Professora Jurema Rodrigues é uma das idealizadoras e atual curadora do Centro de Memórias |
Nelson Gonçalves, jornalista da Folha2
A escola Philadelpho Gouvêa Neto completa 68
anos de atividades em 2024. Saltou, desde o início, de pouco de menos de 90
alunos para 2.200 estudantes. Passou por 13 denominações diferentes desde
quando começou a funcionar em 1956 num acanhado salão na Rua Antônio de Godoy,
3564, na área central de São José do Rio Preto.
No primeiro ano de atividades só tinha um curso,
de aprendizagem mecânica, destinado somente para rapazes. No ano seguinte foi instalado
um curso de economia doméstica, voltado para as moças que tinham concluído o
então curso primário nos grupos escolares.
Transformada em escola artesanal e depois como
escola industrial, em 1963 ela foi municipalizada. Em 1965 voltou a ser do Estado.
Em 1967 ganhou a denominação de ginásio industrial levando o nome de
Philadelpho Gouvêa Netto, em homenagem ao ex-prefeito que governou a cidade na
década de 1950.
Em 1971 ganhou cursos noturnos. Entre eles o de
técnico em edificações e neste mesmo ano passou a funcionar na avenida Brigadeiro
Faria Lima, 5541, no prédio da Fundação Regional do Ensino Superior da
Araraquarense (Fresa), onde hoje funciona o Ambulatório do Hospital de Base (HB).
O prédio foi especialmente adaptado para a escola.
“Assim que assumimos a escola a primeira coisa
que fizemos foi torna-la conhecida”, lembra Chafic. “O colégio era tão
desconhecido da comunidade que se pegasse um táxi, em qualquer parte da cidade,
e pedisse para levarmos até ele, não sabiam onde ficava. A escola era completamente
desconhecida da população”.
Para tornar a escola profissionalizante
conhecida, Chafic e Sanfelice envolveram todos os professores e funcionários e
iam fazer palestras, de escola em escola. “Montamos uma série de slides sobre o
ensino profissionalizante e levávamos um retroprojetor para fazer as palestras”,
informa Chafic, destacando que teve apoio de todos os jornais e emissoras de
rádio da cidade. “O apoio da imprensa foi fundamental”.
Com a ampla divulgação surgiram mais de 500
alunos interessados em se matricular na escola. Porém não havia professores e
nem espaço físico suficiente para abrigar todos os interessados. Recorreram
então às autoridades municipais e estaduais. Chafic e Sanfelice foram os
interlocutores, que desempenharam muito bem esse papel. A falta de professores
com conhecimentos técnicos para ensinar aos alunos foi solucionado com uma
simples estratégia. Os diretores foram buscar engenheiros e outros
profissionais junto a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), Telesp
(Telecomunicações do Estado de São Paulo) e Fepasa (Ferrovias Paulista S/A).
Nessa época a secretária da escola, Tamem Jamil
Cury, era irmã de José Barba Cury, então chefe de gabinete do prefeito Wilson
Romano Calil. “Tanto o Barba Cury, como o prefeito Wilson Romano Calil nos
apoiaram muito para conseguirmos a área e a construção do prédio na avenida dos
Estudantes”.
Wilson Romano Calil se comprometeu a fazer a doação
da área e a construir o prédio se o Estado ajudasse. Chafic recorda também ser grande
o interesse de outros prefeitos da região em levar a escola para suas cidades. “Olímpia,
por exemplo, era uma das cidades onde o prefeito da época fazia gestões para
levar a escola para lá”.
Depois de muito esforços, ida e vindas na
Secretaria da Educação em São Paulo, finalmente em janeiro de 1976 era dado início
as obras de 6.492 metros quadrados numa área de 13.156 metros quadrados no
Jardim Herculano. Chafic conta que a escolha do local foi feita por ele e pelo
professor Sanfelice. “Naquela época o aeroporto ainda não tinha sido construído
defronte a escola e queríamos uma área mais tranquila”.
A escola funcionou em prédio adaptado na avenida Brigadeiro Faria Lima, onde hoje situa-se o Ambulatório do Hospital de Base (HB) |
Prédio próprio na avenida dos Estudantes
Inaugurado em 1977, o prédio da escola Philadelpho foi fruto dos incansáveis diretores Chafic Balura e Clovis Sanfelice junto ao prefeito Wilson Romano Calil |
Em 1991 a escola foi transferida para
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. Dois anos
depois foi transferida para a Fundação Paula Souza, onde permanece subordinada
até hoje. Atualmente, segundo o diretor Márcio Teixeira, são oferecidos 12
cursos técnicos. A escola possui 160 professores e 2.200 alunos.
Na Galeria dos Diretores ainda faltam colocar a fotografia dos dois últimos: Rodrigo de Oliveira Medeiros e Leônidas Márcio Teixeira |
Nesses 68 anos, 17 diretores passaram pelo
comando da escola. Desde Wuillian Kfouri, o primeiro diretor, a Leônidas Márcio
Teixeira, recém empossado no cargo no dia 1º de fevereiro, três mulheres também
estiveram à frente da direção: Maria Carolina Cozenza Araújo (esposa do
ex-vereador Fernando Araújo, que ficou 15 anos na direção, de 1985 a 2000);
Iraci Duarte (2000); e Valéria Regina Donati Anguera (2008 a 2016).
