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José Eduardo, banqueiro que perdeu o banco na política


 
José Eduardo Andrade Vieira perdeu o banco Bamerindus depois que resolveu ingressar na política

A vida do ex-banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira deu um tremendo revertério depois que ele ingressou na política. Seu pai, Avelino Antônio Vieira, fundou em 1951, com outros sócios, o Banco Meridional da Produção, com apenas quatro agências, que transformou-se no Banco Bamerindus do Brasil, uma das maiores instituições financeiras da América Latina.

Antes de se tornar banqueiro, Avelino foi nomeado em 1933 pelo interventor do Estado prefeito de Tomazina (PR). Durante as décadas de 70 e 80, o Bamerindus chegou a ter mais de 1.300 agências e postos de serviços, além de seguros, leasing e títulos de empresas. O Zé do Chapéu, como era conhecido José Eduardo, sucedeu o pai, presidindo o banco entre 1981 e 1987. Ele assumiu precocemente a direção do banco após seus dois irmãos mais velhos terem morrido num acidente aéreo.

Eleito senador pelo Paraná após a redemocratização do País, foi ministro duas vezes. Primeiro no governo de Itamar Franco comandou o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo e depois, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Agricultura e Reforma Agrária.

José Eduardo sempre foi muito solicito e atuante na política. Fundou em Arapoti uma indústria de papel e celulose. E também se articulou para disputar o Governo do Paraná. Não obteve sucesso e lhe custou caro essa tentativa política. Seu banco entrou em crise. Gustavo Loyola, presidente do Banco Central, decretou em março de 1997 intervenção no Bamerindus. Parte do banco foi incorporado pelo o HSBC.

Dossiê levantado pelo Banco Central mostrou o volume milionário de empréstimos concedidos sem garantias a políticos e partidos quando o então banqueiro decidiu virar político. Entre esses empréstimos vultuosos estava o crédito concedido ao então deputado federal José Carlos Martinez, dono da tevê paranaense CNT. Em 1995, Andrade Vieira propôs que o Bamerindus fosse o primeiro anunciante da Rede Vida, pagando os anúncios antecipadamente para ajudar na construção do prédio da emissora.

José Eduardo não chegou a perder tudo o que tinha. Mas seu patrimônio e poder reduziu-se vertiginosamente. A esposa separou-se litigiosamente.  Ele terminou a vida cuidando do jornal “Folha de Londrina”, que havia comprado do fundador, João Milanez. A "Folha de Londrina", com tiragem diária de 40 mil exmplares, é até hoje o mais expressivo jornal do norte do Paraná. 

“Não quebrou, foi quebrado”

“O Bamerindus não quebrou, foi quebrado”, relatou, anos depois, durante reunião com alguns poucos amigos. “As autoridades monetárias da época, mesmo sabendo que eram falsos, nada fizeram para desmentir rumores de que o banco tinha problemas de liquidez”. Ele culpava que o governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, por ter sido responsável pela quebra da sua instituição.

O empresário Milton de Carvalho, dono da Hidraurio Materiais para Construção e presidente da Acomac (Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção) na região de São José do Rio Preto, trabalhou durante quase 10 anos no Bamerindus, onde foi gerente geral. Ele lembra com saudades dos tempos áureos do banco. “Era um banco de credibilidade e que tinha uma carteira enorme de clientes”, afirma, destacando que chegou a conhecer José Eduardo. “Como presidente da instituição era uma pessoa boníssima”.


Momentos marcantes

A vida de José Eduardo Andrade Vieira também foi marcada por momentos significativos na área política e econômica. Quando era senador e presidente do PTB saiu em defesa do deputado José Borba, do seu partido, afirmando que ele não poderia ser “sacrificado” por ter votado por outro colega na Câmara.

Durante entrevista coletiva a jornais, rádios e TVs, diante das câmeras e microfones ligados, Andrade Vieira disse que um deputado votar por outro “é um hábito comum na Câmara”. E disse que estava falando em “off” que o “pianismo” era muito comum entre os deputados. Lógico que a gravação foi levada ao ar por todos e ficou uma situação muito constrangedora e criticada para ele.

Faleceu no dia 1 de fevereiro de 2015, aos 76 anos, na cidade de Londrina, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Deixou sete filhos: Germano, Edson Luís, Alessandra, Tânia, Juliana, Claudio e Alexandre.

Um homem diferenciado

De acordo com a jornalista curitibana Ruth Bolognese, José Eduardo foi um homem incomum: “Nasceu rico, viveu por dinheiro, sacrificou-se pelo poder e morreu solitário”. Sob a aba do chapéu texano, agia com sabedoria e bondade. Quase sempre com lucidez e muitas vezes com ingenuidade.


 Foi, segundo a jornalista, que conviveu com ele durante quase 10 anos, o paranaense que mais ganhou dinheiro como presidente do Bamerindus, o terceiro maior banco do País na década de 90. Acumulou poder unindo dinheiro do próprio bolso e política, quando elegeu-se senador. Foi também o paranaense que mais perdeu dinheiro e poder ao retornar de Brasília para o Paraná. Foi para lá com os bolsos cheios, e voltou anos depois com os bolsos praticamente vazios e endividado.

“Do homem animado e cheio de planos para o País, transformou-se num pote de mágoas depois que perdeu o Bamerindus. Mas nunca falou em nomes, bem em quantias perdidas, nem em detalhes sórdidos que acompanharam as tenebrosas transações financeiras”, escreveu a jornalista, num tributo pós morte ao Zé do Chapéu, apelido que ganhou por ter usado sempre esse adereço na cabeça. “Ele guardou para si a decepção pela indiferença dos políticos paranaenses, a quem sempre havia doado dinheiro para as suas campanhas”.

Ruth, que o assessorou quando tentou se eleger governador, lembra que José Eduardo andava pra baixo e pra cima de avião, “mas nem prestava atenção na paisagem e nem no conforto”. Tinha planos para melhorar o Paraná e o Brasil. “Podia comer o que queria, mas nem se importava com os pratos que vinham à mesa: comia e pronto”.

"O tempo passa, o tempo voa”

“O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa”. Quem tem mais de 40 anos se lembra dessa propaganda. O banco Bamerindus foi imortalizado pela propaganda de sua caderneta de poupança. Esse jingle inesquecível era tocado, todos domingos, ao vivo, pelo conjunto do Caçulinha no programa “Domingão do Faustão”. E deixou o Bamerindus numa boa até o começo dos anos 90..
  
Propaganda da poupança Bamerindus, cujo jingle se tornou inesquecível para muita gente
José Eduardo com o seu tradicional chapéu texano, que lhe deu o apelido de Zé do Chapéu


Em entrevista na época que era senador da República e presidente do PTB

Falando ao telefone na época em que presidia o Bamerindus e o banco ocupava a terceira posição no ranking dos maiores bancos brasileiros

O Banco Bamerindus chegou a ter mais de 1.300 agências espalhadas pelo Brasil, sob a presidência do Zé do Chapéu

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