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Zé do Pedal caminhou pelo Brasil de ponta a ponta, empurrando uma cadeira de rodas

 

Zé do Pedal caminhou 10.700 quilômetros empurrando uma cadeira de rodas para sensibilizar o Brasil e o mundo sobre projetos de acessibilidade para pessoas com deficiência física


O ativista social José Geraldo de Souza Castro, de 64 anos, ex-presidente do Lions Clube de Viçosa (MG), cidade de 80 mil habitantes na região de Juiz de Fora, realiza, há 41 anos, inusitadas aventuras no Brasil e ao redor do mundo. Conhecido como Zé do Pedal, fez sua primeira viagem em 1981, quando saiu do Rio de Janeiro, de bicicleta, e chegou à Espanha, para assistir a Copa do Mundo de 1982.

Minutos antes da chegada dos jogadores para a Copa de 1982, chegou de bicicleta em frente à concentração da Seleção brasileira. Este fato chamou a atenção de jornalistas do mundo inteiro, fazendo-o ganhar notoriedade. Foi neste momento que ele recebeu o apelido de Zé do Pedal.

Depois disso, não parou mais de viajar. Deu a volta ao mundo de bicicleta, cruzou o Japão e parte do Brasil em um velocípede, desceu o rio São Francisco num pedalinho, viajou pelo oceano Atlântico em um barco a pedal e cruzou o continente africano em um kart a pedal.

76 países e 20 Estados brasileiros

Foi nas margens do rio Uailã, em Caburaí (Roraima), na divisa com a Guiana, extremo norte do Brasil, que se deu a largada da caminhada até o Chuí, extremo sul brasileiro na divisa com o Uruguai



Ao todo visitou 76 países em cinco continentes e pedalou cerca de 150 mil quilômetros. Ativista solitário, que sempre se preocupou em chamar a atenção do mundo para questões ambientais e humanitárias, tem muitas histórias para contar. Em todas suas viagens, abraçou uma causa ou campanha social. Em uma delas, a Cruzada Pela Acessibilidade, que o levou a percorrer 10.700 quilômetros, empurrando uma cadeira de rodas, passando por 20 estados (Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) de Caburaí ao Chuí, consolidando os dois extremos, respectivamente norte e sul do Brasil.

Segundo Zé do Cedral, o ponto mais extremo do Brasil ao norte não é o Oiapoque como, erradamente, todos aprenderam, mas sim a nascente do rio Uailã, junto as encostas do Monte Caburaí, em Roraima. Com 1.456 metros de altitude, localizado a 325 quilômetros de Boa Vista, capital roraimense, o Monte Caburaí, o ponto mais extremo ao norte, fica localizado no município de Uiramutã, dentro do Parque Nacional do Monte Roraima, que faz divisa com a Guiana. Foi de lá que ele saiu no dia 10 de fevereiro de 2014 para chegar em Chuí, na fronteira com o Uruguai no extremo sul brasileiro, em 21 de setembro de 2015. Nesses 446 dias, ou seja, um ano e oito meses de viagem, ele passou por 327 cidades e percorreu 10.700 quilômetros empurrando uma cadeira de rodas.

Cruzada Pela Acessibilidade 

Zé do Pedal passou por 325 cidades, em 20 estados brasileiros, empurrando uma cadeira de rodas, para chamar a atenção das autoridades para dar mais atenção aos portadores de deficiência


De acordo com o ativista, o projeto de cruzar o país de ponta a ponta empurrando uma cadeira de rodas, teve como objetivo entregar nas câmaras municipais, por onde passou, propostas sobre normas de acessibilidade e para a criação de Conselhos Municipais dos Direitos da Pessoa com Deficiência, além de conscientizar as pessoas a terem mais respeito com deficientes físicos. Além de estimular os municípios a promover programas de sensibilização sobre as condições das pessoas com deficiências e seus direitos, Zé do Pedal quis chamar a atenção da população quanto ao respeito em relação às pessoas fisicamente incapacitadas.

