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Respeito, com todas as letras do alfabeto

 

Deputada estadual Beth Sahão (PT) - crédito imagem: Fernanda Carlone


* Beth Sahão

 

Certa vez, Harvey Bernard Milk (1930-1978), político e ativista gay norte-americano, fez a sua tradução de liberdade: “Se você não é pessoalmente livre para ser você mesmo na mais importante de todas as atividades humanas, que é a expressão do amor, então a própria vida perde seu significado”. Tais palavras parecem ecoar distante no tempo, mas na verdade reverberam certeiras nos dias de hoje ainda tão demarcados por territórios de perseguição e preconceito, em que pessoas são julgadas apenas pelo fato de se apresentarem à sociedade exatamente como elas são, sem máscaras ou dissimulações. E isso tem um preço, o da marca do ódio traduzida nas mais diferentes manifestações de violência.

Neste que também é o mês marcado pela temporada de paradas do Orgulho LGBTQIA+ em diversos países do mundo, temos muito a refletir sobre exatamente em que tipo de sociedade estamos imersos – aquela que de fato é coerente com tantos avanços possibilitados pela tecnologia e pelo conhecimento em franca expansão, ou aquela ainda tomada por gestos medievais que apontam, condenam e executam aquilo que julgam ser diferente ou contrário a valores superficiais eivados de toda sorte de preconceito?

Vivemos diante desta encruzilhada, uma dicotomia que não nos permite a graça negligente da indiferença. O caminho do preconceito é o caminho sem volta, do resgate dos instintos mais primitivos, que animaliza o ser humano no seu estado mais brutal. E o caminho do respeito, da igualdade, este tantas vezes por onde trilham os julgados e já condenados por tribunais arbitrários disseminados na sociedade, parece ainda tão difícil de ser reconhecido.

Mas é nesta mesma encruzilhada que reside a necessidade premente de um posicionamento firme contra todo o tipo de violência, inclusive aquela que diminui o ser humano que eventualmente não segue um papel pré-determinado e imposto por uma maioria.

Os números reforçam a urgência dessa postura. O Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil denuncia que durante o ano de 2022 ocorreram 273 mortes LGBT de forma violenta no país. Dessas mortes 228 foram assassinatos, 30 suicídios e 15 outras causas.

Estatísticas que refletem exatamente o contexto instável de civilidade em que vivemos. A nós, absolutamente, não cabe a indiferença diante desta violência. É preciso que se busque sedimentar o caminho por onde cada um deseja seguir de forma livre e segura. Porque o ser humano é muito maior do que qualquer rótulo e maior do que qualquer julgamento de tribunais fakes, conduzidos para moldar pessoas à feição e caráter dúbios.

Apenas assim, de fato, viveremos em uma sociedade sob a égide do respeito ao próximo, algo imprescindível para que uma sociedade se desenvolva de forma igualitária e livre. E porque, como sabemos, a palavra respeito também contém as letras LGBTQIA+, e todas as demais letras do alfabeto.

 

* Beth Sahão é Deputada estadual (PT)

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