todo o Brail. A música intitulada “Pegando Fogo” foi regravada em 1982 pela cantora Gal Costa.

Mas poucos sabem a letra original dessa música foi escrita em 1939 por Francisco Mattosso, um advogado e compositor que a compôs com seu principal parceiro José Maria de Abreu. Gravada pela primeira vez pelo grupo Bando da Lua que acompanhava Carmem Miranda.

Debilitado pela tuberculose, Francisco Mattoso faleceu aos 28 anos, em dezembro de 1941. Mas antes disso deixou também para a posteridade algumas preciosidades musicais, tais como “Eu sonhei que tu estavas tão linda”, feita em parceria com o mesmo José Maria de abreu e gravada pelo celebre Francisco Alves.

Balancê

Antes disso, Gal Costa gravou para a folia de 1979 a música “Balancê”, que se tornou um dos seus maiores sucessos e a projetou para todo o Brasil. A música foi composta originalmente em 1939 para Carmem Miranda pelo compositor Carlos Alberto Ferreira Braga, o popular Braguinha ou João de Barro, pseudônimo que passou a usar após abandonar o curso de Arquitetura no Rio de Janeiro.

Braguinha é considerado o compositor de carreira mais longa no Brasil, com mais de 400 músicas gravadas por artistas importantes. Faleceu em 2006, aos 99 anos, no Rio de Janeiro. Suas composições são conhecidas e cantadas por todos os brasileiros. Entre os seus maiores sucessos estão “Pirata da Perna de Pau”, “Chiquita Bacana”, “Touradas de Madri”, “As Pastorinhas”, “Turma do Funil”, “Balancê” e tantas outras.

 “Me dá um Dinheiro Aí” 

Moacyr Franco foi o primeiro interprete da música "Me Dá o Dinheiro Aí". Na foto ele aparece cantando a música ao lado do apresentador e compositor Antônio Aguillar

A famosa marchinha de carnaval “Me Dá um Dinheiro Aí”, composta em 1959 pelos irmãos Homero, Glauco e Ivan Ferreira, foi gravada pela primeira vez por Moacyr Franco com o selo Copacabana. E vendeu imediatamente mais de 100 mil cópias. No seguinte foi a música mais tocada do carnaval, tornando-se um clássico e sendo repetida ano após ano pelos foliões.

 Depois a música foi regravada por vários outros cantores e instrumentistas, tais como Beth Carvalho, Elizeth Cardoso, Marlene, Martinho da Vila e pelo flautista Altamiro Carrilho. Na década de 1980, Antônio Aguillar compôs a marcha carnavalesca "Zé Gatão", gravada pelo radialista  José Maria Ferreira, de São José do Rio Preto, que acabou incorporando o personagem da música e fazendo sucesso no rádio e na televisão.

Silvio Santos e as marchinhas de carnaval 

Silvio Santos sempre esteve presente no Carnaval com suas marchinhas

De 1965 a 1992 o apresentador Silvio Santos também entrou na onda marchinhas e gravou várias delas. A maioria composta pelos funcionários Vicente Longo e Waldemar Camargo que tiveram várias músicas carnavalescas, sempre com duplo sentido, gravadas na voz do patrão.

A primeira música gravada por Silvio Santos para o carnaval de 1965 foi “índio Quer Apito”. A música fez enorme sucesso no carnaval. Foi uma das mais tocadas nos bailes carnavalescos e emissoras de rádio. E vendeu muitos discos, lançados com o selo Copacabana.  Silvio Santos gostou da brincadeira e do sucesso. E começou, todos os anos. a gravar pelo menos uma marchinha para o carnaval.

Em 1966 gravou a “Marcha do Barrigudinho”, cuja letra falava que “o homem pode ser careca, baixinho e barrigudo, mas se tiver dinheiro, ele está com tudo”. Depois em 1969 “estorou” nas paradas de sucesso com a música “Transplante de Corinthiano”. Em 1970 gravou “Dig-dim”. Em 1971, “A Bruxa Vem Aí” e depois na sequência, “A Pipa do Vovô não sobe mais”, “Marcha do Cachorro” e, em 1979, aderiu ao plano do governo militar para substituir a gasolina pelo álcool e gravou “Mandioca”, sugerindo que o combustível também poderia ser feito a base da mandioca. Basta procurar no Youtube que o leitor encontrará várias marchinhas gravadas por Silvio Santos. E não só ele, outros apresentadores como Chacrinha e Bolinha também chegaram a gravar marchinhas carnavalescas.

 “Bandeira Branca” lançada em 1970 

Dalva de Oliveira imortalizou sua voz nas marchas-rancho "Bandeira Branca" e "Máscara Negra"

A música “Bandeira Branca”, composta por Laércio Alves e Max Nunes em 1970, foi praticamente um dos últimos sucessos da cantora Dalva de Oliveira, que faleceu dois anos depois aos 55 anos de idade.  A tristeza da música, última marcha-rancho a reverberar nos salões carnavalescos, se alinhou com a nostalgia propagada na regravação de uma recente pérola do gênero, “Estão Voltando as Flores” (escrita por Paulo Soledade, em 1961).

Aos ouvidos do público jovem formado nos inflamados festivais dos anos de 1970, a música “Bandeira Branca” soou como algo ultrapassado e que não faria sucesso. Mas o fato é que a tristonha canção na voz laminada de Vicentina Paula de Oliveira, nome de batismo da cantora, se tornou sucesso. A direção grandiloquente do maestro Lyrio Panicalli (1906-1984), com orquestrações e regências de Lindolfo Gaya (1921-1987) e do maestro Nelson Martins dos Santos (1927-1996), contribuíram para deixar o disco dolente se tornou um dos maiores clássicos de sucesso de músicas carnavalescas.

 Os produtores apostaram na voz hábil da cantora, que ia dos graves aos agudos com naturalidade. Quatro anos antes ela tinha gravado a música “Máscara Negra”, de Zé Ketti e Pereira Matos, e em 1942 deu voz no disco “Cisne Branco”, gravado pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

 Dalva de Oliveira teve uma vida conturbada com dois casamentos, um com o compositor Herivelto Marins (1912-1992) e outro com o cineasta argentino Tito Clement (1917-1988), que acabaram de forma ruidosa, em litígios que geraram manchetes nos jornais por causa da guarda dos filhos.

 Ela foi referência para divas do porte de Gal Costa, Maria Bethânia e Marisa Monte. Dalva reinou nos anos de 1950, em soberania dividida com Ângela Maria (1929-2018) e com todas as rainhas do rádio. Em 1955 foi coroada como a “rainha do rádio”. Mas Dalva viu a coroa ir parar em outras cabeças com o surgimento da bossa nova.

 Deixou um grande legado com mais de 400 gravações e sua voz está em coros de discos de Carmem Miranda, Orlando Silva, Francisco Alves, Mário Reis, entre tantos outros. Dalva também emprestou sua voz para a dublagem do personagem Branca de Neves no filme “Branca de Neve e os Sete Anões”, de Walt Disney. Na sua cidade natal, Rio Claro, existe uma praça em sua homenagem como o nome de Dalva de Oliveira, inaugurada em julho de 2000. No local tem um busto em bronze da cantora. Também tem uma praça no bairro do Irajá com o seu nome.

 


 Todas as marchinhas, as marchas-rancho eram gravadas em grande estilo, com orquestras completas e arranjos sofisticados muito bem elaborados por famosos maestros. Ouça a preciosidade dessas músicas clicando no vídeo de cada uma.








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