 Durante esses 41 anos de peregrinação pelo mundo, Zé do Pedal assistiu a três copas do mundo de futebol, passou por quatro guerras civis, enfrentou frio, sol escaldante, chuvas, terremotos e furacões. Venceu uma maratona, em Lima, no Peru. Visitou ilhas paradisíacas e conheceu sofrimentos de crianças e adultos no sertão brasileiro e em campos de refugiados da guerra do Vietnam.

Conheceu a seca, a fome e a miséria da África e do povo nordestino brasileiro. Viu sorrisos de crianças brincando nas margens do rio São Francisco e lágrimas nos olhos dos barranqueiros ao ver o leito do rio quase seco. Zé do Pedal visitou lugares que marcaram a história como as Torres Gêmeas de Nova Iorque, nos Estados Unidos, as Pirâmides do Egito, o Partenon de Atenas (Grécia), a Torre Eiffel, em Paris (França), o Taj Mahal (Índia), a ponte sobre o famoso Rio Kwai-Aí (Tailândia), a Torre de Pisa (Itália), e tantos outros lugares. Enfim, suas viagens foram grandes aulas de geografia, história e, principalmente, uma aula de vida.

Em todas essas viagens Zé do Pedal além de levar uma bandeira do Brasil fez questão também de ostentar o logotipo do Lions Internacional, o maior clube de serviço do mundo, do qual ele diz ter tido a honra de ter sido por duas vezes presidente do clube de sua cidade, Viçosa (MG). E não esconde a vontade de ser algum dia ser o governador do seu Distrito.

 Muitas histórias para contar

Zé do Pedal é recebido por comunidade indígena da reserva de Serra do Sol, em Uiramatã em Roraima, durante sua Caminhada Pela Acessibilidade


 Boas histórias é que não faltam na memória de Zé do Pedal. Ele conta que em sua caminhada para cruzar o Brasil de ponta a ponta, andava em média 12 horas por dia para percorrer entre 30 a 50 quilômetros.

A cadeira de rodas que empurrava também servia de mala, onde levava mapas, artigos de higiene pessoal, poucas peças de roupas e a bandeira da igualdade, da dignidade e do respeito. Vacinado contra a febre amarela, levava também meio litro de repelente para se proteger contra os mosquitos e um litro de protetor solar.

Ao cruzar por reservas indígenas ele conheceu uma bebida de alto teor alcoólico produzida a partir de mandioca. Ficou admirado com as belas cestarias, feitas de cipó titica e com fibra de arumã, produzidas pelos índios e bastante apreciadas por turistas brasileiros e estrangeiros.

 “Em todas as comunidades indígenas que chegávamos éramos recebidos com muito carinho pelos índios, bem como nas fazendas onde chegávamos, muitas vezes, já de noite, e sempre com boa hospitalidade”, lembra o ativista. Um dos momentos marcantes, na viagem que fez de carro, num Gol 86, para chegar até o extremo norte e iniciar sua caminhada, aconteceu no km 100, entre Boa Vista e Pacaraima. “Paramos para dormir na Igreja Assembleia de Deus e de manhã o pastor, Sávio Vanderley da Silva, ao ver o escapamento do carro solto, sem mais cerimônias, e em um grande gesto, deitou debaixo do carro para arrumá-lo. Isso  marca né!”.

Zé conta que praticamente todos os custos de suas expedições são bancados por ele mesmo. Mas que recebeu também muito apoio e ajuda de igrejas, católicas e protestantes, de alguns clubes de Lions, de empresários, amigos, algumas empresas patrocinadoras e de poucos políticos.

Ele foi homenageado pelo então governador do Lions, Raimundo Pantoja, com a medalha comemorativa referente aos 30 anos do Lions Clube de Boa Vista, em Roraima, onde também participou de reunião na Câmara dos Vereadores. Em Manaus foi recebido por companheiros do Lions e pode discursar na tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas para falar sobre suas propostas de acessibilidade a pessoas com deficiência física. Ele destacou em sua fala os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Banco Mundial que apontam para existência de cerca de 24 milhões de portadores de alguma forma de deficiência física. Isso, segundo ele, representa quase 14% da população brasileira.

