Hélio José Rimoli aos 90 anos de idade tem muitas boas histórias para contar
Sábia é aquela pessoa que tem muito conhecimento, que sabe muito.
Sabe se expressar, com moral, razão e senso de equilíbrio. Assim é o empresário
Hélio José Rimoli, que no próximo dia 16 de junho completa 90 anos bem vividos.
Nascido em Campinas, terceiro filho de uma família de sete
irmãos, Hélio é filho do italiano Domingos Rimoli e da mineira Maria da
Conceição. Conta que aprendeu com o pai as técnicas de vendas e negócios no
comércio. O pai viajava por cidades interioranas para vender fumo de corda. “Meu
pai não tinha instrução, mas tinha sabedoria”, observa, destacando que sua mãe
era filha de Loreto Ramos, educador dono de escola em São Caetano do Sul que
foi muito amigo do então governador Carvalho Pinto.
Com 22 anos se casou em Campinas com Vilma Seccarelli e
ingressou para trabalhar na CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) onde fez
carreira por 32 anos. “Quando entrei na Companhia Paulista não tinha intenção
de permanecer tanto tempo na empresa”, revelou. “Minha vontade era a de pegar
uma mala e trabalhar dentro de um navio, navegando pelo mundo afora”.
Cine Rink
Uma triste lembrança marcou a vida do jovem Hélio quando
acompanhava o pai em suas andanças pelo interior paulista. “Estávamos chegando
em Marília quando nos chegou a notícia triste do desabamento do Cine Rink, o
maior cinema de Campinas”, lembra. Era um domingo, 16 de setembro de 1951,
quando, por volta das 15 horas, durante a matinê com a exibição do filme “Os
Salteadores”, com o cinema lotado, ocorreu a tragédia: uma das vigas que
sustentava o telhado da sala de exibição se desprende e cai sobre a plateia,
atingindo, sobretudo, quem estava sentado nas fileiras do meio.
Como lâminas afiadas as madeiras que caíram causaram ferimentos
graves nas pessoas atingidas. As vítimas foram colocadas na calçada, em frente
ao cinema, enquanto aguardavam a chegada das ambulâncias dos taxistas que se
solidarizaram para fazer o transporte dos feridos até os hospitais. Médicos
presentes no estádio Moisés Lucarelli, onde jogavam Ponte Preta e XV de Piracicaba,
paralisaram a partida para ajudar a socorrer as vítimas. O resultado dessa
tragédia: 25 mortes, dentre as quais, muitas crianças. As imagens desse acidente
povoaram, por vários anos, a mente de Hélio Rimoli.
Trabalho na CPFL
Em seu trabalho na CPFL, Hélio se destacou em diversas funções,
sendo eleito, por várias vezes, como presidente e vice-presidente da CIPA
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Durante quatro anos também fez
parte da diretoria do Sindicato dos Eletricitários de Campinas e atuou também
como curador da Fundação CEESP (Companhia de Energia do Estado de São Paulo). “Sempre
fui eleito por unanimidade pelos empregados”.
Provando que sempre zelou pela honestidade e princípios morais em
sua vida, Hélio lembra do episódio quando ele fora nomeado relator numa
comissão encarregada para apurar as causas de um acidente envolvendo um carro
da empresa. “Fizemos uma rigorosa perícia, com fotografias e laudos técnicos
que comprovaram que o motorista da empresa não teve culpa nesse acidente”,
destacou Hélio.
“Mas daí chegou um diretor, que era amigo do dono do carro
causador do acidente, pedindo para que mudássemos o nosso relatório para que a
nossa empresa pagasse todo o conserto do veículo que bateu no carro da empresa”,
lembra, acrescentando que foi muito taxativo: “Não mudo o relatório nem pra
favorecer o meu pai”. Ficou sabendo anos depois que fora privado de algumas
promoções, dentro da empresa, por causa desse episódio.
Outra boa lembrança de Hélio foi quando ele como representante
dos funcionários esteve participando de um encontro em Brasília com o
presidente da República, Humberto Castelo Branco. “Ele (presidente) entrou na
sala se desculpando pelo atraso e por ter feito os representantes dos
trabalhadores esperarem”, disse, relatando que um grupo de trabalhadores de
diversas categorias foram até o presidente para reivindicar que ele não
assinasse uma lei que iria prejudicar os trabalhadores. Castelo Branco
tranquilizou os trabalhadores e o projeto em questão acabou sendo arquivado.
Tornos da Camporesi
Com a consciência tranquila, Hélio trabalhou até se aposentar.
