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Hacker revela que pode ter acesso ao sistema, mas não à urna eletrônica porque ela não é ligada à internet

  

Hacker confirma que não é possível invadir a urna, mas afirma para deputado a favor do voto impresso de que é possível invadir o sistema que faz a totalização

Jair Viana, especial para a Folha do Povo

 Em vídeo produzido pelo deputado federal Filipe Barros (PSL), defensor do voto impresso, o hacker Marcos Ribeiro Correia da Silva, acusado de ter “invadido” o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela que é possível manipular o resultado de eleição. Na entrevista ao parlamentar, o hacker explica que não há como invadir a urna eletrônica por não estar conectada à internet. Mas afirma ser possível invadir o sistema que realiza a totalização.

 Na versão apresentada pelo hacker, o sistema do TSE pode ser vulnerável. E foi aproveitando-se dessa falha que ele e outros seis hackres conseguiram entrar no sistema e copiar dados de eleitores. Ele conta que os dados foram transmitidos a “outra pessoa”. Ele visitou o banco de dados dos eleitores com facilidade. “O streaming estava vulnerável”, segundo revelou o hacker.

 O streaming é uma tecnologia de transmissão de dados pela internet, principalmente aúdio e vídeo, sem a necessidade de baixar o conteúdo. Os dados não ficam em um servidor, mas no próprio computador.

 Pelas declarações de Marcos Roberto, é possível entrar no sistema, e, por exemplo, programar a votação dos candidatos de uma eleição. Ele disse ser possível adulterar o resultado. O hacker diz que foi “copiado” (identificado) pelas autoridades brasileiras e do Irã. Ele ainda revelou que hacker do Oriente Médio consegue entrar no sistema do TSE com facilidade.

 Para o hacker, não há dificuldade para invadir qualquer sistema. Ele disse que o ataque ao TSE, em 2020, não foi programado. Disse que sua ação foi motivada “por ativismo”.

 O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso tem insistido na tese da segurança da urna eletrônica para refutar argumentos contrários. Ele entende que o voto impresso proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), além de ser desnecessário vai custar caro para a sua implantação.

 O deputado Filipe Barros, relator da emenda do voto impresso, na sessão da Comissão que discute a proposta na Câmara, ganhou sobrevida ao conseguir adiar a votação para depois do recesso parlamentar.

Urna com impressora de votos foi usada em 2002 no Distrito Federal e em Sergipe


 Resposta TSE

 Ao ser consultado sobre o vídeo postado pelo deputado federal Filipe Barros com declarações do hacker que supostamente teria sido o responsável pelo ataque cibernético aos sistemas do TSE em 2020, a assessoria de imprensa do tribunal ressaltou que não houve qualquer vazamento de informações de eleitores, mas apenas de informações administrativas do órgão.

 “Os incidentes reportados, relativos a ataque a sistema online do TSE (pela técnica SQL injection) e tentativa de ataque de negação de serviço DDoS, foram divulgados pelo próprio TSE nas eleições de 2020 e são atualmente objeto de investigação pela Polícia Federal”, esclareceu nota da assessoria, assinada por Laura Gracindo, coordenadora de Imprensado TSE.

 “Diversamente do afirmado, não houve qualquer vazamento de informações de eleitores, mas apenas de informações administrativas do Tribunal”, afirma a nota. “Também é falsa a afirmação de que os incidentes ocasionaram o atraso na divulgação de resultados. Como já esclarecido, a lentidão maior que a esperada decorreu de falta de calibragem na inteligência artificial do novo equipamento adquirido para totalização”.

 Em relação às demais afirmações contidas no vídeo, a nota do TSE afirma tratar-se de “meras especulações, que demonstram desconhecimento sobre como funciona o processo de votação brasileiro”. “As urnas eletrônicas não têm qualquer conexão com a internet e imprimem o resultado da votação antes da transmissão de resultados ao TSE”, ressalta a coordenadora. “Portanto, mesmo na improvável hipótese de acesso indevido às redes da Justiça Eleitoral e violação de todas as diversas barreiras de segurança, não seria possível alterar os resultados da eleição impressos pela urna eletrônica. Esclareça-se, ainda, que os equipamentos nos quais são executadas as totalizações do país existem fisicamente no TSE, com acesso restrito”.

 Problemas

 Em matéria publicada no site da rádio Jovem Pan, a jornalista Giullia Checia Mazza ouviu diversos especialistas que afirmam que o sistema eleitoral brasileiro é confiável e que nunca existiu provas de fraude em urna eletrônica.

O advogado Fernando Neisser, especializado em Direito Político e Eleitoral, afirma que a realidade eleitoral hoje no Brasil se distância e muito do discurso do presidente da república. “Nunca existiu qualquer prova minimamente sólida de fraude ou alteração de votos em uma urna eletrônica no Brasil”, diz Neisser.

“Temos um histórico impecável de segurança. Apesar de parecer contra intuitivo, o voto em papel impresso não é o mais seguro. Qualquer pessoa que trabalha com computador, sabe que a impressora é a peça que mais dá problema. Quando esta peça para de funcionar, o que ocorre com frequência em outros países que adotam o sistema, a votação é travada e por vezes há o impedimento da continuidade nos serviços daquela urna. Isso fragiliza o controle de quem já votou e permite a perda dos votos registrados”, disse.

 De acordo com o cientista político Alberto Carlos Almeida, implementar o voto impresso inflaria o custo da Justiça Eleitoral. “A nossa Justiça Eleitoral já é uma fortuna: custa R$ 9m2 bilhões por ano”, esclarece, acrescentando que se adotar o voto impresso se pagaria por um sistema que não oferece maior segurança. “O custo da votação abrange uma série de serviços, como mobilização de sessões eleitorais, locais de votação, treinamento de mesários voluntários, que teriam de ter sua capacidade e seu valor, no mínimo dobrados, para comportar e entender o novo modelo, demandando mais de R$ 4,5 bilhões a mais de investimentos”.

 O jornalista Kenedy Alnecar disse pela rádio CBN que a proposta do presidente Jair Bolsonaro não passa de um capricho pessoal para querer tumultuar o processo eleitoral, acusando-o de querer imitar e fazer o mesmo “papelão” feito pelo ex-presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, que não queria deixar a Casa Branca, sede do governo americano.

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