 Problemas no caminho 

Zé do Pedal caminha debaixo de chuva na BR-174, em Roraima


Zé do Pedal comentou que em sua expedição Cruzada pela Acessibilidade o único problema encontrado ficou por conta do acostamento da BR-174, que em muitos pontos tem degrau com mais de 10 centímetros de altura. “A pista era muito estreita e quando alguém cometia alguma imprudência, obrigando o carro que vinha em direção contrária sair da pista de rolamento era capotamento na certa, muitas vezes com vítimas fatais”. As margens dessa rodovia estavam cheias de carcaças de carros acidentados, bem como imensa quantidade de lixo, principalmente latas de cervejas e refrigerantes.

 Quando realizou expedições para fora do Brasil Zé do Pedal teve muitos problemas nas fronteiras. Porém todos eles foram solucionados. De todos, o mais anedótico, com suave sabor político aconteceu ao chegar na fronteira com a Inglaterra. A polícia inglesa não o deixava entrar no país porque ele havia estado na Argentina, pois naquele tempo a Inglaterra estava em guerra com os argentinos por causa das Ilhas Malvinas. Depois de muitas horas, pode, com ajuda de jornalistas latinos em Londres, carimbar seu passaporte e entrar na Inglaterra.

Em 2020, Zé do Pedal tinha iniciado um novo projeto para percorrer diversos países no continente africano. Mas devido as restrições impostas pela pandemia do coronavírus foi obrigado a paralisar seu projeto de percorrer 12 mil quilômetros, em um kart, da África do Sul até ao Egito.

 Quem é o Zé do Pedal

Zé do Pedal discursa na tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas


 Nascido em Guaraciaba e cidadão honorário de Viçosa, o mineiro José Geraldo de Souza Castro realiza, há mais de 40 anos, inusitadas aventuras ao redor do mundo. Divorciado, pai de dois filhos, que lhe deram dois netos, aos 64 anos de idade ele nem se imagina parado, sem viajar.

Ele gosta de desbravar o mundo, conhecer novos lugares, gente nova e diferentes e o principal de tudo: poder sensibilizar as pessoas para promoverem ações solidárias.

Fotógrafo, técnico em turismo, ativista social, ambientalista e ciclista, Zé do Pedal é integrante do Lions Clube de Viçosa, onde por duas vezes ocupou o cargo de presidente, e hoje é o assessor para intercâmbio de jovens em seu Distrito. “Desde 2003 faço parte do Lions, onde me encontrei para poder realizar projetos sociais”, revela.   

O prefeito de Chuí, Renato Hernandes, ajuda Zé do Pedal a descerrar placa para marcar a chegada do mineiro na cidade

Ao chegar na cidade de Chuí (RS), Zé do Pedal foi homenageado até com um pequeno monumento em praça pública para registrar sua façanha de percorrer a pé os 10.700 quilômetros que separam os dois extremos brasileiros: norte e sul

Zé do Pedal sendo homenageado pelo então governador Raimundo Pantoja com a medalha comemorativa aos 30 anos do Lions Clube de Boa Vista (Roraima)

Mapa mostra o percurso percorrido na Caminhada Pela Acessibilidade

Zé do Pedal discursa na Câmara dos Vereadores de Chuí (RS), após concluir sua Caminhada Pela Acessibilidade com 10.700 quilômetros



Zé do Pedal é recebido defronte do Teatro Amazonas, em Manaus, por companheiros do Lions Clube da cidade 



Zé do Pedal atravessa região desértica no Marrocos

Bouizakarne, no sul de Marrocos, onde Zé do Pedal também passou

Zé do Pedal defronte a torre Eiffel, em Paris, na França

Zé do Pedal a caminho de Santiago de Compostela, na Espanha

Zé do Pedal desceu o rio São Francisco com um pedalinho

Zé do Pedal ao cruzar a fronteira na África do Sul
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  • Conheça algumas das expedições do Sé do Pedal
José Geraldo de Souza Castro, o Zé do Pedal, é um aventureiro por natureza. Em entrevista, por telefone, à Folha do Povo, ele contou ter nascido em Guaraciaba, cidade com cerca de 10 mil habitantes, na zona da mata de Minas Gerais. "Mas só nasci lá", informa. "Com apenas quatro meses de nascimento minha família se mudou para Viçosa, que considero como a minha terra natal".