Mas com espirito inquieto e de pesquisador não quis saber de parar de
trabalhar. Junto com os filhos Heraldo e Haroldo montou uma representação de
tornos da Camporesi, indústria argentina que desde 1949 é líder na fabricação
de máquinas e ferramentas de alta qualidade. As vendas cresceram e o negócio ia
de vento em popa até que surgiu o Plano Collor e prejudicou todo o mercado. “Esse
Plano foi um desastre para nós”, lamenta.
Daí surgiu a necessidade de produzir perfumes, a partir de
essências importadas da França. Surgiu, então, a Rimolli Perfumes, empresa que
novamente reunia pai e filhos. Heraldo,
segundo o pai, possuía um olfato apurado para desenvolver aromas e fragrâncias.
Ia buscar essências na França, na cidade de Grasse, considerada há mais de dois
séculos como a capital mundial do perfume, com a produção de flores usadas como
matéria-prima na indústria, como a lavanda, jasmim e a rosa-de-maio.
A Rimolli Perfumes cresceu rapidamente, espalhando lojas pelas
cidades de Ribeirão Preto, Araraquara, São José do Rio Preto, São Paulo e
municípios do Triângulo Mineiro. “Só para a cidade de São Paulo tínhamos um
casal de vendedores que chegavam a vender sete mil frascos de perfume por
semana”, informa. Chegou a negociar com Pelé o desenvolvimento de uma linha de
perfumes que levaria o nome do jogador. “Meu filho que tinha um conhecimento
muito vasto e um nariz apurado para a criação de perfumes chegou a criar todo o
projeto com fragrâncias, frascos com embalagens diferenciadas”.
O fato de ter sido assaltado e levado um tiro, que quase lhe
custou a vida o fez mudar-se da capital para São José do Rio Preto. Antes disso
morou em Catanduva por alguns anos. Usando o pseudônimo de Hejoli, que são a
junção das duas primeiras letras das iniciais do seu nome (Hélio José Rimoli),
ele criou mais de 600 frases e pensamentos para reflexões, que pretende
transformar num livro de cabeceira para presentear amigos e familiares.
Autodidata em vários assuntos, Hélio é estudioso da língua portuguesa.
Conhece perfeitamente o significado de cada palavra porque leu e releu diversos
dicionários, livros e enciclopédias. E foi além disso: criou o seu próprio
vocabulário de palavras. Datilografou cuidadosamente centenas de páginas com
verbetes, que as mantém arquivadas em pastas em sua casa.
Leu todos os livros de Machado de Assis e do padre Quevedo. Estudioso
em parapsicologia, numerologia, astronomia, horóscopo e física quântica,
pode-se passar horas, sem se cansar, conversando com esse senhor que é um poço
sem fundo de conhecimento sobre diversos assuntos.
Hélio José Rimoli se orgulha de ser o único dos seus sete irmãos
que ainda está vivo. Todos, inclusive um filho e esposa, já deixaram essa vida.
Mas ele se mantém firme e forte, muito provavelmente porque está sempre em atividades,
mantendo sua mente ocupada em criar coisas novas. Agora trabalha, por exemplo, para
editar seu livro de frases e reflexões.
Hélio Rimoli com o empresário Cleiton Brocanelli e o jornalista Nelson Gonçalves Hélio Rimoli mostra seus arquivos com frases e pensamentos
Irmão mais novo
O irmão mais novo de Hélio, José Paulo Rimoli, faleceu cerca de
dois anos atras. Ele morava na cidade sul-mato-grossense em Três Lagoas onde
foi importante nome da indústria gráfica de Mato Grosso Sul. Foi diretor do
Sindigraf/MS (Sindicato das Indústrias Gráficas do Mato Grosso do Sul) e
vice-presidente da Abigraf (Associação Brasileira da Industria Gráfica). Atuou
fortemente no desenvolvimento da indústria e do comércio em Mato Grosso do Sul,
tendo sido também vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Três
Lagoas.
Pedro Rimoli recebeu em vida o título de patrono da Escola Senai
de Três Lagoas, dando posteriormente o nome à unidade e também foi homenageado emprestando
seu nome ao Teatro do Sesi de Três Lagoas. O presidente da Federação das Indústrias
do Estado de Mato Grosso do Sul, Sérgio Longen, destacou o pioneirismo do empresário,
considerado como precursor da produção de papel no Mato Grosso do Sul numa
época em que a grandeza da celulose nem se sonhava chegar na região. “Quando
ele resolveu investir em Três Lagoas, foi extremamente desacreditado”, lembra
Longen. “Mas ele insistiu, trabalhou e progrediu, provando que com dedicação,
trabalho e perseverança, o sucesso é certo”.