Vacinação virou um dos
eixos de discórdia entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São
Paulo, João Dória. A queda de braço entre os dois sobre a suposta
obrigatoriedade da vacinação contra o coronavírus é “inoportuna” e
contraproducente”. Quem afirma são cientistas ouvidos pela agência BBC News no
Brasil e no Exterior. Eles lembram que, há anos, brasileiros e cidadãos no
mundo já convivem de forma tranquila com regras que colocam a vacinação como
condição para determinadas atividades, como por exemplo, embarcar em vôos para
viagens na maioria dos aeroportos, e isso passa longe de imposições violentas,
disputas políticas ou teorias de conspirações.
“Quando se fala que vai
ter vacinação obrigatória, muitas pessoas imagina uma cena com um agente de saúde,
acompanhado de um policial, entrando na sua casa com uma seringa na mão e
vacinando você a força, contra a sua vontade”, diz a pesquisadora Natalia
Pasternak, PhD em microbiologia e integrante da equipe Halo, uma iniciativa da
ONU que reúne cientista do mundo todo para aumentar o alcance da ciência. “Não
existe isso e não vai acontecer. Não é assim que as vacinas são tratadas em
países democráticos”.
Em quanto diversos países
da Europa, da Ásia, dos Estados Unidos muitos países vizinhos do Brasil já
deram inicio a seus programas de vacinação em massa, o tema se mantém como um
dos principais eixos de discórdia entre o governador paulista e o presidente da
República. O primeiro já defendeu publicamente a obrigatoriedade da imunização,
o segundo insiste que esta é uma decisçao individual e tem desdenhado das
vacinas.
O consenso entre cientistas é de que, mais do
que se falar em obrigatoriedade ou não, o momento pede campanhas claras de
informação pautadas principalmente pela transparência para que as pessoas
entendam a importância da vacinação como instrumento importante para se mudar a
trajetória destrutiva do coronavírus, que já matou mais de 1,8 milhões de
pessoas em todo o mundo. Só no Brasil foram mais de 210 mil mortes.
Desde 1970, quando se
institui a carteira de vacinação no Brasil, as pessoas se dirigem aos postos de
saúde para levar seus filhos para serem vacinados. “As pessoas se vacinam
porque é um direito delas, porque é dever do governo dar as vacinas e porque
elas são de graças para proteger suas famílias”, explica a cientista. “O
brasileiro sempre encarou a vacinação como um direito e nunca questionou se era
ou não obrigatória ou onde era fabricada. Isso nunca foi relevante”.