Foi em Viçosa que ele fez sua vida como fotografo e agente de turismo. Escreve para alguns jornais locais e trabalha para algumas agências de turismo. Ganhou o título de Cidadão Honorário de Viçosa e ali presidiu, por duas vezes, o Lions Clube da cidade. Confira abaixo algumas das expedições realizadas pelo Zé do Pedal:
  • De Bicicleta até a Copa do Mundo (1981-1982)

Saindo do Rio de Janeiro, José Geraldo de Souza Castro atravessou a América do Sul, Central e do Norte, voou até a Inglaterra e foi pedalando pela Europa até a Espanha. Minutos antes da chegada dos jogadores para a Copa de 1982, ele chegou de bicicleta em frente à concentração da Seleção Brasileira. Este fato chamou a atenção de jornalistas do mundo inteiro, fazendo-o ganhar notoriedade. Foi neste momento que ele recebeu o apelido de Zé do Pedal.

 

  • Volta ao mundo de bicicleta (1983-1986)

Após retornar da Espanha, ele deciciu dar a volta ao mundo de bicicleta. Nesta viagem, divulgou uma campanha de combate ao Câncer nos 54 países pelos quais pedalou. O fim da aventura se deu no México, onde novamente assistiu a uma copa do mundo de futebol.

 

  • Japão em um velocípede (1985)

Zé Pedal decidiu cruzar o Japão, de ponta a ponta, em um velocípede, enquanto chamava a atenção da mídia para a condição das crianças na Etiópia.

 

  • Do Chuí à Brasília em velocípede (1987)

Após conhecer o mundo, Zé do Pedal decidiu viajar pelo Brasil. Optou, novamente, pelo velocípede, e cruzou o país do sul à região central para pedir aos políticos ajuda para as crianças do nordeste brasileiro.


  • América do Sul em uma motocicleta (1996)

 Em uma motocicleta, Zé do Pedal, percorreu oito países da América do Sul (Equador, Peru, Chile, Argentina. Uruguai, Brasil, Paraguai e Bolívia). Ganhou uma maratona em Lima, no Peru, e foi duas vezes vice-campeão de motociclismo, na modalidade 125cc no Equador (1990 e 1991).

 

  • Pedalando no Velho Chico

Depois de 12 anos morando no Equador, Zé do Pedal voltou ao Brasil e retornou sua vida de aventureiro do pedal. Viajou por todo o rio São Francisco, em um barco tipo pedalinho, de Três Marias (MG) até Piaçabuçu (CE). Nesta viagem, procurou chamar a atenção do país para a poluição do rio São Francisco.

 

  • Da Liberdade ao Cristo (2004-2005)

Saindo da estátua da Liberdade, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, Zé tinha o objetivo de chegar ao Rio de Janeiro, percorrendo a costa litorânea das Américas em um barco a pedal. Nesta aventura, buscava alertar a comunidade internacional para a poluição das águas do planeta. Entretanto, na cidade de Dzilam de Bravo, no México, 18 meses após a partida, sua embarcação sofreu danos irreparáveis ao enfrentar o furacão Rita, impedindo o término da viagem. Dos 23 mil quilômetros programados, pedalou cerca de 10 mil.

 

  • Zé do Pedal 50 anos (2007)

Na comemoração de seus 50 anos, construiu uma embarcação a pedal feita com garrafas pet, algumas barras de aço, e, um quadro de bicicleta encontrado em um lixão. Com ela, realizou uma inusitada travessia da Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, para chamar a atenção para a poluição das águas e a importância do Protocolo de Kyoto.

 

  • Extreme World (2008-2010)

Em kart a pedal, Zé do Pedal viajou da França até a África do Sul. Nesta aventura, de cerca de 17 il quilômetros, divulgou uma campanha internacional de combate ao Glaucoma e à Catarata, bandeiras defendidas pelo Lions, em países pobres.

 

  • Da Montanha ao Mar, um Rio de Esperança

Essa aventura foi ato de amor ao rio Doce. Saindo de Bento Rodrigues, município de Mariana (MG), percorrendo o leito do rio Doce até a sua foz, no município de Regência, no Espirito Santo.


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