Dado a
importância da escola, o professor Clóvis Sanfelice foi convidado para ser o
diretor regional de Ensino. E quando o prefeito Antônio Figueiredo de Oliveira
se elegeu convidou Sanfelice para ser o secretário da Educação. Como já estava
bastante enfronhado na Divisão Regional de Ensino, que ida desde Santa Adélia
até Santa Fé do Sul, Sanfelice declinou do cargo. A pedido do prefeito indicou
o professor Chafic para o cargo. “Tomei até um susto quando foi anunciado o meu
nome para ser secretário”, conta Chafic. “Eu não tinha nenhuma ligação pessoal
com o prefeito Toninho Figueiredo, quando fui convidado e anunciado para o
cargo”.
Em 1974 a direção das escola lançava um boletim informativo |
Centro de Memória da escola
Aparelho de mimeografo é uma das relíquias no museu do Centro de Memória da escola |
A
professora Jurema Rodrigues, que desde 2014 é a curadora do Centro de Memória,
entre o intervalo de uma aula e outra atendeu a reportagem da Folha2.
Apaixonada por histórias, ela enfatiza que as fotografias e os materiais estavam
corroendo e se deteriorando. “Foram todos higienizados, catalogados e
organizados por datas e arquivados em álbuns para compor o arquivo do Centro de
Memória”.
Ela conta
que descobriu, folheando documentos originais sobre a vida do patrono da
escola, que ele tinha outro prenome e que a grafia encontrada nas placas de
ruas e letreiros espalhados por todos os lugares da cidade é diferente da
original. “Na verdade ele chamava Manoel Philadelpho Gouveia Neto”, informa,
destacando que além do Manoel o “Gouveia” do sobrenome tem a letra “i” e a
palavra “Neto” está escrito nas certidões com apenas uma letra “t”. “Creio que
alguém achou que ficava mais chique escrever com duas letras ‘t’ e assim ficou ‘Netto’
da forma como encontramos hoje”.
Periodicamente,
a fim de manter viva a memória da escola, é realizado encontros entre
professores e alunos com ex-alunos e ex-professores da escola. Nos últimos anos
já ocorreram dois encontros. O primeiro aconteceu em 2012, quando foi
inaugurado o Centro de Memória, e o segundo em 2017 para marcar o lançamento de
um livro que resgata a memória das escolas técnicas mais antigas do Estado. “Num
desses encontros esteve presente a viúva do Wilson Romano Calil, que foi o
prefeito que batalhou muito para a construção do prédio da escola”.
O professor Chafic Balura, ex-diretor e um dos responsáveis pela projeção da escola, elogia o trabalho da professora Jurema. “O trabalho de preservação de memória que ela fez na escola Philadelpho Gouvêa Netto é de tirar o chapéu e merece os nossos aplausos”, afirma.
A importância de um curso na escola Philadelpho
Um depoimento
importante sobre os cursos da escola Philadelpho foi dado no começo dos anos
1990 pelo então vereador Gilberto Barbosa. Em entrevista para o jornal “A
Notícia”, Gilberto contou que cursou quando jovem o curso de técnico em
edificações e posteriormente concluiu o curso de Direito na Fadir (Faculdade de
Direito de Rio Preto). Ele afirmou que tudo que tinha construído na sua vida, a
constituição de sua família com a formação de seus filhos com curso superior,
bem como a compra do terreno e a construção da sua casa própria devia ao seu diploma
como técnico em edificações.
“Ganhei mais dinheiro fazendo plantas de casas de até 120 metros quadrados do que ações na função de advogado”, contou ao jornal Gilberto. Explicou que para a confecção e aprovação de plantas de até 120 metros quadrados nas prefeituras não era, naquela época, necessário a contratação de engenheiro. “E foi aí que ganhamos dinheiro. Varava madrugadas desenhando essas pequenas plantas”.
Na mesma
época, o professor Arnaldo Cecconi divulgava na imprensa o concurso para a
seleção dos alunos na escola Philadelpho. Teve um ano, na década de 1990, que os
cursos de técnico em edificações e de início à informática foram mais
procurados do que as vagas na Faculdade de Medicina..
Máquina de escrever Remintgon. Olha o tamanho do cursor da máquina... |
Um dos primeiros exemplares de um microcomputador faz parte do acervo do museu |
Máquina de calcular fabricada na Alemanha em 1938 |
Aparelho retroprojetor utilizado para a projeção de slides |
Mesa de comutação utilizada para as ligações telefônicas |
Máquina antiga de somar, que utilizava bobinas de papel |
Serviço:
Centro de Memória da ETEC
Philadelpho Gouvêia Netto Avenida dos Estudantes, 3278, Jardim Aeroporto. CEP 15035-010 – São José do Rio Preto Horário de Funcionamento: Das 8h às 11h, das 14 às 17h e das 18h às 20h30 Entrada Franca |